Criador do Mídia Periférica, o ativista social Enderson Araújo mobilizou seus amigos, parceiros e colaboradores em uma grande rede de solidariedade.
Nascido e criado em Sussuarana, bairro da periferia de Salvador, o jovem Enderson Araújo, 29, ganhou visibilidade ao criar, em 2010, o Mídia Periférica, um veículo de comunicação alternativo que se empenhou em mostrar o potencial da periferia. “Nós temos uma atuação de dez anos com o Mídia Periférica, e há algum tempo realizamos ações humanitárias, levando cultura e ampliando seu acesso às pessoas da periferia, tanto crianças, como jovens, adultos e idosos”, conta Enderson, que ampliou sua atuação de uma comunicação de empoderamento para intervenções na área social.
O projeto cresceu e não só deu voz à periferia como também rendeu prêmios (Laureate Brasil), abriu portas, e criou uma importante rede de colaboradores, amigos e parceiros.
“Com o início da pandemia, e a falta de informação sobre a gravidade do vírus e as formas de prevenção, não sabíamos ao certo como faríamos para contribuir e agir positivamente para ajudar as pessoas mais vulneráveis. Mas vendo a situação cada vez mais crítica das famílias, com o fechamento do comércio, a perda de empregos e de trabalhos informais já precarizados, eu tinha certeza que não podia ficar de braços cruzados.”
Foi assim que Enderson mobilizou seus amigos e acionou a rede de colaboradores, parceiros e empresários que ele sabia estarem sensibilizados com a situação de crise enfrentada. A partir daí surgiu a Chamada Solidária, uma campanha de arrecadação e distribuição de alimentos e água mineral para famílias em vulnerabilidade e pessoas em situação de rua.
Junto com as cestas básicas, também eram distribuídos kits de higiene feminina.
Enderson explica que a Chamada Solidária foi uma adaptação de outra campanha, a Primeira Chamada, que ele realizou por dois anos consecutivos no mês do seu aniversário, janeiro. Seus amigos foram convidados a lhe presentear com kits escolares que foram doados para os adolescentes e jovens da periferia. “Mas 2020 deu uma sacudida na gente”.
Ao longo do ano, a Chamada Solidária distribuiu 23 toneladas de alimentos, 4200 quentinhas e mil litros de água mineral.
“Depois de um tempo na rua, percebi que as pessoas não estavam alegres com a nossa presença por causa da comida, mas com a nossa presença de fato, de olhar pra eles e enxergá-los como seres humanos de direitos, de ouvirmos suas necessidades e buscarmos solução para elas, ou, no mínimo, ter empatia.”
Apesar de estar focado na distribuição de alimentos, o grupo também arrecadou e doou roupas, sapatos e brinquedos.
Na semana das crianças, a Chamada Solidária distribuiu em Sussuarana 200 kits compostos por caderno de desenho, lápis de cor, salgadinho, suco, achocolatado, guloseimas e brinquedos. “Essas ações representam muito do que eu não tive na infância”. Foi realizada também a distribuição de kits de saúde bucal e aplicação de flúor em crianças da Sussuarana.
Em junho, a Chamada Solidária foi para Amargosa, município famoso por suas tradicionais festas juninas. “No São João, as pessoas vão para o interior do estado para se divertir e visitar os familiares. Essas pessoas movimentam a economia local e geram renda. Mas com a pandemia, como ficam as famílias nesses municípios que tradicionalmente vivem dessa renda?” Foi para responder a essa angústia que Enderson mobilizou seus amigos e arrecadou 250 cestas básicas para doação naquele município.
”Nós somos essa ponte, entre as pessoas que podem e querem ajudar, e as pessoas que precisam de ajuda.”
Em dezembro, a Chamada Solidária realizou a ação Natal do Sertão, com o objetivo de arrecadar cestas básicas e água mineral para doação às famílias carentes no município de Chorrochó, distante cerca de 500 km da capital. O grupo esteve no município e vivenciou algumas das principais dificuldades enfrentadas pelas famílias no semiárido baiano. Em menos de um mês a Chamada Solidária arrecadou 220 cestas básicas e 500 litros de água mineral para o Natal do Sertão.
“Foram muitas dificuldades, até as 23h do dia 21 de dezembro não tínhamos conseguido o caminhão para o transporte dos alimentos. Nossos parceiros foram fundamentais para realizarmos essa ação. Na noite de Natal estávamos fazendo a nossa última entrega, e uma das mais simbólicas para mim. Estávamos realizando o sonho de uma senhora de ter uma ceia de natal. Ao final, nós desabamos, de emoção, cansaço e principalmente, felicidade. Aquele era o resultado da visita que fizemos àquelas famílias um mês atrás”.
Enderson fala que o projeto agora é formalizar o Mídia Periférica, para que de fato ele possa abarcar seus projetos sociais e campanhas.
Para conhecer mais o projeto, e fortalecer essa rede de solidariedade, acesse a Chamada Solidária no instagram @chamadasolidaria