ACM Neto não cogitou ser candidato a vice-presidente da República de Jair Bolsonaro ou de quem quer que seja. A hipótese, que já tinha sido aventada em 2018, voltou a ganhar o noticiário após o presidente nacional do DEM não descartar uma eventual aliança com Bolsonaro no próximo ano. Para quem analisa a política apenas com olhos em Brasília - ou sob a ótica dos jornais do Sudeste -, a narrativa pareceu palpável. Não é
Após o ex-prefeito de Salvador não conseguir conter a debandada dos correligionários governistas contra Rodrigo Maia, ele se tornou alvo preferencial do entorno do antigo presidente da Câmara. Entre bater de frente com esse grupo, ainda significativo no DEM, e tentar colocar panos quentes na tensa relação dos interesses internos divergentes, o dirigente optou pela segunda opção. Dentro do cálculo político disponível, pareceu menos danoso, imagino eu. A reação daqueles contrários a Bolsonaro foi ruidosa, porém se tornou desproporcional ao esquecer que o plano de ACM Neto ainda não inclui o Executivo federal.
Se o grupo governista – ou “da boquinha”, para furtar a expressão resgatada por Rodrigo Maia - fosse pequeno, a bancada do DEM teria seguido com Baleia Rossi (MDB-SP) até o final da disputa contra Arthur Lira (PP-AL). Engana-se quem acredita que Elmar Nascimento seria domado por ACM Neto. O principal algoz de Baleia no DEM é um solista conhecido na política baiana e migrou por partidos em busca dos próprios interesses. E esse é apenas um exemplo dentre tantos da bancada que criaram as objeções ao candidato de Maia.
Para tornar a derrota interna do ex-presidente da Câmara menos vexatória, houve o movimento para liberar os deputados ao invés da adesão à candidatura de Lira. Essa decisão contrariou caciques insatisfeitos com o apoio ao bolsonarismo, mas foi o acordo possível. Ao admitir que parte dos membros do partido e do próprio eleitorado do DEM flerta com extrema direita, vide as declarações do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, rechaçar conversas com Bolsonaro seria um tiro no pé. No entanto, ao não descarta-las, o tiro atingiu o outro.
Em meio às brigas internas do partido, a nacionalização do problema é uma chance de fragilizar mais uma liderança que passa por um processo de questionamento. Acontece em qualquer legenda, inclusive no DEM. Todavia, essa nacionalização que expôs ACM Neto omitiu que o foco do ex-prefeito de Salvador é ser candidato ao governo da Bahia e que tal condição o obriga a não destruir pontes para 2022. Mesmo que essas ligações incluam a direita radical aliada ao bolsonarismo.
Todas essas cartas sempre estiveram disponíveis na mesa. Principalmente para quem olha de perto a cena baiana. O presidente do DEM pode ter defeitos, mas burrice política nunca esteve na lista. Pena que muitas vezes apenas uma nuance da narrativa seja atrativa para o eixo Rio-São Paulo-Brasília.
BN/Foto: Max Haack/ Ag. Haack/ Divulgação