Depois de casarem e pouco antes de “começarem” a lua de mel, Maria Heloisa foi bem clara nas exigências pós matrimônio para com Zé Dito.
- De agora em diante acabou o boteco com amigos, o bate papo furado após o serviço e os jogos de pife-pafe de quarta-feira. E principalmente acabou a pescaria nos finais de semana com o compadre Ambrósio.
- Peraí Maria Heloisa! A pescaria com o compadre não!
- Sem pescaria e sem a cachaçada que vocês ficam tomando na beira do rio.
Cabisbaixo e sem argumentos ele aceitou todas as imposições, ainda mais sabendo que ao contrariar a recém esposa não teria lua de mel.
Uma semana depois Zé Dito e Ambrósio estavam na beira do rio pescando e tomando pinga.
- Minha mulher vai me matar! – Repetia Zé Dito a todo instante.
- Não tenho nada com isso compadre. A mulher é sua, o problema é seu.
- E se Maria Heloisa largar de mim? Onde vou arrumar outra esposa?
- Arrumar outra esposa não é o problema e sim o pai dela. Afinal a casa onde vocês moram, os móveis e até o sítio onde trabalha é do seu sogro.
Enquanto lamuriava, o molinete de Zé Dito emborca na água e quase o leva para o fundo do rio, num ágil reflexo, o pescador segura firme a vara e começa o longo duelo com um enorme e brilhante Dourado.
O peixe briguento toma linha, recua, se debate como doido. Zé Dito recolhe linha, afrouxa a pressão da carretilha na intenção de fazer o peixe cansar.
Depois de quase uma hora consegue vencer a luta e retira da água aquela belezura com mais de vinte quilos douradinho como ouro.
A felicidade foi tanta que entornaram dois litros de cachaça.
Já a noitinha Zé Dito voltou cambaleando para casa e logo que colocou os pés na porta da sala, Maria Heloisa o recebeu a vassouradas.
- Cachaceiro! Sem vergonha! Quero o divórcio!
Zé Dito tentou contornar a situação mostrando o Dourado de mais de vinte quilos, mas a mulher estava irredutível.
Zé Dito decidiu ir embora, arrumou uma trouxinha de roupas, amarrou num cabo de enxada e foi saindo.
Nessa hora Maria Heloisa deve ter tido alguma crise de consciência e permitiu que ele ficasse aquela noite dormindo no sofá.
No outro dia Zé Dito acordou ouvindo um falatório na cozinha. Eram algumas vizinhas que conversavam com Maria Heloisa.
- Está todo mundo comentando na cidade do peixão que Zé Dito pescou! – Exclamou uma das vizinhas.
- Deixa a gente ver o Dourado? – Perguntou outra vizinha curiosa.
Maria Heloisa passou a exibir o peixe para os curiosos que chegavam em sua casa de hora em hora, enquanto dizia orgulhosa:
- Foi meu marido que pescou!
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.
Por Rodrigo Alves de Carvalho