A classe média afivelou as malas. Vai fazer uma longa viagem e não sabe se volta (isso, se puder retornar!).
Ela parte deixando para trás a ilusão que pertencia a elite e que imitando hábitos e trejeitos de uma casta superior poderia posar de rica.
Se despede do apartamento de três quartos financiado na zona nobre da cidade. Na garagem fica o carro bacana com as prestações atrasadas. Adeus ao sonho de ver o filho formado fazer uma pós-graduação no exterior.
Ela embarca com a incerteza de adquirir a aposentadoria e sem saber se vai continuar a pagar o plano de saúde da família.
Esse momento exige desapego dos mimos das grifes importadas, dos jantares creditados nos cartões, das viagens internacionais.
A viagem de agora é pra 'não sei pra onde'.
A classe média tem um semblante de esposa traída, bem pior, o ex-marido já mantinha um casamento oficial, anterior ao dela. Muito duro. Difícil de acreditar.
A classe média perdeu a voz, o ímpeto, a arrogância. Hoje anda disfarçada e correndo das câmaras de tv, das postagens indignadas nas redes sociais. Sumiu das ruas e das sacadas.
A classe média se despede levando apenas duas coisas na mala: uma camiseta da seleção brasileira e uma panela.
Good bye
por Chico Buarque de Holanda