Pesquisador baiano utiliza bactérias da caatinga como bioinsumo para combater a seca

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Projeto já comprovou que algumas plantas tiveram crescimento de 124% após a utilização do bioinsumo
 
Para o pesquisador e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Adailson Feitoza, a água é um elemento cada vez mais escasso no planeta. É que segundo as projeções da ONU e Banco Mundial, a humanidade enfrentará secas mais severas nas próximas décadas e parte disso deve-se ao fato que cerca de 70% do consumo de água potável do mundo é proveniente do segmento agrícola. Pensando em como alterar uma equação que parece imutável, visto que plantações dependem necessariamente de água, o professor buscou uma solução para reduzir o consumo no segmento agropecuário e na proteção das culturas agrícolas contra as secas. A resposta pode estar nas bactérias da caatinga.
 
Adailson contextualiza que em muitos locais os eventos de secas e veranicos que atingem as plantações podem ser irreversíveis para os produtores que dependem apenas da água da chuva para cultivar. Com tantas prerrogativas, o grupo de pesquisa se questionou onde poderia estar uma solução capaz de economizar água e manter a saúde das plantas. “Acreditamos que a resposta pode estar na natureza”, disse o professor ao explicar que plantas nativas da caatinga conseguem passar por longos períodos de secas devido às adaptações fisiológicas e morfológicas que desenvolveram ao longo da evolução. “O que não sabíamos até estudos recentes é que diversas espécies de microrganismos (bactérias e fungos) estão associadas a estas plantas e podem ser responsáveis também pela resistência à seca.
 
O projeto, que atualmente está em fase de validação, busca em ambientes da caatinga, bactérias que tenham a capacidade de tolerar condições características de ambientes áridos, como altas temperaturas, solos salinos e baixa disponibilidade de água. A ideia é transformar estas bactérias em um produto biológico (bioinsumo) que possa ser utilizado em culturas como milho, feijão, soja, tomate, entre outros, para pequenos e grandes produtores. De acordo com Adailson, o trabalho com tecnologias de base microbiana surgiu ao longo do mestrado em Microbiologia Agrícola na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e do doutorado em Biotecnologia da Uefs.
 
A etapa atual dá continuidade ao trabalho responsável por isolar bactérias do Semiárido Nordestino e constatou que seu potencial é enorme. “Conseguimos selecionar bactérias capazes de produzir pigmentos, que podem ser aplicados na indústria têxtil. Produzimos biopolímeros, como celulose bacteriana, que podem substituir as grandes plantações de Eucalipto, além disso, as bactérias também podem servir para a produção de antibióticos, na indústria médico-farmacêutica, de hormônios vegetais, na indústria agrícola, etc. Ou seja, o uso deste potencial genético está limitado apenas pelas nossas ideias, por isso, estamos sempre em busca de investimento em ciência e tecnologia”, declarou.
 
O professor também destaca, que no mercado ainda não há nenhuma tecnologia similar que tenha conseguido sucesso comprovado e esteja em uso. “Entre as tecnologias em estudo podemos destacar aquelas que fazem uso da transgenia, transferindo genes de plantas e/ou bactérias tolerantes para culturas de interesse agrícola e até mesmo o uso direto de bactérias tolerantes como um bionsumo. O diferencial do nosso trabalho está diretamente associado ao local de estudo, o Bioma Caatinga, que possui biodiversidade e, consequentemente, potenciais genéticos únicos, com índice de endemismo elevado, porém com a biodiversidade microbiana ainda negligenciada, o que pode representar perdas de oportunidade para desenvolvimento científico e tecnológico”.
 
Após a conclusão das primeiras fases do projeto, alguns resultados já podem ser apontados. Os novos dados do trabalho mostram que foi possível manter a cultura de milho crescendo ao oferecer apenas 40% da quantidade de água que ela precisa, e mesmo nestas condições conseguiu-se aumentar o comprimento da planta e da raiz, massa seca da parte aérea e massa seca da raiz em 21,02%, 53,75%, 41,83% e 124,67%, respectivamente. “Ou seja, se o agricultor plantar esperando a chuva e a quantidade de água for reduzida, ele não perderá sua safra, pode haver redução de produção, mas as plantas tratadas com estas bactérias continuarão crescendo. Estamos, no momento, ajustando a formulação do produto tentando encontrar a melhor forma para que seja gerado um bioinsumo eficaz, para ser utilizado em várias regiões do país, pois se engana quem pensa que somente o Nordeste sofre com seca. As regiões Sul e Sudeste têm enfrentado, com grande frequência, eventos que levaram a perdas consideráveis das lavouras de soja e milho. Podemos dizer que se trata de uma questão global, e não de uma ou outra região, afinal estamos dividindo uma só terra, que é o nosso Planeta. Qualquer solução para melhorar o cultivo de plantas beneficia a toda população”, completou.
 
 Bahia Faz Ciência
A Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e a Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb) estrearam no Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, 8 de julho de 2019, uma série de reportagens sobre como pesquisadores e cientistas baianos desenvolvem trabalhos em ciência, tecnologia e inovação de forma a contribuir com a melhoria de vida da população em temas importantes como saúde, educação, segurança, dentre outros. As matérias são divulgadas semanalmente, sempre às segundas-feiras, para a mídia baiana, e estão disponíveis no site e redes sociais da Secretaria e da Fundação. Se você conhece algum assunto que poderia virar pauta deste projeto, as recomendações podem ser feitas através do e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

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