Brasil “não fez o dever de casa” ao tratar da pandemia de coronavírus, que chegou ao país em fevereiro de 2020. Essa é a opinião do senador Marcelo Castro (MDB-PI), manifestada na sessão de debate temático do Senado que discutiu o plano de operacionalização da vacina contra a covid-19 do governo federa.
Castro é um dos autores do requerimento para o debate, que foi assinado também por senadores como Esperidião Amin (PP-SC), Nelsinho Trad (PSD-MS), e Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
O senador disse que os países ocidentais mostraram um desempenho muito pior no enfrentamento da pandemia em relação aos países orientais. O número de mortos para cada milhão de habitantes, por exemplo, chegou a 948 nos Estados Unidos, 862 no Brasil, 908 na França, 1.039 na Espanha e 1.101 na Itália. Em nações do oriente, esses números são muito menores: 21 mortos por milhão de habitantes no Japão, 12 na Coréia do Sul, 3 na China, 0,4 no Vietnã e 0,3 em Taiwan. Para Marcelo Castro, considerando também o número total de casos em cada país, é possível dizer que Estados Unidos e Brasil foram os que fizeram a pior condução dos enfrentamentos à covid-19 no mundo.
— O fato é que nós, em algum momento, não fizemos o dever de casa. Não estou criticando A, B ou C. Mas, se nós somos o segundo país do mundo em número de mortes, e não somos o segundo país do mundo em número de habitantes, evidentemente não tratamos este problema com a gravidade, com a seriedade, com a urgência com que ele precisaria ter sido cuidado. Não estou aqui jogando pedra em ninguém, nem acusando ninguém, estou constatando fatos.
Lançado pelo governo federal na quarta-feira (16), o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 é um documento de 100 páginas. De acordo com o Executivo, a primeira fase da campanha tem o objetivo de esclarecer a população sobre a importância da imunização, reforçando que as autoridades sanitárias estão tomando todas as medidas necessárias para garantir a segurança dos brasileiros que receberem a vacina. Castro, que é médico, reconheceu que o Brasil é exitoso na área de imunização. Mas lamentou o fato de alguns países já estarem vacinando a população, enquanto os brasileiros ainda não começaram a ser protegidos.
— Nós aqui [no Brasil], infelizmente, ainda estamos envoltos em questões filosóficas, ideológicas, religiosas, morais, se a vacina deve ser obrigatória, se não deve ser, se precisa assinar um termo de responsabilidade, se não, quando os outros países já estão tomando as providências para serem vacinados.
REGISTRO: O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ressaltou no debate virtual que ainda não há registro no mundo de nenhuma vacina, por nenhum laboratório, contra a covid-19. Segundo ele, somente há autorizações provisórias para a Pfizer, na Inglaterra e nos Estados Unidos, com números efetivos de 20 mil vacinados por dia, e "não são 2 bilhões", conforme afirmou, como tem sido divulgado. O ministro explicou que a autorização emergencial não é o registro, por não estar concluído o trabalho de testagem em todas as etapas, e afirmou que esse processo precisa ser feito, primeiramente, para um grupo restrito e voluntário.
— É assim que funciona na Inglaterra, não é uma invenção do governo brasileiro ou da Anvisa. Todos os ingleses que recebem a vacina nesse caráter de uso emergencial, em que não há registro, são voluntários e assinam termos de consentimento. A imprensa, às vezes, pega uma frase aqui, outra ali, e não tem a profundidade exata da coisa. Quando se fala de voluntário e consentimento é para antes do registro, antes da comprovação da eficácia e da segurança, ainda nas fases de teste — explicou.
Pazuello informou que três grandes laboratórios vão disponibilizar a vacina ao Brasil em janeiro, sendo: 500 mil doses da Pfizer, 9 milhões de doses do Butantan e 15 milhões de doses da AstraZeneca/Fiocruz. A data exata, no entanto, dependerá do registro pela Anvisa.
— Se nós somarmos esses três números, vamos ter 24,7 milhões de doses em janeiro. Para fevereiro, repete-se a Pfizer, aumenta-se o Butantan para 22 milhões e mantém-se a AstraZeneca com 15,2 milhões. Vamos, então, para 37,7 milhões de doses. Em março, outras 31 milhões de doses; a partir daí, equilibra-se o número. Nós temos tratado, além da AstraZeneca, com 100 milhões de doses no primeiro semestre, e a produção de 20 milhões de doses por mês a partir de julho, já com a nossa tecnologia, o que dá 220 milhões de doses só com a AstraZeneca. Nós temos, com o Butantan, o primeiro lote de 46 milhões de doses. Repito, convênio assinado há mais de 60, 70 dias.
Agencia Senado