Com protocolos bem definidos, médicos se adaptam à Covid-19 e voltam a operar.
Com as devidas adaptações ao “novo normal”, diversas cirurgias eletivas, que estavam praticamente paralisadas nos últimos meses devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), voltaram a ser realizadas nos hospitais da capital baiana. Se até há pouco, apenas cirurgias de emergência estavam autorizadas, a partir dos últimos dias, procedimentos eletivos, com prioridade para os oncológicos e mais urgentes, também passaram a ser oferecidos nas redes pública e particular. Entre as medidas adotadas para dar segurança aos pacientes e profissionais, em obediência a protocolos muito bem definidos por cada unidade de saúde, destaca-se a triagem de pacientes com suspeita de Covid-19.
A redução dos atendimentos eletivos, justificada pela necessidade de dar prioridade ao tratamento da Covid-19, associada ao temor do contágio, provocou uma drástica redução no número de consultas, exames e cirurgias. O impacto disso, infelizmente, foi a morte de muitas pessoas em casa ou o agravamento de quadros de saúde pela falta da devida assistência médica. Para o coordenador do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), urologista Nilo Jorge Leão, a retomada é importante sobretudo nos casos em que a espera pode implicar em riscos para o paciente. “Há casos de pacientes uro-oncológicos, por exemplo, que não podiam mais aguardar, já que tumores tratados em estágio inicial têm chances de cura muito maiores”, frisou o especialista.
Ele admite que a pandemia de Covid-19 continua a todo vapor. “Na Bahia, ainda vivemos o platô do pico, ou seja, possivelmente já ultrapassamos o dia do maior número de casos e maior número de óbitos diários, mas ainda não estamos vivenciando um decréscimo significativo. Já existem alguns indícios de redução, mas de maneira geral, ainda há muita contaminação. Neste cenário, há muitas cirurgias eletivas atrasadas, inclusive oncológicas e cardíacas, as quais demandam celeridade no procedimento. Por esta razão, a retomada das cirurgias eletivas nos hospitais onde o IBCR atua não podia ser adiada por mais tempo”, explicou Nilo Jorge Leão.
Segurança em foco - Na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), um dos locais onde o médico trabalha, as cirurgias oncológicas pelo SUS estão a todo vapor, pois já estava havendo prejuízo no tratamento de alguns tipos de câncer. Nos hospitais privados, os casos em que o adiamento poderia causar prejuízos aos pacientes estão sendo priorizados. Em todas as unidades, há protocolos para rastreio de contágio pela Covid-19 nos pacientes que vão se submeter à cirurgia eletiva, principalmente as oncológicas.
“Nos Hospitais São Rafael, Aliança (HA) e Cardiopulmonar (HCP), ambos da Rede D’Or, por exemplo, tem sido exigido o exame RT-PCR para detecção da Covid-19, além da tomografia de tórax antes do procedimento cirúrgico. Na rede pública, não há disponibilidade desses exames para todos. O que se faz é uma triagem de sintomas e a orientação de que os pacientes façam isolamento por 14 dias antes de se submeter à cirurgia, além de testes como aferição de temperatura e anosmia (verificação de olfação). Nos casos suspeitos, o exame para detecção de Covid-19 é realizado”, explicou Nilo Jorge Leão.
O urologista e cirurgião conta, ainda, que em Hospitais como o Aliança e o Santa Izabel, as cirurgias oncológicas e outras que não podem aguardar mais do que quatro semanas estão sendo autorizadas com relativa normalidade. “Nessas unidades, a tomografia do tórax e o PCR são realizadas duas horas antes da cirurgia. Obviamente, quando o paciente testa positivo para a Covid-19, a cirurgia eletiva é adiada”, destacou. No São Rafael, a princípio, estão sendo operados os pacientes que não podem aguardar mais do que 15 dias. Caso tivessem que aguardar mais tempo, a efetividade do tratamento poderia ficar comprometida. Vale destacar que devido à redução dos atendimentos ambulatoriais nos últimos meses, o número de cirurgias ainda está reduzido. “Não tenho dúvidas de que a demanda reprimida é grande e que nos próximos meses teremos um número crescente de procedimentos”, concluiu o médico.
Ascom: Cinthya Brandão/Entrevista sugerida: Dr. Nilo Jorge Leão