Crônica: A cachaça do Papai Noel

thumbnail foto Rodrigo Alves de Carvalho

Num botequinho da cidade, alguns pingaiadas conversam e bebem ao anoitecer da véspera de Natal. 

- Meu filho pediu uma bicicleta pro Papai Noel. 

- Minha filha pediu uma boneca que fala. 

- Eu pedi uma garrafa de cachaça! 

Silêncio no boteco, seguido de gargalhadas ébrias. 

- Mas Tião! Você não tem filhos! 

- Eu sei. A garrafa de cachaça é pra mim. 

Mais gargalhadas. 

- Nossos filhos escreverem cartas pedindo presentes para o Papai Noel tudo bem. Mas você Tião... Você está na casa dos cinquentas anos! 

- E Daí? Também tenho direito de ganhar presente. Esse ano me comportei bem, trabalhei muito, não arrumei encrencas nos botecos, não briguei com a minha esposa em casa. Tudo o que fiz foi tomar minha pinguinha no final da tarde e ir para casa descansar. 

Um dos bêbados caiu da cadeira de tanto rir (e também porque estava bêbado, é claro). 

- Escuta Tião... É sério... Você acredita em Papai Noel? 

- É Claro que acredito! Vai me dizer que vocês não acreditam? 

As risadas eram tantas que teve bêbado que acabou passando mal e foi levado às pressas para o hospital tomar glicose. 

Tião furioso com total desdém pagou a conta e foi embora para casa. 

Quando já era madrugada no Natal os amigos cachaceiros perambulavam pelas ruas na procura de algum outro boteco que ainda estivesse aberto. Ao passarem em frente à casa de Tião não acreditaram no que viram. 

Em cima do telhado da casa estava estacionado um bonito trenó repleto de luzes coloridas; puxando o trenó estavam as renas voadoras descansando e balançando o rabo. 

Imediatamente os cachaceiros adentram na casa e encontram Papai Noel e Tião em efusiva alegria tomando goles generosos da cachaça presenteada.  

Enquanto na cozinha, Zuleica, mulher de Tião, fritava uns torresmos de tira-gosto e cantarolava alegremente “Noite Feliz”.  

 

Por Rodrigo Alves de Carvalho 


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