Um Presidente da República, cujo nome não é preciso mencionar, declarou, numa entrevista, que vai retirar o título de Patrono da Educação Brasileira concedido a Paulo Freire.
É compreensível essa decisão.
Embora Paulo Freire seja conhecido, admirado e seguido em todo o orbe terráqueo, esse Presidente não sabe quem é essa pessoa.
O livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, foi traduzido em dezenas de idiomas.
É pena que esse Presidente não saiba Inglês.
Poderia ler essa grande obra, nesse idioma, já que não a leu em Português.
Permanece absolutamente atual o legado que Paulo Freire nos deixou.
As propostas desse educador brasileiro foram acrescidas pela contribuição de outros pensadores e, mais que tudo, pela prática militante de educadores populares.
A Educação pode jogar um papel decisivo na construção da cidadania, na preservação da dignidade humana e, num estágio mais avançado,
na celebração da grandeza de todos os seres, como expressão cósmica da Criação, como ensina Frei Leonardo Boff.
A educação não é uma doação dos que julgam saber aos que se supõe nada saibam.
Deve ser recusada, como acanhada, a concepção que vê o educando como arquivista de dados fornecidos pelo educador.
Rejeite-se, por imprestável, a passividade do educando, na dinâmica do processo educacional.
Tenha-se presente o anátema de Paulo Freire à visão da palavra como amuleto, independente do ser que a pronuncia.
Esteja-se atento a seu libelo contra a sonoridade das frases.
Mais importante é entender que a força da palavra está na sua capacidade transformadora.
A educação libertadora vê o educando como sujeito da História.
Vê na comunicação "educador-educando-educador” uma relação horizontal.
``O diálogo é um traço essencial da educação libertadora.
A educação libertadora busca desenvolver a consciência crítica de que já são portadores os educandos.
Parte da convicção de que há uma riqueza de ideias, de dons e de carismas na alma e no cotidiano dos interlocutores.
O projeto final da educação libertadora é contribuir para que as pessoas sejam agentes de transformação do mundo.
Para isto é preciso que as pessoas decifrem os aparentes enigmas da sociedade.
Os marginalizados devem refletir sobre sua situação miserável.
Devem identificar os mecanismos responsáveis pela marginalização e pela negação de humanidade.
Devem buscar os caminhos para mudar as situações de opressão.
O mundo não é uma realidade estática, mas uma realidade em transformação.
Somos os arquitetos do mundo.
Educandos e educadores, na perspectiva da educação libertadora, vão buscar juntos as chaves para transformar a realidade opressora.
João Baptista Herkenhoff
Juiz de Direito aposentado (ES) e escritor
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