No banheiro da casa, Geovano, sentado no vaso sanitário tem uma conversa muito importante com Isadora:
— Cada acontecimento, seja ele o menor e mais insignificante que possa parecer, como o arrastar de uma folhinha ao vento, ou mesmo um acontecimento grandioso e extraordinário como a explosão de uma estrela gigante fazem parte de uma ordem universal.
Isadora, encostada na porta observa seu marido com aquela expressão séria que lhe é peculiar ao explicar o funcionamento do universo.
— Até mesmo no caos, em um distante planeta em ebulição, ou na tempestade mortal em uma ilha no pacífico ou um pequeno cervo sendo cassado e devorado por um leão fazem parte dessa ordem. Se alguma coisa sair fora dessa sincronia, os resultados podem ser catastróficos.
Isadora sabia que Geovano era bastante perfeccionista e sistemático antes mesmo de se casarem. Não à toa, até a aliança que ofereceu ao pedir sua mão, não foi tão surpresa assim, já que Geovano pediu para medir a circunferência de seu dedo antes da compra, para que a aliança ficasse perfeita, nem muito apertada, nem muito frouxa.
— Imagina só Isadora, se no nada, o planeta Terra parasse de girar? Seria a extinção dos seres humanos!
A mulher realmente não imaginava isso. Estava mesmo era irritada e ao mesmo tempo preocupada por seu marido estar naquela situação.
— Tudo nesse universo acontece pela causa e consequência, Isadora. Uma coisa leva a outra e quando alteramos essa lógica, coisas terríveis podem surgir!
Pobre Geovano. Teve um dia miserável naquela sexta-feira. No caminho do trabalho pela manhã, o carro havia quebrado numa das ruas mais movimentadas da cidade, a chuva chegou do nada e encharcou o rapaz, depois seu chefe chamou sua atenção pela primeira vez desde que fora contratado na empresa há dois anos e na volta para casa, pisou em coco de cachorro.
— Sabe Isadora, temos que ser responsáveis pelos nossos atos e suportar as consequências daquilo que escolhemos fazer em nossas vidas. Olha só eu aqui. Tive um dos piores dias de minha vida. Além de tudo o que passei, devo ter comido um salgado estragado na hora do almoço. Porém, agora com essa diarreia maldita, me dei conta das circunstâncias de minhas desgraças. A dissincronia que foi a causa de minhas lamúrias.
Isadora imaginava a falta de uma manutenção do carro, um erro de cálculo no trabalho ou o molho vencido do boteco. Mas o motivo, na verdade era por uma questão de lado.
— Isadora do céu! Hoje de manhã ao trocar o papel higiênico, coloquei suas folhas saindo por baixo do rolo e não por cima, como sempre fiz a vida inteira!