Diretor-presidente do Instituto Butantan e provável candidato a deputado federal pelo PSDB, Dimas Covas publicou texto em seu blog pessoal em 2013 em que diz que “quem inventou a escravidão foi a humanidade e neste sentido somos todos, sem exceção, brancos e negros, todos culpados”.
Intitulado “A Questão das Cotas nas Universidades e o Reparo da Escravidão”, o texto segue no ar no endereço: http://wwwdimascovas.blogspot.com/2013/06/a-questao-das-cotas-nas-universidades-e.html.
O post critica a justificativa da implantação de cotas raciais com base no histórico do país com a escravidão, dizendo que “os brasileiros brancos de hoje não a inventaram”, nem são herdeiros de quem a inventou ou dela se beneficiou. Dimas Covas é professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Covas lista momentos da história da escravidão pelo mundo e conclui que não se trata de uma invenção brasileira. Atribuir ao povo brasileiro atual a responsabilidade por um fenômeno universal e que existe entre os “Estados africanos” desde os “tempos pré-romanos” seria, segundo Covas, “exagero político e ideológico sem base histórica.”
Segundo o texto, a adoção das cotas raciais com base nesses critérios produziria situações “irrazoáveis”: “como, por exemplo, dizer a um brasileiro pobre e branco que postule uma vaga na universidade que, pelo prosaico motivo de ele descender possivelmente de um branco que conviveu com a escravidão negra no Brasil, a partir do século 17, sem a ela se opor, ele tem menos direitos ou chances de ingresso na universidade que seu colega de escola, tão pobre quanto ele, mas negro e pelo simples fato de que esse seu colega possivelmente descenda de um daqueles escravos.”
Segundo Covas, o objetivo da implantação desse sistema de cotas raciais não seria a reparação, mas promover “uma desacreditada ideologia de raça entre os brasileiros.”
Ao concluir, ele diz que a escravidão “foi e ainda é um ignomioso [ignominioso] processo praticado contra seres humanos brancos, negros, amarelos e de todas as cores. Merece ser repudiada veementemente. Mas, os brasileiros brancos de hoje não a inventaram e nem são herdeiros diretos de que a inventou ou dela se beneficiou. Quem inventou a escravidão foi a humanidade e neste sentido somos todos, sem exceção, brancos e negros, todos culpados.”
Em outro texto, “As Cotas Raciais e a USP”, também crítico às cotas raciais, ele diz que não havia classificação racial nos documentos oficiais de identificação, mas que isso estava mudando por ação de ativistas.
“Diferentemente dos EUA, onde imperava a classificação racial baseada no critério ‘one blood drop’ [uma gota de sangue], ou seja os indivíduos que tivessem um ancestral africano seriam considerados ‘negros’, no Brasil nunca houve nada parecido. Até muito recentemente não havia classificação racial nos documentos oficiais de identificação ou de inscrição em concursos. Esta prática esta sendo ressuscitada, não por pressão da população, mas por pressão de ativistas e ONGs interessadas em obter vantagens. Neste sentido, o movimento é absolutamente artificial”, afirma.
Ele afirma no texto que não existe identidade de raça no Brasil e que a afirmação do conceito de raça, mesmo no contexto da autodeclaração, abriria as portas para a segregação social.
A segregação racial é nociva em todas as suas nuances e versões, seja a negativa que mandou as pessoas para o campo de concentração, seja a versão positiva que pretende mandar as pessoas escolhidas pela ‘raça’ para os bancos universitários. Pertencemos à ‘raça humana’ com toda a sua diversidade fenotípica que precisa ser entendida e respeitada, e não usada para separar e segregar”, afirma a publicação.
Covas disse à reportagem, via assessoria, que considera a escravidão a mais degradante forma de trabalho. Acrescentou que “a raça humana é responsável pela escravidão”, que o Butantan tem políticas de inclusão e que o contexto do que escreveu não tem relação com racismo.
Ele também afirma que em nenhum momento diz que o negro é culpado [da escravidão], que não concorda com essa leitura e que é totalmente contra o racismo.
Guilherme Seto/Folhapress/Foto: Divulgação