As artes nos salvaram e nos salvam nesses tempos de pandemia que já lá vão passando de um ano de duração. E a literatura é uma dessas artes que mais nos acalentaram, que nos ocuparam no muito de tempo que tínhamos para preencher. A leitura de livros os mais diversos, mas principalmente os romances, encheram os tantos dias que precisávamos ficar em casa – e ainda precisamos, só devemos sair quando muito necessário. Foram os livros que nos contaram inúmeras histórias, nos divertindo, nos emocionando, nos ensinando, mantendo nossas mentes ocupadas e livres da depressão. Livro, esse objeto que não precisa de eletricidade para funcionar, não precisa de nenhum aparelho para que possamos usufruí-lo, a não ser nossos olhos. Esse objeto mágico que nos possibilita recriar universos, vidas, emoções, sentimentos.
Então, nesse ano de pandemia, o livro foi protagonista. Com o meses de confinamento, tudo fechado, inclusive as livrarias, a gente catava tudo o que tinha, mesmo o que já tinha sido lido e líamos de novo. A pandemia fez com que lêssemos até aqueles livros que foram ficando nas prateleiras para serem lidos depois e depois e depois. Tivemos tempo para ler tudo. E até quem não gostava de ler livros digitais, virtuais, como quer que o chamemos, passou a comprar livros em e-book ou puxar livros grátis na internet, que os há e muitos. Não sei se muitos daqueles que não liam passaram a ler – espero que sim, que novos leitores tenham se formado - mas o que sei é que aqueles que já liam passaram a ler muito mais.
E nessa dificuladade de se conseguir novos títulos para aproveitarmos nosso tempo livre, uma novidade surgiu, em Portugal, para que pudéssemos continuar a ler livros impressos, que muitos de nós os preferimos, apesar de flertarmos com os e-books. Uma livraria da terrinha, mesmo fechada, começou a receber os pedidos de livros e a fazer a entrega a domicílio. Sim, os livros comprados chegando à porta da casa do leitor. Não é sensacional? Mesmo com o vaivém do confinamento, com o abre-e-fecha disso e daquilo, os portugueses de Lisboa podem comprar livros e recebê-los em seguida no conforto do lar. É claro que a compra pela internet em grandes lojas continua, mas esse atendimento personalizado é uma coisa prática muito simpática, coisa para fidelizar o cliente e afagar o coração do leitor.
Uma iniciativa que parece simples mas não é, pois demanda pessoal para a entrega, numa época em que precisamos pensar duas vezes antes de sair. E presenteia os clientes da loja que teve a ideia com um carinho que jamais vai ser esquecido. Numa época em que um gesto assim faz a maior diferença.
Que mais iniciativas assim sejam possíveis. Porque ler é preciso e deve ser possível.
Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completou 40 anos em 2020. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br