Diário da Pandemia

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Este 12 de abril, domingo de Páscoa, amanheceu o dia mais lindo do ano, com muito sol e aquela luz única de Lisboa. Uma vontade de sair, passear, mas não arredamos pé de casa, pois com o coronavírus de espalhando, precisamos conter a sua proliferação não favorecendo o contágio. Há que se ficar em casa. É uma pena, pois hoje teríamos passeios fantásticos, nesta cidade linda que é Lisboa. Mas, mesmo assim, é uma das Páscoas mais felizes de nossas vidas. É a Páscoa com Rio, nosso neto, que completou um ano anteontem. Ele é uma lufada de ar fresco, a personificação da alegria, um raio de luz, uma companhia que nos faz feliz o tempo todo. Então é uma Páscoa das melhores que já tivemos e só temos a agradecer por tudo. Acho que nesse quarto andar do nosso edifício aqui no Chiado só estamos nós, são só dois apartamentos por andar, então estamos muito à vontade. Não sei o vizinho de baixo o que está achando, mas procuramos não exacerbar nossa alegria.
 
De manhã, ou lá pelo meio da manhã, que não acordamos cedo hoje de novo, um coelhinho veio nos acordar. Eu já estava acordado, olhando o correio e o Zap, mas a vó ainda não, pois domingo é sagrado para ela. Mas este é um domingo especial, um domingo de Páscoa. E o coelhinho Rio veio trazer a Páscoa para nós. Rio significa renovação, renascimento, liberdade, tudo o que a Páscoa significa. E estávamos precisando de uma Páscoa, de um Rio, porque nestes tempos de pandemia, precisamos nos reciclar, nos renovar, renascer, reaprender a viver. Como o Menino que nasceu e morreu, mas ressuscitou e foi para o Pai. Por nós. Então precisamos ficar em casa por nós e por todos.
Precisamos sair melhores desta experiência dantesca, precisamos nos tornar mais humanos, mais solidários, melhores. Então vamos nos libertar de todo preconceito, de toda maldade, de todo ranço que certamente temos e nos renovarmos. Seremos capazes? Precisamos ser.
 
E Rio nos está ajudando nisso. Então conviver com ele nos torna melhores, torna nossos dias mais leves, mais felizes e não fica difícil cumprir o isolamento, ficar em casa, procurar não facilitar a propagação do vírus virulento.
 
É bom ficar com ele, brincar, rir, descobrir coisas novas junto com ele, pois nossos filhos foram bebês há um bom tempo e a gente nem se lembrava mais de como era. E Rio nos traz também isso de volta. E Rio faz coisas novas todos os dias. Então brincamos muito, hoje brincamos de coelho e ele, que não come nem doce nem salgado, hoje experimentou um pedacinho de chocolate e anteontem, no aniversário dele, experimentou um pedacinho de brigadeiro. Surpreendeu-nos, à tarde, depois de comer a fruta dele, colocando um meio limão que estava sobre a mesa, perto dele, na boca, sem nem fazer careta. Aí colocamos um pouquinho de suco de limão numa colher e demos a ele achando que ele ia rejeitar, mas qual! Ele encarou sem fazer careta. No dia do aniversário dele, deus os primeiros três passinhos sozinho, foi uma festa. Não é pra ser feliz?
 
Hoje não li jornais, pois domingo não existe mais jornal impresso, e ver televisão não tá dando mais, então aproveitei para fazer duas ou três lições de francês e ler um pouquinho. Preciso terminar de escrever meu livro de contos e o outro de crônicas sobre a minha terra, Corupá, o Vale das Águas, a Cidade das Cachoeiras, que fica no norte de Santa Catarina, ao pé da Serra do Mar, mas hoje não é dia para isto. Feliz Páscoa para todos.
 
Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 40 anos em 2020. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.brhttp://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br

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