O que faz Antígona quando impedida de zelar o corpo de seu falecido irmão? Partindo da tragédia de Sófocles, “Ruínas de Nós”, que estreia neste sábado (15), pretende discutir a realidade brasileira diante da impossibilidade de zelar seus próprios mortos, seja pela pandemia que alastra o mundo ou pelo despreparo das forças armadas e policiais do país. Nesse sentido, o curta evoca a ausência de existências interrompidas pelo Estado e elites brasileiras.
Além da inspiração no mito de Antígona, escrito por volta de 442 AC, há aproximadamente 2.500 anos pelo dramaturgo grego Sófocles, um dos mais importantes escritores de tragédia ao lado de Ésquilo e Eurípedes, o projeto conta com trechos de “A Bárbara”, das autoras Brisa Rodrigues e Luciana Lyra. O texto-manifesto utiliza o mito da mulher revolucionária, tecendo diálogos com ícones da luta feminista como Antígona, Bárbara de Alencar, Dilma Rousseff e Marielle Franco, ampliando essas vozes às de outras mulheres e mães que perderam seus filhos assassinados pela polícia e o Exército brasileiros.
De acordo com o diretor e intérprete-criador do projeto, Cássio Viana, o curta contribui com o movimento de reivindicação das ausências de vítimas assassinadas pelo Estado em meio a pandemia de COVID-19, bem como, através do exercício da performatividade, com o debate político e estético visando à formação de uma consciência crítica e sócio-política acerca desse contexto histórico. “Um limiar entre ação performática e cidadã, o curta expõe as feridas ainda abertas pelas relações de poder e violência perpetuadas cotidianamente pelo Estado contra grupos sociais minorizados, marginalizados e invisibilizados historicamente”, evidencia.
O curta será exibido gratuitamente às 20h pelo canal do Youtube do próprio artista, que poderá ser acessado através do link disponível na bio do seu instagram @drumundo. “Ruínas de Nós” é um projeto realizado pelo artista Cássio Viana, aprovado e financiado pela Lei Aldir Blanc, mediada pela Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Juazeiro-BA, e responsável não só pela desmistificação da inviabilização de distribuição dos recursos destinados à Cultura, mas também por possibilitar a descentralização dos seus recursos.
Curta experimental
O termo “filme experimental” corresponde às produções que experimentam variadas linguagens e expressões artísticas atreladas à linguagem cinematográfica com o objetivo de subverter seu uso tradicional para além de uma função meramente narrativa. Em “Ruínas de nós” essa desconstrução se dá a partir da hibridização entre as linguagens da dança e da performance à medida que experimenta outras possibilidades de temporalidades e narratividades, priorizando a dimensão sensorial das ações.