A cúpula da Polícia Federal, incluindo o agora ex-diretor-geral Paulo Maiurino, foi pega de surpresa com a troca de comando no órgão nesta sexta (25).
Maiurino, seu chefe de gabinete, Marcelo Andrade, e o diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado, Luiz Flávio Zampronha, estavam em São Paulo em agenda quando souberam da troca autorizada por Jair Bolsonaro.
No lugar de Maiurino foi colocado o delegado Márcio Nunes.
Embora a troca de comando da PF seja vista como mais uma intempérie no órgão, a indicação de Nunes sinaliza, no entendimento de delegados experientes, para o possível arrefecimento no clima interno com o fim das crises que marcaram a gestão Maiurino.
Ao contrário de Maiurino, que não era um delegado conhecido e com história dentro da PF, o novo diretor já passou por diversos postos da corporação e, antes de assumir o cargo no Ministério da Justiça por indicação de Anderson Torres, nunca havia ocupado cargos políticos.
Maiurino, por sua vez, além de chefiar o setor de segurança do Supremo Tribunal Federal, chegou a ser secretário de Esporte no Governo de São Paulo, na gestão do PSDB, e integrou o governo de Wilson Witzel no Rio de Janeiro.
Antes de comandar a PF na capital federal, Nunes passou por quase toda a hierarquia interna.
Ele ocupou cargos de chefia de delegacias, de setores, de divisões e foi delegado regional executivo. A atuação do delegado sempre foi mais nas áreas de repressão de entorpecentes.
Para delegados experientes, o perfil discreto e o respeito que o novo diretor tem dos pares dentro da corporação devem contribuir para evitar que a tensão da troca resulte em mais crises internas e apazigue o clima no órgão.
A curta gestão de Maiurino, pouco mais de dez meses, foi marcada por crises desde os seus primeiros dias.
A primeira delas foi causada por uma manifestação de um delegado sobre as mensagens hackeadas de investigadores da Lava Jato.
Após dizer ao STF ser impossível comprovar a integridade e autenticidade das mensagens, o delegado que comandava à época a área de investigações contra políticos e seu superior, o coordenador-geral de combate à corrupção, foram trocados.
Em seguida, vieram as crises com as trocas do comando no Amazonas e do delegado que investigava o então ministro Ricardo Salles.
Por causa dessas situações, Mairuino chegou a entrar na mira do inquérito em andamento sobre a possível interferência de Jair Bolsonaro na PF.
Ele só deixou de ser alvo após o ministro Alexandre de Moraes ordenar o cancelamento de diligências previstas pelo delegado que era responsável pelo caso.
Maiurino também criou uma crise interna no órgão em seu segundo mês de gestão, quando enviou um memorial assinado ao STF no âmbito do debate sobre a delação do ex-governador Sergio Cabral que citava o ministro Dias Toffoli.
Toffoli foi chefe de Maiurino no STF e é visto como um de seus principais padrinhos políticos.
No memorial, o então diretor propôs uma reestruturação interna que sinalizava para o fim da autonomia de delegados nas investigações de autoridades com foro especial e poderia conceder superpoderes ao próprio chefe da corporação.
O último episódio da gestão Maiurino criticado internamente foi a nota divulgada para rebater o ex-ministro e presidenciável Sergio Moro, que havia criticado a queda na atuação da PF em crimes de corrupção.
A manifestação foi vista como uma forma de empurrar a PF para o debate eleitoral e recebeu críticas públicas de delegados nas redes sociais.
Embora a mudança seja tratada internamente em tom ameno, por causa da indicação de Nunes para o posto, delegados criticam mais uma troca no governo Bolsonaro.
É a quarta em menos de quatro anos de governo. O primeiro diretor-geral foi Maurício Valeixo, que caiu junto com Sergio Moro em abril de 2020.
Bolsonaro chegou a nomear Alexandre Ramagem para a vaga, mas com ordem de suspensão expedida por Alexandre de Moraes, Rolando de Souza, próximo ao diretor da Agência Brasileira de Inteligência, assumiu o cargo.
Souza ficou de maio de 2020 até abril de 2021, quando Maiurino assumiu.
As seguidas trocas, afirmam investigadores, impactam diretamente no dia a dia da corporação. Não só pelas incertezas da política interna, mas como pelas mudanças decorrentes em níveis mais baixos da hierarquia da PF.
Segundo os policiais, as seguidas mudanças já começam a aparecer nos números da PF, como de prisão por corrupção, que caiu no último ano ao nível mais baixo desde o governo de Michel Temer.
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Fabio Serapião/Folhapress/Foto: Divulgação/Alesp/Arquivo