A agropecuária será a catalisadora da retomada do crescimento economico no pós-pandemia

Eduardo Salles 250x300

Neste cenário de incertezas em que vivemos atualmente, a agropecuária, assim como ocorre há anos, tem garantido a segurança alimentar que permite, mesmo em um dos momentos mais nebulosos da história, a estabilidade necessária para evitarmos o caos social e planejarmos como será o nosso país e o mundo após a pandemia causada pelo novo coronavírus.

Não há nenhum adjetivo que eu use para descrever esse momento causado pela pandemia que não me torne repetitivo ou comentarista do óbvio. Apesar de muitos estudos sérios estarem em andamento, é impossível afirmar, com clareza, quando o mundo voltará à normalidade sanitária e econômica.

O inimigo atual da humanidade não tem ideologia, credo, preferência racial e estrato social. Nada do que enfrentamos até hoje possuiu a capacidade de afetar a saúde e a economia mundial em tão larga escala. Previsões estimam em 2020 uma retração superior a 5% no PIB nacional, o que seria a maior de nossa história republicana.

Enquanto milhões de brasileiros ficam em casa para achatar a curva de crescimento da disseminação do novo coronavírus, outros tantos seguem a rotina de trabalho no campo para levar alimentos à mesa e outros produtos essenciais à prateleira de supermercados e lojas.

A redução do movimento nas grandes cidades neste momento de pandemia contrasta com o vai e vem nas propriedades rurais para entregar mais uma grande safra. Na Bahia, Estado com 56 milhões de hectares, estado eminentemente agropecuário, centenas de municípios ainda têm, na mais variada escala, suas economias em movimento em função da produção rural.

Isso permite que a agroindústria, as lojas que comercializam produtos agropecuários, concessionárias de caminhões e tratores, postos de combustível, borracharias, vendedores de insumos e toda a cadeia produtiva mantenham centenas de milhares de empregos ativos e gerem receitas aos municípios e ao Estado.

No Brasil, conforme a CONAB, os produtores de milho devem colher 102 milhões de toneladas na próxima safra. O volume de soja será de 122 milhões de toneladas, enquanto o algodão a estimativa é recorde, com 2,88 milhões de toneladas da pluma.

Ainda conforme a CONAB, a previsão é que o Brasil exporte 113 milhões de toneladas em grãos, o que significa a entrada de divisas para o país e a manutenção de milhões de empregos neste momento de crise.

Somos o maior exportador de proteína animal do mundo, o que é mais um ativo fantástico à economia nacional, temos um polo de fruticultura diversificado, com mercado espalhado em todo o planeta e produtos com alta qualidade e a horticultura possui um amplo mercado interno.

É verdade que há setores em que houve retração com a pandemia, como a cadeia produtiva leiteira, especialmente os laticinistas, que viram suas vendas despencarem com o fechamento de bares, lanchonetes, restaurantes, hotéis, pousadas e outros estabelecimentos que recebiam o produto, o etanol, por causa da queda abrupta do preço do barril do petróleo, a fruticultura, em função da dificuldade de escoamento da produção ao exterior por causa da diminuição na oferta de transporte, e as flores.

O alimento é um bem essencial e diversos países do mundo, por diferentes motivos, terão que importar mais produtos agropecuários do Brasil, consolidando o setor como um dos maiores ativos para a recuperação da economia nacional.

As exportações dessas commodities permitirá a entrada de dólar e, com a atual desvalorização do Real frente à moeda americana, somada à baixa inflação desse momento, representa uma significativa entrada de divisas ao país.

Há seis anos, mesmo sob intensa crise política e econômica, é a agropecuária o setor que mais gera postos de trabalho no país, permitindo que os números de desemprego não sejam mais catastróficos.

Enquanto vemos diversos setores numa grave crise e com previsões sombrias para a manutenção de empregos em função do distanciamento social imposto para evitar a disseminação do novo coronavírus, a cadeia produtiva da agropecuária tem sido responsável por manter muitos postos de trabalho ativos e será a catalisadora para a retomada da agroindústria, da indústria, do comércio e do setor de serviços.

Acredito que podemos ter duas frentes de trabalho neste momento de crise: aqueles que cuidam de preservar o máximo de vidas humanas e os que tomam medidas para diminuir os estragos na economia. Ambos os trabalhos são fundamentais e não se contrapõem.

Portanto, é fundamental que a agropecuária, pelo potencial que tem para ajudar a recuperação da economia nacional, seja ouvida pelos governos municipais, Estadual e Federal e não sofra nenhuma ação, mesmo com a melhor da intenções, que cause problemas no abastecimento da população ou ofereça risco à manutenção dos empregos.

Sentar à mesa, ouvir as entidades representativas do setor e encontrar soluções negociadas continua sendo a melhor fórmula para permitir que a agropecuária mostre sua pujança e permita ao nosso país sair da crise econômica o mais rápido possível.

Eduardo Salles é engenheiro agrônomo e mestre em engenharia agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, ex-secretário de agricultura da Bahia e ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (Conseagri). Foi presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia e também da Câmara de Comércio Brasil/Portugal e é, há 14 anos, diretor da Associação Comercial da Bahia. Ele escreve neste Política Livre quinzenalmente, às quartas-feiras.


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