O responsável por agredir Juliana Paula, mulher trans de 36 anos, foi identificado pela Polícia Civil do DF nesta segunda-feira (17/1). A amiga da vítima, ativista e Coordenadora de Políticas LGBT do DF, Paula Benett, informou, por meio das redes sociais, sobre o andamento da investigação. “Graças a Deus o suspeito foi identificado. A investigação segue em segredo para não atrapalhar o trâmite do processo”, avisou. O caso está sob os cuidados da 13ª DP de Sobradinho.
Segundo informações da Polícia Militar, o agressor foi preso na BR 020, em Sobradinho, depois de uma denúncia anônima que indicou o paradeiro do autor da agressão. O homem foi conduzido à delegacia, onde assumiu as agressões. A vítima também compareceu à delegacia e fez o reconhecimento do indivíduo. Foi registrada ocorrência, ele assinou um termo circunstanciado e foi liberado.
Mesmo com a confissão do autor e identificação por parte da vítima, a prisão não pode ser efetuada por ter se passado as 48h determinadas para o flagrante. Agora, um mandado de prisão deverá ser expedido para que ele seja detido. “Estamos aguardando o resultado de algumas diligências, analisando a gravidade das lesões. O mandado de prisão poderá ser expedido após a conclusão das investigações”, garantiu a delegada Agatha Braga, responsável pela condução do caso.
Segundo Agatha, o autor se apresentou com uma versão sobre como tudo teria acontecido. “Ele alega que teria sido vítima de furto. Estamos verificando se de fato algum bem pessoal teria sido subtraído, mas até o momento não temos nenhum indício de que essa versão dos fatos tenha acontecido”, disse Agatha.
Relembre o caso
Tudo aconteceu na madrugada entre sábado (15/1) e domingo (16/1). Um homem, apontado como segurança de alguns bares e locais de shows em Sobradinho, agrediu Juliana Paula, que foi encontrada com o rosto desfigurado e sujo de terra. “Ele esfregou o rosto dela no chão”, relataram pessoas próximas à vítima que preferem não se identificar.
Juliana foi levada inicialmente ao Hospital Regional de Sobradinho (HRS), na manhã de sábado (15). Entretanto, a equipe médica constatou um trauma no rosto da vítima e ela precisou ser encaminhada ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). “Ela teve escoriações porque ele segurou ela pelo cabelo, jogou ela no chão. Ele a agrediu com o intuito de a matar, já que mirou somente na cabeça, inclusive chutando o rosto dela. Ela teve uma fissura no nariz e levou diversos pontos pela cabeça”, contou a ativista Paula Benett por meio de vídeo publicado nas redes sociais.
“A priori a preocupação maior é com a saúde dela. Estamos acompanhando a evolução do caso e dando todo suporte. Juliana está se recuperando e agora receberá acompanhamento psicológico”, garantiu Benett.
Juliana é muito querida na região de Sobradinho. Ela, que é surda e muda, é conhecida por ser uma pessoa prestativa e alegre. “Ela não sabe libras, então dificulta a comunicação e até mesmo o esclarecimento dos fatos”, disse Paula. Segundo informações apuradas pelo Correio, Juliana já foi vítima de crimes outras vezes. Por ter dificuldade de comunicação, se torna alvo fácil de pessoas má intencionadas que se aproveitam por acreditar que ela não irá conseguir denunciar.
Mas, desta vez, a vítima está recebendo ajuda de uma vasta rede de apoio. A Secretaria de Justiça por meio da Sub Secretaria de Direitos Humanos está acompanhando o caso, além disso a Central de Intérprete de Libras do GDF vai prestar atendimento para facilitar a comunicação.
Ajuda
Apesar de Juliana receber um auxílio do Governo, o dinheiro não é suficiente para todas as despesas. Os familiares que cuidam dela estão desempregados, o que agrava a situação.
Com a divulgação do caso nas redes sociais, muitas pessoas se comoveram e perguntaram como podem ajudar. Paula Benett garantiu que, em breve, será divulgado um canal para envio de doações. “Vamos ver se Juliana se sente à vontade para divulgar o pix ou se encontramos outra forma de receber a ajuda que as pessoas estão dispostas a dar”, disse a ativista.
Para isso, Benett pede que quem tiver interesse em auxiliar Juliana, fique atento às redes sociais, pois é por lá que a campanha de doações será lançada.
Crime contra pessoas trans
De acordo com o relatório sobre os impactos da transfobia no DF, publicado em maio de 2021 Centro Brasiliense de Defesa dos Direitos Humanos (CentroDH), entre janeiro a novembro de 2020, foram registradas 391 ocorrências de crimes contra a comunidade LGBTQI+, uma média de 36 por mês, cerca de 1 por dia.
Dados da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apontam que os casos de homotransfobia tiveram um aumento de 271% entre 2019 e 2020, quando passaram de 7 registros em 2019 para 26 ocorrências em 2020. Entre as ocorrências contra pessoas trans, em 2020, foram registrados 159 crimes no DF, dentre eles, 26 casos de ameaças, 24 casos de injúria, 21 de lesão corporal dolosa, 12 casos enquadrados na Lei Maria da Penha, 5 tentativas de homicídio e 1 homicídio consumado.
Em Sobradinho, no ano de 2020, foram registradas três ocorrências de violência contra pessoas LGBTQIA+. As cidades com maior registro são Ceilândia, com 52 casos; Taguatinga, com 42; Samambaia, 22; São Sebastião, 21 e Gama, com 20.
Fonte: Correio