A pesquisa Datafolha da última semana animou os petistas em todo o Brasil. E serviu como uma injeção de ânimo ainda maior para o PT da Bahia, onde o partido completa um ciclo de 16 anos no poder em 2022. É a aposta do chamado “efeito Lula”, que em 2006 virou a maré para garantir a vitória de Jaques Wagner contra o candidato à reeleição Paulo Souto (DEM). Luiz Inácio Lula da Silva é um puxador de votos por essas bandas e aliados e adversários têm noção disso. Tanto que haverá um esforço grande para tentar não nacionalizar a disputa baiana por parte do principal adversário do petismo: o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto.
Apresentado como nome do grupo político de Rui Costa para suceder o atual chefe do Executivo, Jaques Wagner larga em vantagem na corrida. Cumpriu dois mandatos bem avaliados, fez um sucessor que trilhou o mesmo ritmo e ainda mantém Lula como uma espécie de “padrinho”. Não é maior do que o ex-presidente, porém no âmbito local é uma das poucas figuras com o mesmo status dele. Então vai vincular o próprio nome ao do ex-presidente, quando o petista-mor tentará um terceiro mandato no Planalto.
Os aliados do petismo na Bahia também reconhecem essa ascendência de Lula na eleição local. Tanto que um dos nomes mais fortes desse segmento, o senador Otto Alencar (PSD), foi um dos primeiros a falar publicamente que apoiaria uma virtual candidatura do ex-presidente assim que ele recuperou os direitos políticos. Além de senso de oportunidade, Otto sabe fazer uma leitura coesa sobre o cenário que se rascunha para a disputa. Ainda mais em um contexto em que o próprio Otto é candidato à reeleição e deve estar na chapa com Wagner.
Do tripé de apoio a Rui, falta apenas o Progressistas se manifestar. Todavia, uma declaração recente de Mário Negromonte Jr. sobre a relação da legenda com gestões de diferentes matrizes ideológicas é um sinal claro do governismo intrínseco aos correligionários: “O que a gente busca, na verdade, é dar governabilidade a qualquer governo que esteja", disse Negromonte Jr. Caso se desenhe mais uma vitória do PT na Bahia, já se sabe em qual barco o PP estará.
Resta ao opositor do grupo, ACM Neto, tentar se desvencilhar da eleição nacional. Sem um candidato competitivo para chamar de seu, o ex-prefeito de Salvador deve tentar construir musculatura para um integrante do DEM, como Luiz Henrique Mandetta, ou até mesmo se alinhar com Ciro Gomes e o PDT. Isso em meio a um esforço para controlar o seu entorno para não aderir ao bolsonarismo e reeditar o segundo turno de 2018, quando acabou por embarcar na candidatura de Jair Bolsonaro para não optar pelo adversário histórico, o PT. Ou seja, ou “desfederaliza” o pleito ou Neto pode não ter o desempenho que almeja.
Lula tão bem numa pesquisa apenas dois meses após recuperar os direitos políticos é um feito e tanto. E mesmo que estejamos tão longe das urnas, o petista se torna favorito, no mínimo, ao segundo turno. E, de quebra, ainda dá um empurrãozinho extra para aliados. Wagner agradece. ACM Neto com certeza não.
por Fernando Duarte BN/Foto: Alessandro Dantas/PT-SF