Jovens de municípios da Diocese de Juazeiro discutem sobre identidade camponesa

Facilitação Gráfica 

Políticas públicas para a juventude rural, participação dos/as jovens nas organizações comunitárias, migração e educação contextualizada. Essas foram algumas das questões discutidas na noite da última segunda-feira (29) por jovens de comunidades tradicionais de fundo de pasto e quilombolas da região da Diocese de Juazeiro (BA).

A atividade fez parte da programação da Escola de Formação da Juventude Rural, organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). O encontro contou com a assessoria do membro da Articulação Estadual de Fundo e Fecho de Pasto Jaziel Santos e da integrante da União das Associações de Fundo de Pasto de Pilão Arcado (UNASFPA) Cíntia Araújo.

O membro da Articulação Estadual iniciou sua fala destacando as diferenças entre as juventudes do campo e da cidade. De acordo com Jaziel, a realidade dos/as jovens rurais é marcada por mais dificuldades e limitações, o que impede essa juventude de ocupar os lugares que têm direito. Um exemplo disso ficou explícito com a pandemia, que fez crescer as atividades online, deixando muitos jovens excluídos de diversos processos, pois boa parte não tem acesso à internet de qualidade.

“Enquanto juventude do campo a gente precisa pensar na melhoria da nossa qualidade de vida e isso não está só atrelado aos meios digitais. No campo a gente consegue ter ainda uma melhor qualidade de vida, mas a gente precisa ainda de políticas públicas que nos garantam que possamos nos desenvolver enquanto pessoas de direitos”, ressaltou.

Jaziel, que desde os 16 anos atua nas organizações comunitárias da região de Senhor do Bonfim (BA), também destacou sobre a importância da juventude de fundo de pasto estar inserida nesses espaços em suas comunidades.

“Às vezes, nas comunidades, a gente tem um pouco de dificuldade de aceitação, principalmente de início, porque estamos ingressando nos espaços, e nem sempre a nossa palavra é tão levada a sério, mas a gente precisa ser esse ator inquieto, e tentar colocar na pauta coisas mais específicas sobre a juventude, como lazer, acesso e permanência na universidade, geração de emprego e renda. A gente precisa dialogar sobre a juventude, não o que eu penso sobre ela, mas o que a juventude pensa o que é interessante pra ela e aí a gente vai discutindo”, comentou.

Já Cíntia Araújo, da UNASFPA, chamou a atenção para a permanência das juventudes em seus territórios. “A gente sabe que grande parte dos jovens que cresce nas comunidades acaba migrando para os grandes centros urbanos e isso acaba gerando um grande problema. Como ficam as comunidades que têm toda uma história desde nossos antepassados? Quem vai ficar? Eu continuo na minha comunidade, nunca saí. Ao meu ver não é melhoria nenhuma ir para as cidades, porque com os empregos que eles conseguem, apenas sobrevivem, só dá pra pagar as contas”, afirmou a jovem moradora da comunidade Casa Verde em Pilão Arcado.

Para Cíntia, a raiz dessa visão de um “futuro melhor” fora das comunidades rurais está na educação. “A escola convencional nos incentiva muito a ver os centros urbanos como lugar de melhoria, é lá que está nosso futuro. Isso a gente aprende muito, desde o ABC, onde o M é de morango. Eu vim comer morango há pouco tempo, mas quando perguntavam minha fruta preferida eu dizia que era morango. E por que não umbu?” disse. 

Texto: Comunicação CPT Juazeiro / Facilitação gráfica: Petterson Nobre 


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