Crônica da Semana – “Bala de Prata”.

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Depois de quase cinco anos andando a pé após ser obrigado a vender o fusquinha verde que herdara de seu pai, Cleiton conseguiu finalmente arrumar um dinheirinho para a entrada de um outro carro devido a um acordo trabalhista na empresa que trabalhava e financiou o restante em quarenta e oito meses na Caixa Econômica Federal. 

Comprou um Palinho 2008 prata numa loja de carros seminovos. Chamou o carrinho de Bala de Prata. 

- Precisa fazer um seguro, já que está pagando o financiamento. Pensa bem se te roubam o carro? Além de ficar sem ele, precisa continuar pagando. -Aconselhou um amigo precavido. 

- Agora não tenho condições de fazer seguro. Vou colocar um alarme. 

E assim Cleiton mandou instalar um alarme no seu Palio. Se sentia seguro sabendo que nenhum larapio iria levar seu lindo e estimado Bala de Prata. 

Cleiton e Bala de Prata estavam em todo lugar. Iam todo dia ao trabalho e a noite davam um role, já nos finais de semana estavam em festas, clubes e qualquer outro evento na cidade e região.  

Cleiton chegava com seu carro e biip biip, acionava o alarme, ficando despreocupado para curtir a nigth. Quando voltava, Bala de Prata estava sempre no lugar estacionado, esperando para voltarem ao aconchego do lar. (Em algumas ocasiões com alguma namoradinha de final de noite).  

Ah! se aquele Palinho falasse! 

Acontece que Cleiton se apaixonou por uma bela moça que conhecera numa festa de peão. E toda atenção que outrora era dado ao seu carro, agora era dirigido à nova namorada. 

Com isso, Bala de Prata começou a agir estranho. Enroscava a terceira marcha e entrava a primeira, o pneu dianteiro murchava sem estar furado ou vazando e o pior de tudo, começou a disparar o alarme a toda hora. 

Por várias vezes Cleiton ouvia dos narradores das festas que seu Palio estava com o alarme disparando no estacionamento e corria para ver o que era. Ao chegar no carro, tudo estava normal. 

Cleiton levou para regular o alarme e até trocou o sistema de segurança para não disparar novamente, mas de nada adiantou. No fim das contas, decidiu desinstalar o alarme. 

E numa gélida noite de julho, ao sair com sua namorada de um jantar dançante no clube da cidade, Bala de Prata não estava mais estacionado próximo ao portão de entrada...  

Hoje, Cleiton é um homem solitário, pois sua namorada o deixou quando soube que teria que andar a pé.  

E seu coração se aperta toda vez que vai pagar as prestações do financiamento e se lembra aos prantos do saudoso Bala de Prata.

 por Rodrigo Alves de Carvalho


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