Enfim uma notícia boa, a respeito das vacinas para continuar a imunização no Brasil: o ministério da saúde confirmou, finalmente, a compra de 54 milhões de doses da Coronavac, vacina que será produzida pelo Butantan. A resposta do desgoverno ocorreu após questionamento do Butantan, que chegou a dizer que negociaria diretamente com estados e municípios. O imunizante deve ser produzido até abril. Vamos torcer que fique pronto antes. Outras 46 milhões de doses já estavam previstas em contrato.
Quanto à vacina de Oxford, a FioCruz pediu à Anvisa o registro definitivo da vacina produzida pela universidade britânica e pela AstraZeneca, com importação da tecnologia feita pela Fiocruz. Dois milhões de doses do imunizante já estão sendo aplicados pelo país, com autorização de uso emergencial. Agora, com uma possível aprovação do registro definitivo, a Fiocruz poderá produzir as vacinas com o IFA vindo da China, embora não saibamos ainda quando essa matéria prima chega ao Brasil. A agência tem até 60 dias para finalizar todo o processo.
A Johnson&Johnson anunciou que sua vacina contra a Covid-19 teve 66% de eficácia na prevenção de casos moderados e graves. Considerados apenas os casos graves, o nível de proteção seria de 85%. Nenhuma pessoa vacinada morreu de coronavírus. Eficiente, também, contra a variante mais contagiosa da África do Sul, o imunizante é o único a ser ministrado com apenas uma dose. A vacina é uma das que foram testadas no Brasil e, por isso, a Johnson pode entrar com o pedido de uso emergencial na Anvisa. Mas será que o Brasil compra? Vamos ver.
Pressionado a providenciar as vacinas contra a covid-19 e pela dependência da Coronavac, que já foi chamada por Bolsonaro de a “vacina de João Doria”, o governo federal tenta comprar outros imunizantes, depois de recusá-los na época que deveria ter comprado e depois de muitos países já terem comprado e estarem na fila. A Sputnik V, da Rússia, é uma das mais promissoras, conforme o nosso desgoverno, mas ainda faltam dados para a aprovação na Anvisa. Nos bastidores, fala-se à boca pequena que a Sputnik poderia se tornar “a vacina de Bolsonaro”. Isto dá um pouco de medo, pois essa vacina ainda está envolta em nebulosas. No Brasil, ela será produzida pela farmacêutica União Química, que planejaria vender ao Brasil 10 milhões de doses prontas até março. Além disso, pretende fabricar o insumo farmacêutico ativo aqui no nosso país. Bolsonaro reuniu-se na quarta-feira com o presidente da Anvisa e tratou da aprovação da Sputnik V. O Ministério da Saúde disse à União Química que está “disposto a negociar eventual aquisição dos lotes do imunizante”, caso a empresa receba aval para o estudo de fase 3 e peça o uso emergencial à Anvisa.
E mais uma caca, pra variar: o presidente do Brasil disse, no dia 30 de janeiro, que "não é competência" e "nem atribuição" do governo federal levar oxigênio para o Amazonas, que está em estado de calamidade total com a falta do insumo para atender pacientes da pandemia. Então tá. O governo é alertado com antecedência, o ministro da saúde vai para lá e ao invés de providenciar solução para a falta de oxigênio, levou kits de cloroquina para “prevenção”. Muitas pessoas morreram e o ministério da saúde – leia-se Bolsonaro – não tem nada com isso. Alguém precisa dizer para ele o que é isso, na verdade, e que ele pode ser responsabilizado, pois morreu muita gente sem ar. Bolsonaro elogiou ainda a atuação do ministro da saúde, Pazuello, dizendo que "não há omissão" diante da crise. Ah, tá. Para o presidente, o ministro, que está em Manaus “sem data para voltar”, segundo o desgoverno, após ser alvo de pedido de inquérito por omissão na crise de oxigênio, fez um "trabalho excepcional". Dá pra acreditar nisso? A polícia federal iniciou investigação sobre a conduta do ministro na crise sanitária do Amazonas. O ministro distribuiu no Amazonas 120 mil unidades de hidroxicloroquina, que não tem eficácia comprovada contra a Covid-19. E não fez mais nada, pelo jeito, pois a tragédia anunciada vitimou muita gente pela falta de oxigênio. Até a manhã de sábado, 335 pacientes com Covid-19 foram transferidos do Amazonas a outras 13 cidades brasileiras por conta do colapso causado por superlotação e falta de oxigênio no sistema de saúde local. Das 335, 11 pessoas não resistiram à doença e morreram.
Quando o pesadelo acaba?
Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 40 anos em 2020. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br