Hiperplasia Prostática Benigna pode ser diagnosticada através de toque retal e exames de sangue e imagem.
Quando a vontade de fazer xixi várias vezes ao longo do dia e da noite começou a incomodar o servidor público aposentado Marcus Vinicius Rodrigues (65), ele procurou um urologista, que rapidamente identificou a causa do problema: Hiperplasia Prostática Benigna (HPB). No início, ele tomou um medicamento para retardar o crescimento da glândula, mas como os efeitos impactavam negativamente sua vida, ele saiu de Itabuna, onde mora no sul da Bahia, e deslocou-se para Salvador, a fim de se submeter a uma cirurgia laparoscópica na esperança de resolver definitivamente seus problemas. O procedimento surtiu efeitos positivos e depois de passar por fisioterapia urológica, tudo voltou ao normal, inclusive as ereções.
Segundo o paciente, era muito ruim acordar três vezes toda noite para urinar. Além disso, às vezes, quando estava dirigindo, ele tinha que parar o carro antes de chegar ao seu destino para esvaziar a bexiga, pois não dava para esperar. “Passei por uma cirurgia tranquila em que não senti dor e tive alta no dia seguinte. Fui muito bem assistido. O que me incomodou um pouco foi a bolsa para coletar urina, que usei por 10 dias no pós-operatório. Quando tirei, tive dificuldade em controlar a urina, mas o urologista que me operou recomendou fisioterapia urológica. Obedeci e após dois meses me recuperei completamente. A ereção e o sexo voltaram ao normal. Me sinto bem em relação à próstata, bebo muita água e o xixi está normal, até quando tomo minha cerveja”, relatou.
O urologista Augusto Modesto, responsável pela cirurgia realizada no Hospital São Rafael, explicou que a HPB é uma condição caracterizada pelo aumento do tamanho da próstata, estimulado pela presença do hormônio testosterona, que ocorre durante toda vida no sexo masculino. Quanto mais velho o homem, mais tempo sua próstata teve para crescer. Aos 40 anos, 10% dos homens já têm uma próstata aumentada de tamanho; aos 50 anos, esse número salta para 50%; após os 80 anos, mais de 80% da população masculina apresenta HPB. O crescimento benigno da próstata nada tem a ver com o câncer de próstata, ao contrário do que muitos imaginam.
Sintomas - O aumento da próstata não é um problema em si. Porém, como ela está anatomicamente localizada junto a algumas estruturas do trato urinário, o aumento da glândula comprime a uretra e atrapalha a saída da urina. Os primeiros sinais são a perda de força do jato urinário e a necessidade de urinar frequentemente. Outros sintomas comuns são dor ou dificuldade para urinar; infecção urinária; cálculo de bexiga; insuficiência renal, nos casos de grave obstrução; e disfunção erétil (impotência), quando ocorre compressão dos nervos que controlam a ereção.
A vontade frequente de urinar ocorre porque a bexiga não consegue se esvaziar completamente. O não esvaziamento completo da bexiga faz com que um grande volume de urina fique represado, favorecendo o crescimento de bactérias em seu interior. Nos pacientes com hiperplasia benigna da próstata, há sempre um “reservatório” de urina para as bactérias se reproduzirem. Não é de se estranhar, portanto, que a infecção da bexiga (cistite), rara em homens jovens, seja um problema relativamente comum em idosos.
Conforme a próstata cresce, mais comprimida fica a uretra, até o ponto de haver completa obstrução da passagem da urina. A urina que não é drenada se acumula nas vias urinárias, podendo chegar até os rins, caracterizando um quadro conhecido como hidronefrose. Se não for corrigido rapidamente, este problema pode causar insuficiência renal grave, com necessidade de hemodiálise de urgência. Quanto mais tempo os rins ficam obstruídos e cheios de urina, menor é a chance de recuperação após a desobstrução do fluxo. Após 7 a 10 dias de hidronefrose, começam a surgir lesões irreversíveis dos rins, fato que pode levar o paciente a permanecer dependente de hemodiálise.
Diagnóstico - O Antígeno Prostático Específico (PSA), marcador de doença prostática colhido através de análises de sangue, eleva-se na HPB, nas prostatites e, principalmente, no câncer de próstata. Pacientes com PSA baixo raramente têm câncer. Quando o valor do PSA é intermediário, o diagnóstico mais provável é a HPB, mas o câncer de próstata não pode ser descartado. PSA alto indica alto risco de câncer, mas também é possível que seja prostatite ou até mesmo apenas hiperplasia. Outro exame importante para identificarHPB é o toque retal. Quando realizado por médico experiente, este procedimento permite identificar se o aumento da próstata é uniforme, ou seja, causado pela HPB, ou localizado, causado por um tumor.
O ultrassom transretal também permite uma boa visualização da próstata, além de calcular o seu tamanho e volume, ajudando a detectar nódulos suspeitos. Já o ultrassom abdominal permite calcular o volume de urina na bexiga e avaliar sua capacidade de esvaziamento. Também é possível ver os rins e diagnosticar eventuais obstruções graves que estejam causando hidronefrose. Se após a realização de todos esses exames, o câncer continuar sendo uma hipótese, faz-se necessária a realização da biópsia da próstata para se fechar o diagnóstico.
Tratamento - Pacientes que apresentam HPB diagnosticada em exames de rotina e não têm queixa ou sinal de obstrução urinária podem ser acompanhados regularmente sem tratamento específico. Se houver aumento da próstata e sinais de obstrução moderada das vias urinárias, geralmente o tratamento indicado é feito com medicamentos que diminuem o tamanho da próstata. “Quando a obstrução das vias urinárias é grave ou quando o tratamento com medicamentos não tem sucesso, uma cirurgia pode ser necessária”, explicou o urologista Augusto Modesto.
A ressecção transuretral da próstata (RTUP) é atualmente o procedimento cirúrgico mais frequentemente utilizado para tratar a hiperplasia prostática. Neste procedimento, retira-se todo o interior da próstata, deixando apenas a parte externa. Se a próstata não for muito grande, uma cirurgia possível é a incisão transuretral da próstata (ITUP), semelhante a RTUP, que só retira uma pequena parte de tecido da próstata, o suficiente para desobstruir a uretra. Existem outras técnicas para ressecção da próstata, como laser, micro-ondas e cauterização, A técnica depende do tamanho da próstata e da experiência do urologista.
Se a próstata for muito grande, uma prostatectomia (retirada da próstata) pode ser a melhor opção. Esta cirurgia pode ser feita na modalidade simples (aberta) ou através de técnicas minimamente invasivas, como a videolaparoscopia e a cirurgia robótica, que passaram a integrar o arsenal terapêutico da HPB. “Essas técnicas mais novas apresentam vantagens como alta precoce, menor sangramento e retorno mais rápido às atividades laborais, sem falar no menor risco de desenvolvimento de fístula, estenose, incontinência urinária e complicações da ferida operatória, quando comparadas à técnica aberta”, frisou Augusto Modesto.
Como o aumento da próstata não influencia tanto no ato de urinar para alguns pacientes, muitos deles negligenciam sintomas leves e não procuram ajuda médica precocemente. “Esse comportamento pode desencadear um quadro bem mais grave, com uma insuficiência renal avançada, por exemplo. Por isso é importante que qualquer idoso, ao primeiro sinal ou sintoma de crescimento da próstata, seja avaliado por um urologista”, concluiu Augusto Modesto.
Sugestão de entrevista: Augusto Modesto é urologista, mestre em Oncologia, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Urologia - seção Bahia (SBU-BA), membro fundador do Robótica Bahia (RB) - Assistência Multidisciplinar em Cirurgia. Atua nos Hospitais São Rafael (HSR/Rede D’or) e Aristides Maltez (HAM), Centro Médico São Rafael (Cemed), Clínica Urológica da Bahia (CUB) e Centro Estadual de Oncologia (Cican).
Assessoria de Imprensa: Carla Santana