Crônica: Maria Bobagenta

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Foi a vizinha de cima quem disse que havia visto a Maria Bobagenta no quintal da casa vazia da esquina. 

Na mesma hora ficamos com os ouvidos em pé e até paramos com o futebol na rua para escutarmos o que a vizinha estava dizendo sobre essa tal Maria Bobagenta para outras vizinhas no portão de casa. 

- Ela fica na maior pouca vergonha com o namoradinho... 

Para pré-adolescentes que estavam descobrindo certas coisas da vida como as mudanças no corpo, a atração pelas meninas e o sexo, ao ouvirmos falar da Maria Bobagenta, é claro que nossos pensamentos “impuros” eram atiçados. 

A vizinha continua com a fofoca para as amigas: 

- Ficam praticamente grudados um no outro e não se largam! É um absurdo. 

As outras vizinhas estavam indignadas, 

Naquela mesma tarde pulamos o muro da casa vazia da esquina para darmos um flagra na Maria Bobagenta, ou melhor, para espiarmos a famigerada em atos libidinosos.  

Mas não encontramos nada. Esperamos atocaiados atrás de um monte de tijolos do quintal, mas ninguém apareceu. 

Pelo jeito a Maria Bobagenta havia descoberto a indignação dos puritanos da rua e deixado seu ninho de amor. 

Passou-se dois dias e numa manhã de poucas nuvens a vizinha sai esgoelando rua abaixo. 

- A Maria Bobagenta está de sacanagem atrás do muro do pastinho! 

A vizinhança toda saiu de suas casas para irem até um terreno baldio no final da rua afim de repreenderem a tal Maria Bobagenta. 

A molecada estava mais alvoroçada ainda quando a passeata chegou até o muro do terreno e todos invadiram pelo portãozinho de madeira verde. 

- Parem já com essa pouca vergonha... 

Pudemos observar naquele momento dois pequenos insetos da espécie Plecia nearctica, que grudados pelo abdômen alçaram voo e planaram no ar numa dança amorosa suave e sincronizada. 

Depois daquele dia sempre encontro a Maria Bobagenta fazendo suas sacanagens com o namorado em vários lugares...  

Mas agora nem ligo mais. 

Por Rodrigo Alves de Carvalho/Imagem: theeagle 


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