Médicos agrupam orientações específicas para o período de isolamento social imposto pela crise.
Operar agora ou não? Eis a questão que preocupa pacientes com diagnóstico já confirmado de câncer ou de diversas outras doenças e que precisarão passar por uma cirurgia. Considerando que muitas consultas e exames eletivos foram suspensos temporariamente para evitar a aglomeração de pessoas e prevenir a propagação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), a lógica também pode valer para as cirurgias. Pelo menos esta é a orientação seguida pelos médicos do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), que têm se utilizado da telemedicina para orientar os pacientes quanto a esta e outras questões durante o período de isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19.
Os médicos sabem que uma internação, realização de uma cirurgia, suas possíveis complicações, além do prolongamento da internação, aumentam a exposição e o risco de contrair o coronavírus. Por isso, só estão submetendo à cirurgia os casos realmente necessários. O adiamento de cirurgias também cumpre, neste momento, o objetivo de liberar leitos para quando o número de casos da Covid-19 aumentar no estado. Por esta razão, a orientação geral dos cirurgiões do IBCR é a de que aqueles pacientes com tumores de crescimento mais lento ou câncer em suas fases muito iniciais podem ter sua cirurgia postergada, levando em consideração que aguardar de 2 a 3 meses para submeter o paciente à cirurgia não vai mudar seu prognóstico, ou seja, suas chances de cura. Já para pacientes com tumores mais agressivos, a conduta deve ser individualizada.
Segundo o cirurgião oncológico do IBCR, André Bouzas, na presença de sintomas importantes, sangramento, risco de obstrução ou quando existe a possibilidade real de mudança do prognóstico, a cirurgia deve ser realizada. “Em situações em que há a possibilidade de realizar quimioterapia antes da cirurgia ou já existe indicação desse tratamento após a cirurgia, essa modalidade de tratamento deve ser preferida à cirurgia, deixando para realizar o procedimento após a pandemia do Covid-19”, destaca o especialista.
Teleconsultas - Para pacientes que estão sendo acompanhados após a realização de cirurgias, que precisam voltar com regularidade ao seu médico, tendo em vista a recomendação de isolamento social, “é totalmente aceitável e prudente a realização de teleconsultas. A mesma orientação vale para pacientes de primeira vez com diagnóstico já estabelecido por biópsia positiva para câncer. No entanto, neste caso, a avaliação não será completa, pois não se consegue realizar o exame físico do paciente, o que pode limitar o estadiamento (avaliação do estágio do tumor) completo em alguns casos. Nesse sentido, a teleconsulta pode servir de ponto inicial para definir a necessidade de mais exames e agendamento de uma consulta presencial”, explicou André Bouzas.
O médico acrescentou, ainda, que para pacientes com diagnóstico definido por biópsia e estadiamento completo, mesmo que já tenham indicação de tratamento cirúrgico, mas queiram ouvir uma segunda opinião, a teleconsulta também tem uma boa aplicação. “Na avaliação de um caso para se confirmar uma conduta, a telemedicina pode servir, inclusive, para que dois ou mais médicos discutam o caso e entrem num consenso (teleinterconsulta)”, destacou. Para pacientes com sintomas clínicos mal definidos ou com queixas específicas, sem diagnóstico ainda estabelecido, a teleconsulta apresenta limitações, pois o exame físico, de fundamental importância, não poderá ser realizado. Neste caso, o mais recomendado seria a consulta presencial.
Critérios bem definidos - O combate ao Covid-19 como prioridade do momento exigiu dos médicos do IBCR uma articulação rápida para montar critérios bem definidos para cada especialidade médica que integra o Instituto. Na área da ginecologia, por exemplo, as teleconsultas estão tendo prioridade, como explica o cirurgião ginecológico Marcos Travessa: “no caso de pacientes que já passaram pela primeira consulta, tiveram indicação de tratamento cirúrgico e ficaram pendentes de retorno para avaliação de exames e com outros especialistas, fazemos a avaliação dos exames e as consultas remotamente, já que através de plataformas digitais podemos tirar dúvidas sobre o procedimento e agilizar o processo burocrático para dar entrada na cirurgia”, explicou.
O médico acrescentou que as consultas online também estão orientando e ajudando a reduzir a ansiedade de pacientes com mioma, adenomiose, endometriose e outras doenças ginecológicas benignas que não tiveram orientação ou que necessitam de segunda opinião, receita de medicação e solicitação de exames. Pacientes que passaram pela primeira consulta de revisão cirúrgica presencial e que estão com dúvidas relacionadas ao pós- operatório ou que tenham patologias ginecológicas e necessitem de algum tipo de aconselhamento em relação a que serviço procurar também estão se valendo da telemedicina neste momento. “Em qualquer momento em que seja aventada a real necessidade do exame físico, a paciente é orientada e encaminhada a uma consulta presencial. Há casos específicos em que, realmente, não é possível abrir mão deste contato direto com a paciente”, frisou Marcos Travessa.
As consultas dos médicos do IBCR por vídeo são feitas através da plataforma escolhida pelo paciente - além do WhatsApp, algumas outras opções são FaceTime e Zoom. Antes da consulta online, todos os exames já realizados são enviados eletronicamente. Após avaliação, os médicos conversam com o paciente olho no olho. Tudo é registrado em prontuário eletrônico e as receitas são assinadas digitalmente e enviadas para o paciente.
Assessoria de Imprensa:
Cinthya Brandão