Crônica: Toninho Cebola

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O saudoso Toninho Cebola ainda faz muita gente chorar. 

Foi a história que ouvi numa pequena cidade desse nosso interiorzão. 

Toninho era um rapaz bem franzino, com um pouco mais de um metro e sessenta, cabelos louros enrolados e uma pele branca reluzente. 

— Parece um anjinho sorridente — Diziam as pessoas que se reuniam no coreto da praça, para ouvirem o anjinho tocar violão e contar histórias tristes. Sim. O pessoal adorava ouvir os causos de Toninho, ao som melódico do seu violão, simplesmente para chorarem. 

Era uma história mais triste que a outra, algumas com finais felizes e surpreendentes, que tiravam mais suspiros e lágrimas dos espectadores, outras, nem tão felizes e com desfechos que deixavam muitos com choro enroscado na garganta de raiva, e algumas outras histórias apenas com lições de vida ou mensagens bonitas, que faziam alguns ouvintes caírem aos prantos de tanta emoção. 

Toninho caprichava nas interpretações, era um verdadeiro ator que incorporava vários personagens. A plateia, que formava um círculo em torno do rapaz, sentados no chão, prestavam atenção a cada palavra, cada gesto e cada som das cordas do violão, que entristecia ainda mais o ambiente. E as lágrimas caiam. As pessoas choravam baixinho, choravam por dentro e até se retiravam por algum momento para berrarem escondido. Porém, por mais macho e insensível que pudesse ser uma pessoa, ela não conseguia ouvir as histórias de Toninho sem fazer beicinho e deixar escapar uma lágrima do canto do olho. 

Num dia nublado, onde o céu mandava alguns pingos de prantos de suas nuvens, aconteceu o ápice da choradeira naquela pequena cidade, quando souberam que Toninho havia falecido. 

Muito jovem, porém, com a frágil saúde comprometida desde que nasceu. 

— O anjinho voltou ao céu — Diziam as pessoas com olhos vermelhos e o nariz melequento de tanto chorar. 

A cidade se lembrou de Toninho e chorou por vários dias, mas com o passar do tempo, não choraram mais. Isso trazia saudades e por mais que tentassem, não conseguiam tirar lágrimas de seus olhos. 

Até que numa tarde de primavera, o coveiro da cidade encontrou sobre a cova de Toninho, uma plantação de cebolas.

A notícia se espalhou e as pessoas passaram a colher as cebolas no cemitério, para que ao descascarem, pudessem chorar novamente. É assim que os moradores lembram até hoje do anjinho e de suas histórias tristes. E foi assim, que nasceu o mito do saudoso Toninho Cebola.

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

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