Crônica: Carona na cauda do cometa


thumbnail foto Rodrigo Alves de Carvalho

Há 35 anos atrás o mundo inteiro falava sobre o cometa Halley que iria aparecer no nosso céu num espetáculo único e vibrante.  

Na verdade, não seria bem único, já que o cometa se aproxima da Terra de setenta e cinco em setenta e cinco anos, mas com certeza para muita gente aquele ano seria a única oportunidade na vida de ver o astro viajante. 

Haviam na época reportagens sobre o cometa, desenhos sobre o cometa, filmes sobre o cometa e até nas novelas falavam do bendito cometa. 

Descoberto por Edmond Halley em 1696 e já com relatos de suas passagens há milhares de anos atrás, o cometa não foi muito bem visto pelas pessoas de antigamente. 

Diziam que trazia mal agouro e várias especulações e crendices foram criadas. Por exemplo, em 1910 diziam que o cometa iria soltar gases venenosos na atmosfera terrestre, a população entrou em pânico. Quem lucrou com isso foram os charlatães da época que venderam muitas máscaras contra gases. Já outras pessoas afirmavam que haveria a extinção terrena porque a cauda do cometa varreria todo planeta. 

Em 1986, o pessoal estava mais calmo, já que todos sabiam se tratar de um simples pedaço de rocha que passaria próximo à Terra sem causar nenhum perigo à nossa estimada casa. 

Não venderam máscaras de gás, mas lunetas, telescópios e binóculos foram bastante comprados naquele ano.  

Todo mundo queria ver o cometa.  

No começo diziam poder ser visto a olho nu, entretanto, nos dias de sua passagem acabou sendo observado somente com aparatos ópticos. 

E com onze anos de idade, me preparei para a tão esperada noite de observação. Não poderia deixar passar aquela oportunidade quando em abril daquele ano nossos vizinhos nos convidaram para irmos até um terreno baldio próximo da rodovia na cidade para observamos o cometa com lunetas e binóculos. Afinal de contas a próxima passagem será em 2061 e eu talvez esteja com oitenta e seis anos. Melhor seria ver o cometa naquela oportunidade do que arriscar no futuro. 

Naquela noite, o local estava repleto de pessoas, todos com os pescoços para trás e as cabeças viradas para cima na tentativa de verem o Halley. 

Quando chegou minha vez, olhei pela luneta na direção do cometa e o que vi naquele momento, guardo para sempre em minha memória: 

“Absolutamente nada”. 

Rodrigo Alves de Carvalho 


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