Durante séculos, o modelo educacional praticamente não mudou. Salas de aulas, professores detentores do conhecimento e poucos recursos tecnológicos eram aplicados. Entretanto, a revolução digital que o mundo vive, e tem experimentado com mais intensidade devido à pandemia, trouxe uma aceleração na mudança desse modelo e nos apresentou a Educação 4.0.
As pessoas estão cada vez mais conectadas - seja por celulares, tablets ou computadores. A Internet virou item essencial para a vida de milhares. Foi da combinação de educação e tecnologia que surgiu o termo “Edtech” e esta é uma forte tendência que tem revolucionado o segmento de educação mundo afora. Este é um novo conceito que traz vários benefícios para alunos, professores e organizações que buscam promover a educação.
Na prática, elas são empresas – startups - que desenvolvem soluções tecnológicas para a oferta de serviços relacionados à educação, com o auxílio de aplicativos, cursos on-line, realidade virtual, inteligência artificial, gamificação e outras ferramentas. A palavra é uma abreviação do termo “educational technology”, que, em inglês, quer dizer tecnologia educacional.
O mercado de Edtechs começou a se desenvolver em um momento em que a Internet começava a se tornar mais acessível e evoluída. A Blackboard Inc. foi a primeira delas, criada em 1997. Ainda hoje, a empresa é uma referência no mercado de edtechs, pioneira no uso do LMS (Learning Management System).
No Brasil, as Edtechs começaram a ganhar mais força na última década. Dados de um levantamento da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), realizado em parceria com o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), apontaram que o segmento de educação lidera, em quantidade, o número de startups do país: são 748 empresas. Esse número representa um aumento de 23% nos últimos dois anos.
Outro relatório, também publicado pela ABStartups em parceria com a CIEB, mostra que 67,04% das edtechs criadas no Brasil são classificadas como plataformas, seguidas pelas ferramentas (26,28%) e conteúdos (14,03%). E elas estão divididas entre os mais variados segmentos: educação básica, cursos livres, corporativo, ensino superior e ensino de idiomas.
Quando observamos em nível global, o mercado de EdTechs cresce 17% ao ano e ultrapassou o faturamento de US$ 200 bilhões em 2020, de acordo com o relatório da EdTechXGlobal.
Além dos negócios, para entender a importância das Edtechs no Brasil, é necessário entender o contexto educacional no país. A educação brasileira tem números negativos: de acordo com o Anuário da Educação Básica de 2020, apenas 51,2% dos jovens de 19 anos de classe baixa haviam completado Ensino Médio em 2019. Os maiores problemas que levam a isso são: Dificuldades financeiras; Distância entre o domicílio do aluno e a escola; Dificuldades de aprendizado no ritmo normal.
São essas dificuldades que impulsionam uma oportunidade para melhorar o método de ensino, aumentar o acesso escolar e permitir maior praticidade de estudos e conteúdos que sejam direcionados aos interesses individuais. Tudo isso aliando educação e tecnologia. As edtechs permitem que o setor de educação acompanhe as evoluções que marcam outros setores do mercado, além de contribuir para facilitar a aprendizagem e democratizar o acesso às tecnologias na sala de aula, sejam elas físicas ou virtuais.
Quando analisamos por segmentos, as edtechs têm contribuições em todos os níveis de ensino.
No ensino básico, que durante anos foi visto como a base para o mercado de trabalho, é possível promover a qualificação do ensino por meio de conteúdos e formatos novos, que instigam o engajamento. Isso permite complementar o ensino de sala de aula, tornando mais fácil para que o professor se posicione como mentor do processo de aprendizagem básica.
Já para o ensino técnico, as edtechs podem fornecer soluções mais flexíveis, dinâmicas e diversas para que as IEs e as empresas reforcem o aprendizado, desenvolvendo todo potencial de uma habilidade ou um conjunto delas — que é o objetivo da modalidade.
O ensino superior carece de várias soluções, mas especialmente relacionadas à otimização do ensino. A flexibilidade que a tecnologia permite é uma das alternativas para revolucionar o ensino superior, promovendo a maior absorção de muito conhecimento.
Apesar das dificuldades, os brasileiros possuem vontade de aprender e ambição na carreira. A busca por inovação é o que faz as edtechs desenvolverem novas soluções e serem tão presentes em diferentes níveis da educação.
Com novas metodologias, ferramentas e práticas, a sala de aula se torna ainda mais atrativa e eficiente, fazendo os usuários aprenderem mais rapidamente, com maior retenção de conteúdo. A sala de aula tradicional não deixou de ser importante, mas as edtechs vêm para somar com um modelo que oferece maior protagonismo ao estudante, que deixa de ser um mero espectador.
Joaldo Diniz é Diretor executivo de Inovação e Serviços do grupo Ser Educacional