Sei que esse não é o lugar adequado para confessar uma coisa dessas, mas não aguento essa angústia que consome dia após dia e por isso decidi me abrir com os fiéis leitores.
É com uma grande parcela de culpa e também de vergonha que confesso a vocês que acabei pulando a cerca.
Mas antes que todos me apedrejem com as pontudas pedras da indignação e intolerância preciso expor meus motivos.
Preciso ao menos abrir meu coração para acalentar a magoa que o austero e implacável leitor possa sentir pela minha humilde pessoa.
Desde o nosso nascimento até a beira do adeus definitivo somos bombardeados por emoções e sensações que fazem parte de nossa história pessoal.
Aprendemos a sentir amor e bem-querer por várias coisas e pessoas. Aprendemos a lidar com emoções boas que nos fazem bem e também emoções ruins que nos deixam para baixo.
Quando chegamos a uma determinada idade nos interessamos por coisas que nos fazem bem, nos chama a atenção, nos cativa. A partir daí buscamos a felicidade e principalmente a fidelidade entre as partes.
Pulei a cerca porque fui infiel!
Pronto falei!
Entretanto, as coisas não são bem assim. Tenho certeza que o gentil leitor vai me dar razão ao ler minhas sinceras explicações.
Continuando o que estava divagando, sentimos várias emoções em nossa caminhada por esse mundo e quando a visão magistral da beleza nos cativa, perdemos a cabeça e cometemos erros com àqueles que estão ao nosso lado.
Peço desculpas se alguém acabou prejudicado ou magoado, mas minha pulada de cerca foi inevitável.
O incontrolável tomou conta de todos os meus sentidos por aquela visão alegre naquela ensolarada manhã de domingo.
Eu estava caminhando no sítio de um amigo de longa data e ao vê-la magnífica do outro lado da cerca, não aquentei e pulei.
Confesso que não me arrependo.
Pulei a cerca do sítio do vizinho para chegar àquela carregada mangueira para roubar as maravilhosas mangas Coração de Boi madurinhas.
Tudo bem. Cometi um ato impensado, posso ter traído a confiança de meu amigo, posso ter traído a confiança do vizinho, mas pulei a cerca com gosto e fiquei com o rosto amarelado de tanto comer manga.
Por Rodrigo Alves de Carvalho
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.