Pivô de um "racha" com uma das maiores lideranças dentro do Democratas, o deputado federal Elmar Nascimento comentou que atualmente não tem "nenhuma relação" com o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM- RJ). Como plano de fundo na disputa da presidência da Casa a "quebra de alguns compromissos de imparcialidade" geraram o desconforto, apesar de descartar a saída do partido.
Elmar também comentou que uma possível interferência do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) na Câmara dos deputados caso Arthur Lira (PP-AL), candidato do presidente, vença, é "um folclore para tentar tirar voto da candidatura do deputado". "Claro que há uma preferência pessoal do presidente Bolsonaro, pois a outra candidatura está em aliança com partidos que lhe são oposição", explicou.
O deputado também ressaltou o bom desempenho do DEM tanto no cenário nacional quanto estadual. "Para um partido que até bem pouco tempo, no auge da popularidade do ex-presidente Lula (PT) falou-se em extinção, o partido deu a volta por cima. Tem os dois presidentes das casas do Congresso. Tudo aponta que vamos continuar com a presidência do Senado. Na Bahia aconteceu um crescimento a olhos vistos. Vamos governar o maior número de baianos", disse.
Deputado, queria começar perguntando para o senhor como foram as tratativas para o senhor surgir como candidato para a presidência da Câmara dos Deputados.
Desde a escolha do líder para 2020. Uma parcela grande do partido defendia que se rompesse uma tradição do nosso partido de não renovar mandato de nenhum líder e que eu fosse reconduzido. Achávamos que teríamos maioria para isso, mas num ambiente que gostaríamos de disputar a sucessão em 2021 achamos por bem para unificar o partido abdicar disso e conduzir o deputado Efraim Filho (DEM-PB) a liderança e que o partido unificado, para dar espaço e liberdade para construir nosso nome como alternativa na sucessão na Câmara. Ao longo do ano, uma candidatura desse tipo não se constrói em poucos dias ou meses, e sim com uma trajetória no parlamento e comportamento ao longo do tempo. Isso foi feito ao longo de um ano inteiro. Infelizmente no final, as coisas não aconteceram da forma como prevíamos, pela quebra de alguns compromissos de imparcialidade por conta do presidente da Câmara [Rodrigo Maia / DEM-RJ]. E de outro lado tenho que reconhecer que a Covid-19 me atrapalhou. Passei 23 dias lutando contra a doença e dentro desse tempo nos reduz muito a capacidade de articulação em um momento mais decisivo, que era quando estava ocorrendo o processo de escolha dos blocos que estavam se desenhando.
Como ficou a relação com Rodrigo Maia? E ACM Neto tentou interferir no processo e tentou apaziguar um pouco a relação?
Não tenho nenhuma relação com ele [Rodrigo Maia] mais. Já Neto o tempo todo. Ele como presidente do partido, dentro do partido ele tem a obrigação e tem feito no sentido de diminuir as divergências, disputas, fraturas e conseguir que o partido em todos os temas possíveis, inclusive na sucessão, saiu unificado. Sabemos que as atenções dele estão voltadas para a disputa no senado. Temos o Rodrigo Pacheco (MG) se consolidando como um candidato forte. Na Câmara não temos nenhum parlamentar envolvido na disputa. Então o foco é o Senado.
Agora o senhor sinalizou o apoio para Arthur Lira. Isso não seria uma traição ao bloco que o senhor sempre esteve junto?
A traição, se houve, não foi da nossa parte. Foi de decidir sozinho e tentar orientar contra um acordo que nós fizemos. E que envolveu não só a mim, mas também o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) que também se sentiu prejudicado. Estabelecemos um critério que não foi observado de imparcialidade do presidente, que mostrou preferência a uma candidatura, dizendo que seria uma candidatura que aglutinava os partidos de esquerda. Não aconteceu isso, terminou tendo que apoiar uma candidatura que os próprios partidos de esquerda tinham restrições por conta do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Foi muito mal conduzido. No sentido de que Rodrigo Maia na verdade sinalizou para vários porquê queria para ele mesmo, quando houve a proibição do Supremo Tribunal Federal. Todo o valor que tem o Baleia Rossi (MDB- SP) em si, presidente de um partido importante, deputado destacado e líder respeitado. A figura principal em torno do qual gira a aliança do bloco e avalista é Rodrigo Maia. Se não temos condição e sentimos traídos, não há como permanecer. Prefiro deixar para trás e queremos construir para frente. O nosso campo está ligado ao governo. Relacionamento de confiança e votar nas pautas de governo. Vamos marchar na candidatura do candidato Arthur Lira (PP-AL).
Caso Lira vença, qual vai ser a interferência do presidente Jair Bolsonaro na Câmara?
Isso é mais um folclore para tentar tirar voto da candidatura do deputado Arthur Lira. Claro que há uma preferência pessoal do presidente Bolsonaro, pois a outra candidatura está em aliança com partidos que lhe são oposição. É claro que para ter esse apoio eles tiveram reuniões e tiveram concessões, o que é normal. Concessões que fazem ser contrária a pauta do governo e a favor da pauta de oposição. Tipo privatização de Eletrobras. Não participei disso e não sei se ocorreu. Reforma administrativa e privatizações, são temas caros à oposição e eles não apoiam um candidato sem esse tipo de concessão. Claro que haverá uma afinidade maior numa candidatura de Arthur entre o executivo, o que não quer dizer submissão. Só quem não conhece a história e condução do Arthur Lira vai pensar que alguém vai ter condição de impor submissão a ele.
Não é novidade que os aliados de ACM Neto sonham com o apoio do PP para eleição de 2022. Esse apoio agora a Lira aproxima o PP do DEM na Bahia?
Acredito que as coisas não se misturam e não tem muito haver. Até porque eu penso ainda, pois política é feita de gestos e de reciprocidade. Penso que a bancada do PP da Bahia deve votar com Arthur Lira. Pois o PP aqui tem o vice-governador, eles participam do governo Rui Costa (PT). O deputado Cajado, Mário Jr e Carleto. E principalmente o deputado Cacá Leão (PP) serve de interlocutor privilegiado do governo do estado com o governo federal. E de outro lado, o MDB aqui nos últimos anos foi oposição ao governo do estado. Não vejo sentido que a bancada do PP da Bahia vote em um aliado na Bahia com um adversário. Sempre tive uma postura mais independente e estou votando com Arthur Lira.
Há alguma possibilidade de o senhor migrar para o PP?
Zero. Estou satisfeito com meu partido. Fui líder do partido e tenho consideração. Estou trabalhando internamente para construir que nosso partido caminhe com a candidatura de Arthur. Não sei se vou conseguir, se vai ter só meu voto, mas isso é a democracia. Não será um tema que vai minar a relação. Se tiver que migrar partidariamente para algum partido na janela de 2022 vai ser da mesma forma que o Leo Prates (PDT) fez, que o Bruno Reis (DEM) fez. De forma estratégica passe pela candidatura da oposição, e não por conta por atrito no partido que tenho a melhor relação.
Deputado, queria que o senhor analisasse o Democratas. Como um olhar mais próximo da legenda como o senhor vê a atuação do partido nacionalmente e estadualmente?
Para um partido que até bem pouco tempo, no auge da popularidade do ex-presidente Lula (PT) falou-se em extinção, o partido deu a volta por cima. Tem os dois presidentes das casas do Congresso. Tudo aponta que vamos continuar com a presidência do Senado. Na Bahia aconteceu um crescimento a olhos vistos. Vamos governar o maior número de baianos. Sem esquecer de diversos aliados. Só para citar a segunda e terceira cidade do estado, estão com MDB, Herzem Gusmão em Vitória da Conquista e Colbert Martins em Feira de Santana. A quarta cidade é Camaçari que está com a gente. Estamos bem em todas as grandes cidades. Temos a orientação que o prefeito ACM Neto de pré-candidato ao governo vai fazer uma consultoria nessas gestões. Queremos deixar uma marca.
por Mauricio Leiro BN/Foto: Paulo Victor Nadal/ Bahia Notícias