A pandemia do coronavírus chegou, no início do ano, avassaladora, mortal, inclemente, atingindo o mundo todo e, aqui no Brasil como em outros tantos países, entramos em quarentena, ficamos em isolamento, em confinamento. Ficamos em casa por mais de dois meses, na tentativa de evitar a contaminação e a proliferação da nefasta covid 19, só saindo para ir ao supermercado e à farmácia, de março a maio, quando o relaxamento ou desconfinamento começou, acontecendo em etapas para ver se continuava ou retrocedia, conforme o comportamento das pessoas, do povo, e do vírus. E o retrocesso na volta ao funcionamento da economia e consequente saída para a rua de quem precisava trabalhar e pagar contas, fazer compras, foi inevitável e todos precisam continuar a se cuidar, pois a curva da pandemia continuou a subir. E ainda está subindo, apesar de alguns dizerem, neste quase final de julho, que chegamos ao pico. E cuidar-se significa sair de casa tanto menos quanto possível, usar máscara fora de casa, lavar as mãos frequentemente, usar álcool gel e obedecer ao distanciamento físico – ou social.
Então o que fazer, o dia inteiro dentro de casa, durante a pandemia? É preciso que nos ocupemos, pois temos muito tempo e logo nos primeiros dias de confinamento a gente consegue fazer tudo o que havia para fazer em casa: limpar, consertar coisas, fazer modificações, decorar, enfeitar, adequar, organizar, cozinhar, fazer pão, bolo, etc. Depois de tudo isso feito, certamente o que temos pra fazer é ler, ouvir música, assistir filmes e séries, televisão – que fica mais intragável agora, com as más notícias, mas há como se encontrar um ou outro canal que apresenta concertos de música clássica, peças de teatro gravadas, shows de músicas de todos os tipos. E há ainda a internet, onde podemos ter inúmeras lives ao vivo, filmes, shows, jogos, etc.
E o que fica evidente, ao verificarmos as opções que temos para ocupar nosso tempo em época de reclusão, é que não há outro jeito senão apelarmos para a arte. O que é a literatura, a música e o canto, o cinema, o teatro, senão arte? É a arte que nos está salvando de enlouquecermos, de afundarmos na depressão, de morrermos de solidão. É a arte que vem nos socorrer, ao nos dar momentos de prazer na leitura de um bom livro, ao assistir um bom filme, um bom documentário, um bom show, uma boa peça de teatro (ainda que gravada), ao ouvir boa música, seja qual for o gênero que apreciamos. É arte que está nos ajudando a nos manter sãos, ajudando a manter a nossa saúde mental, em meio à situação tão trágica. E arte é cultura. E arte é vida. Como estamos cuidando da arte e da cultura em nosso país? Como cuidamos dela no passado, antes da pandemia?
É triste ver a falta de valorização da arte, de apoio à arte, à cultura, pelos donos do poder, e isso não é de agora, deste tempo de pandemia, já vem num crescendo, de há muito tempo. Agora, então, durante a pandemia, o problema é muito mais grave. Músicos, atores, cantores, técnicos que atuam nos bastidores de espetáculos diversos, quase todos estão parados, pois as atividades que juntam pessoas, seja para atuar ou pasra assistir, estão suspensas, proibidas. Os músicos têm tentando resistir, fazendo lives na internet, mas é difícil cobrar pela sua arte (trabalho) oferecido. O que se pode fazer é pedir que o espectador contribua com o que puder ou achar que é justo.
Não podemos esquecer, nunca, que a arte foi nosso porto seguro nesta pandemia. Não podemos esquecer o valor da arte, que nos mantém lúcidos e sensíveis, vivos, numa situação tão extrema. É a literatura, a leitura de um bom livro que nos mantém firmes na direção de um futuro possível. É a música que nos eleva a alma, que a deixa mais leve. E um bom filme pode fazer com que exercitemos a nossa sensibilidade e a nossa emoção, assim como a literatura e a música. A arte salva.
Então, obrigado aos músicos, cantores, atores, diretores, escritores e todos os técnicos e todos aqueles envolvidos em espectáculos e lives, editores de livros, de jornais, etc., que quase se equiparam aos heróis que estão na frente de risco para defender nossa saúde, nos hospitais. Imensos agradecimentos a vocês que estão fazendo das tripas coração para manter a arte viva, apesar de tudo.
Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 40 anos em 2020. [Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br