Wania Eloisa Ebert Cechin é médica formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo há 33 anos (desde 1986) com especialização em pediatria e neonatologia realizada no Hospital da Criança Conceição em POA (desde 1989).
Mestre em Ciências da Saéde (2003) e Doutora em Cardiologia e Ciências Cardiovaculares (2013) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Exerce atividades profissionais como Preceptora da Residência Medica de Pediatria do HSVP – UFFS, como professora do Internato Médico de Pediatria da UPF e nos atendimentos em consultório médico.
Ama o que faz! Acompanhar o crescimento e desenvolvimento das crianças dentro de um contexto familiar assim como trabalhar com acadêmicos de medicina e residentes de pediatria é muito gratificante para Doutora Wania. Wania se sente muito feliz e realizada na profissão, atuando com muito zelo e dedicação.
Tem 56 anos, casada com o médico psiquiatra Edson Machado Cechin e tem dois filhos: Igor, também médico e ortopedista em formação e Gabriel estudante de medicina. Preza muito pela nossa família e bem-estar de todos. Declara-se apaixonada por atividades físicas, dentre elas, a corrida de rua e o ciclismo. Aprecia muito uma alimentação saudável e a preservação da natureza.
Em entrevista ao site, expõe toda sua paixão e realização na profissão, bem como seus esforços para estudar e estar sempre atualizada na medicina, também em tempos da Pandemia do Covid 19.
NEIPIES: Por que escolheste ser médica e qual a razão de ter escolhido a pediatria como especialidade?
DOUTORA WANIA: A escolha pela profissão surgiu na adolescência acredito que por influência familiar já que meus dois irmãos mais velhos também são médicos. A decisão por ser pediatra veio durante a faculdade ao cursar a disciplina de pediatria e o internato medico, vendo o exemplo dos professores como pessoas carismáticas, responsáveis e com valores éticos.
Senti-me atraída por “cuidar de crianças” e principalmente por me tornar uma médica que seria responsável pelo bem-estar da criança, desde a fase da concepção até à adolescência e que poderia acompanhar o seu crescimento e desenvolvimento durante essa fase da vida.
NEIPIES: Quais são os impactos da Pandemia do Covid 19 na sua rotina como pediatra e professora universitária?
DOUTORA WANIA: Em função das medidas de contenção da pandemia, estamos nos adaptando a um novo modelo de atendimento com o intuito de diminuir a velocidade de transmissão e sobrecarga nos sistemas de saúde.
As atividades acadêmicas de forma presencial e o internato médico foram suspensas. As aulas e discussões de casos passaram a ser de forma não presencial.
Continuamos estudando muito sobre essa nova doença e elaborando protocolos próprios para atendimento de crianças no HSVP (Hospital São Vicente de Paulo) com fluxo diferenciado, quando apresentam sintomas respiratórios.
Os atendimentos em consultório diminuíram consideralvelmente e a procura são aqueles casos estritamente necessários. Houve liberação pelo Conselho Federal de Medicina para uma nova modalidade de atendimento não presencial: a telemedicina, focada mais em protocolos e sistemas. E estamos todos nos adaptando a essa nova situação.
NEIPIES: Quais são os maiores riscos a que estão expostos nossas crianças e adolescentes?
DOUTORA WANIA: A grande maioria as crianças e adolescentes apresentam formas assintomáticas, leves ou moderadas da doença.
No entanto, no final do mês de abril, a Sociedade de Pediatria do Reino Unido emitiu um alerta reportando a identificação de uma nova apresentação clínica em crianças e adolescentes, possivelmente associada com a COVID-19.
Os pacientes apresentaram uma síndrome inflamatória multissistêmica com manifestações clínicas e alterações dos exames similares às observadas a síndrome de Kawasaki e/ou síndrome do choque tóxico.
Nos Estados Unidos, até o dia 17 de maio, já haviam sido descritos mais de 100 crianças e adolescentes (entre 1 e 21 anos de idade, sendo mais de 50% deles entre 5 e 14 anos), hospitalizados por manifestações clinicas e alterações laboratoriais compatíveis com síndrome de Kawasaki .
Todos apresentaram febre, mais da metade apresentou lesões de pele, dor abdominal e diarréia, sendo que as manifestações respiratórias foram raras. Foram registrados três óbitos. Em 90% dos casos foi possível confirmar a infecção pelo vírus. (COVID 19) Os casos ocorreram dias ou semanas após, sugerindo que esta síndrome inflamatória pode ser uma complicação tardia da infecção.
Embora esses casos descritos tragam preocupação em relação a uma característica nova, aguda e grave da COVID-19 em crianças e adolescentes, vale ressaltar que tais ocorrências foram raras até o momento. Na nossa cidade não ocorreram casos de doença grave nas criancas até o momento.
NEIPIES: Quais são os riscos da volta às aulas em nosso Estado e, especialmente, em nossa cidade, (considerados o alto número de infectados e a alta taxa de letalidade de pessoas pelo Covid) para as crianças e adolescentes, bem como para toda a população? Que cuidados devemos tomar para proteger nossas crianças e adolescentes, bem como a população de modo geral?
DOUTORA WANIA: Como as crianças e adolescentes estão sendo poupadas das formas graves da doença, vários estudos têm demonstrado que elas também são infectadas. Tossem, espirram, compartilham brinquedos e alimentos sem maiores cuidados.
Apesar de até o momento não termos acumulado evidências que demonstrem o real papel das crianças na transmissão da doença, devemos reconhecer que a suspensão das atividades escolares, implementadas em nossa cidade e estado e também em quase todos os países do mundo, acabaram limitando a possibilidade de que se conhecesse esse papel das crianças na cadeia de transmissão da doença.
Com o retorno das atividades escolares, é importante que cada escola adote medidas para prevenir a infecção em alunos, pais, professores e funcionários. Os pais devem ser orientados a não levarem seus filhos à escola ao menor indício de quadro infeccioso, seja febre, manifestações respiratórias, diarreia, entre outras.
As medidas de distanciamento social devem ser mantidas na escola, com o objetivo de diminuir o grande número de pessoas no mesmo espaço, reduzindo, assim a possibilidade de contágio.
Em um primeiro momento, o número de alunos por sala, sempre que possível, deverá ser reduzido e os alunos podem ser divididos em grupos que se alternem entre a atividade presencial e à distância, de acordo com as disciplinas curriculares.
O estabelecimento de ensino deve se organizar para que cada turma tenha o intervalo entre as aulas em horário diferente de outras turmas, assim como estabelecer horários de entrada e saída escalonados, evitando aglomerações.
Em relação ao transporte escolar, é necessário avaliar o número de usuários, para que se preserve a distância recomendável entre as pessoas também no veículo.
As medidas de higiene devem ser postas em prática na escola bem como o uso obrigatorio de máscaras. Cada estudante deve trazer sua própria garrafa de água, utilizando os bebedouros comuns apenas para enchê-las novamente.
A escola deve proceder a limpeza de seus ambientes pelo menos uma vez ao dia e, mais frequentemente, das áreas de maior circulação de pessoas, assim como dos objetos mais tocados (maçanetas, interruptores, teclados, etc.).
E, por fim, a escola é um espaço de formação e de exercício de cidadania e, neste momento, deve buscar cumprir seu papel, inclusive como promotora da saúde, com segurança e responsabilidade.
NEIPIES: Que orientações a Senhora, como pediatra, daria a familia de crianças e adolescentes para atravessar esse momento critico?
DOUTORA WANIA: Nesse momento, cabe a família manter um ambiente equilibrado com redobrada atenção para higiene e distanciamento social. A família deve se organizar para a continuidade das aprendizagens escolares, atentando para as necessárias adaptações de suas rotinas.
O trabalho dos professores e o esforço das escolas não devem ser criticados negativamente.
O eventual amadorismo dos materiais produzidos e apresentados no ambiente virtual pelos professores e professoras durante essa pandemia e a falta de planejamento são esperados na situação atual. Isso está acontecendo com praticamente qualquer outro setor da sociedade e representa uma vitória sobre a inércia, o pânico e o desânimo.
NEIPIES: Como a Senhora vê o mundo no pós pandemia?
DOUTORA WANIA: O mundo está aprendendo uma nova maneira de aprender. E devemos nos fortalecer com isso.
Nei Pires