Crônica: Minha Lixeira de Plástico

thumbnail foto Rodrigo Alves de Carvalho

Sempre tive uma admiração por todo tipo de lixeira. Em minha cidade vários tipos foram instaladas nas ruas para que moradores e turistas depositassem seus dejetos em locais apropriados e não nas ruas e calçadas.

O grande problema de lixeiras públicas é o fato que vândalos sempre tem o prazer de destruí-las por nada. Lembro-me que, certa vez foram colocadas lixeiras de concreto em vários pontos das ruas principais. Era inevitável a cidade acordar com os pedaços dos concretos ao chão, devido a marteladas, pauladas e até tiros.

Isso foi me causando revolta. Sempre defendi a boa higiene e a limpeza em locais públicos. Não suporto ver tocos de cigarros jogados no meio da rua que tenho o impulso de catá-los e depositá-los em locais apropriados. Até mesmo chego a guardá-los no bolso para depositá-los na cesta de lixo de minha casa se for preciso.

Com esse intuito, decidi salvaguardar as lixeiras de minha cidade. Ninguém mais se atreveria a danificar o objeto crucial da limpeza em minha urbe.

Toda noite saia para as ruas no ímpeto vivaz de defender a todo custo as lixeiras de meliantes causadores do caos sujo e pestilento que é o vandalismo.

Uma lixeira localizada próxima a um clube da cidade, que em tempos de outrora havia sido a mais danificada por delinqüentes embriagados que saiam do clube em noites fervorosas de muito álcool e imbecilidades, era a mais protegida de todas as outras lixeiras.

Sentia por essa lixeira de plástico certo apreço, talvez pelo motivo de ser a mais usada pela juventude com suas latinhas de cerveja e refrigerantes, por seus papéis picados e até mesmo por vômitos acidentais.

Estava motivado a defendê-la, a lutar por ela, a dar minha vida se fosse preciso para que nada acontecesse a essa lixeira.

Lembro-me que travei várias lutas com adolescentes transviados e cheguei a condenar uma turma de jovens a trabalhos comunitários por estarem tentando danificar a lixeira em questão.

Como toda aproximação gera paixão. Exagerei em minha apegação à lixeira. E já com sentidos combalidos, passei de protetor a vingador.

Para mim, a lixeira não mais existia como guardiã do lixo alheio e sim como objeto de minha própria limpeza. Dessa forma, não mais permitiria que pessoa alguma depositasse seu lixo em minha estimada e protegida amiga.

Sem alternativas, os causadores da sujeira urbana passaram a jogar seus dejetos em vias públicas, principalmente em frente ao clube da cidade.

Para mim nada importava, a não ser a limpeza de minha lixeira, bonitinha como ela só.

E foi assim que hoje vivo aqui nesse hospício. Limpinho, diga-se de passagem, mesmo que meus companheiros sejam uns porcos imundos. Mas isso não me abala. Estou contente, tenho minha lixeira de plástico a meu lado. Deixaram trazer comigo.

 

Por Rodrigo Alves de Carvalho

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.


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