Em entrevista ao Bahia Notícias publicada nesta segunda-feira (17), Araújo revelou pela primeira vez que deve seguir o PDT em qualquer decisão que o partido tomar no estado. A legenda de Ciro Gomes (PDT) é a favorita para indicar a vice de Bruno Reis (DEM) na capital. “Caititu fora do bando é comida de onça”, definiu Araújo sobre o movimento.
Com negociações em andamento para integrar a base de ACM Neto na capital, o presidente do PL também abriu o que pensa sobre a articulação política mais distante que o governador Rui Costa (PT) adotou no segundo mandato. “O PL continua na base, embora o tratamento recebido não é o que esperávamos. O governador deve ter suas razões e entendemos. O que estamos fazendo é tocando a vida. O governador é um grande gestor, mas deixou a política à margem do processo”, disse.
Sobre as eleições de 2020, o presidente comparou Rui a um técnico que tenta ganhar o jogo aos 45 do segundo tempo e disse que não pretende lançar um candidato a prefeitura de Salvador: “Procuramos o governador há mais de um ano para discutir a candidatura de Lázaro. Pedi interferência de Otto Alencar, mas o governador não se sensibilizou e não me recebeu. Agora entendo que perdemos o timing”.
O deputado José Rocha citou a possibilidade de uma reunião na última sexta-feira para definir os destinos do PL. A reunião ocorreu?
Você acredita em Papai Noel? Eu sou o presidente do PL da Bahia. Estou na estrada para Morro do Chapéu e essa reunião nunca foi agendada, nunca aconteceu. O presidente do partido sou eu e nenhuma convocação de lideranças e deputados foi feita.
Como o PL está se organizando no interior do estado para 2020?
Estamos bem estruturados. Tivemos algumas dificuldades porque o PL teve uma mudança no estatuto e passou a se chamar Partido Liberal, voltou a ser Partido Liberal. Fizemos essa mudança na Justiça Eleitoral e isso dificultou, de alguma maneira, o interior. A pandemia fez com que alguns diretórios não conseguissem regularizar o partido com o novo nome junto à Receita Federal que fechou diante da epidemia e da necessidade de isolamento. Mas estamos bem estruturados. Vamos ter candidatura em mais de 220 municípios, principalmente nas grandes cidades. A expectativa é de fazer 40 prefeitos na eleição deste ano.
Como fez o PT, o PL vai limitar algum tipo de coligação no interior?
Não. O PL coliga com todos os partidos. Apenas nos 30 maiores municípios, as coligações precisam passar pelo crivo do diretório estadual e do diretório regional.
O partido vai apresentar candidatura própria em Salvador, como foi sondado pelo governador Rui Costa?
Não vamos apresentar candidatura própria. Tínhamos um candidato muito forte, muito competitivo para a disputa em Salvador que é Irmão Lázaro. Ele é um grande quadro. Com isso em mente, procuramos o governador há mais de um ano para discutir as eleições em Salvador e em outros municípios e também para falar sobre Lázaro. Pedi intermediação de Otto Alencar, que é minha testemunha, mas o governador não se sensibilizou e não me recebeu. Agora entendo que perdemos o timing de fazermos um candidato a prefeito forte. O PT poderia vir na vice com Irmão Lázaro. Seria uma boa chapa. Mas o tempo foi passando e o PL foi escanteado. Outros deputados procuraram o diretório nacional e o deputado federal Abílio Santana se articulou com Bruno Reis. Esse é o cenário atualmente. O governador mandou me chamar para conversar recentemente. O governo só agora disse ter interesse de ter o PL do seu lado. Estou tentando ver uma forma de ficarmos juntos, mas acho difícil. Não é justo com os deputados e com o próprio Lázaro.
Como candidato a vereador, Lázaro vira opção para a presidência da Câmara Municipal de Salvador?
O PL gostaria muito que Lázaro fosse candidato a vereador. Não sabemos ainda se candidato a presidente do Legislativo, pois nosso partido não tem tradição de eleger vereadores na capital. Quem temos hoje é o vereador Isnard Araújo, que tem sempre 15 mil votos na capital. Acredito que, com Lázaro e Isnard candidatos, temos condições de eleger de 4 a 5 vereadores. Para a eleição da presidência da Câmara, acredito que o primeiro biênio é naturalmente cedo para Irmão Lázaro e temos na casa Geraldo Jr. trabalhando nesse sentido. Mas no segundo biênio, Lázaro pode entrar na disputa.
O partido pode se dividir, caso o PL decida apoiar Bruno Reis em Salvador?
O partido tem presidente. Se o deputado José Rocha quer ficar com o candidato do PT, ele é um dos nossos deputados e pode ter suas predileções. Agora, quem dirige o partido estadualmente é José Carlos Araújo e em Salvador é o deputado federal Abílio Santana.
O PL aguarda o PDT para definir definitivamente a ida para a base de Bruno Reis na capital?
Me dou muito bem com o presidente do PDT, Félix Mendonça Jr. Temos trabalhado e conversado muito, não só em Salvador, como sobre outros municípios. É possível que a gente possa tomar uma decisão conjunta em Salvador e em outros lugares do estado. É tudo sobre um ditado popular: “caititu fora do bando é comida de onça”. Juntos, seremos mais fortes.
Se apoiar Bruno Reis, o PL vai entregar os cargos no governo do estado?
Essa decisão cabe ao governador Rui Costa. Nossa vontade é grande de continuar na base do governador, mas ele é dono da caneta. Ele é um homem justo e não nos cabe nenhuma responsabilidade. Na minha visão, qualquer atitude que for tomada, não é culpa nossa. O governador deixou o PL e o PDT muito soltos para querer construir qualquer decisão em Salvador aos 45 minutos para conversar.
Querendo apoiar o candidato de ACM Neto e ficando na base de Rui Costa, o PL não teme a pecha de partido governista?
Em hipótese nenhuma. Apoiamos Jaques Wagner no segundo mandato e o governador Rui Costa no primeiro mandato e na sua reeleição. A nossa vontade é continuar com o governador e participar juntos nas eleições de 2022. Caso ele não queira, paciência, a nossa vontade é manter essa aliança.
Como foram os dois últimos anos de relação com Rui?
O PL continua na base, embora o tratamento recebido não seja o que esperávamos. O governador deve ter suas razões e entendemos. O que estamos fazendo é tocando a vida. O governador é um grande gestor, mas deixou a política à margem do processo, como em Salvador. Ficamos à margem e só fomos chamados para discutir política aos 45 minutos do segundo tempo. O que é muito difícil para qualquer técnico que quer ganhar uma partida. Não é sábio arrumar uma forma de entrar em campo na prorrogação.