Fã de Cartola, Waldir Azevedo e Adoniran Barbosa, o estudante brasiliense Hugo de Verson Santana Camilo Jorge, 18 anos, obteve a primeira colocação geral em medicina no Programa de Avaliação Seriada (PAS), e segundo lugar no vestibular direto da Universidade de Brasília (UnB), também em medicina. Os dois últimos anos do ensino médio foram por meio de lives, devido à pandemia, e o curso de preparação para o PAS foi também on-line. No PAS, ele atingiu 80 pontos, a maior média histórica do programa nos últimos anos.
Filho de diplomata e engenheiro civil, Hugo morou por 11 anos em diferentes cidades e países, como Venezuela e Uruguai, tendo que se adaptar a diferentes métodos de ensino e grades curriculares. Nos últimos dois anos do ensino médio viveu com a mãe, Maria Deize Camilo Jorge, 60, em Manaus, onde é chefe do escritório de representação do Ministério das Relações Exteriores.
O estudante conta que, apesar de vivenciar essa mistura de culturas e tradições, criou uma forma toda própria, segundo ele, autodidata, para se dedicar aos estudos.
“Sempre me aprofundei em matérias que achava que tinha mais necessidade de aprender, que tivessem mais a ver comigo, enfim, para conhecer melhor as coisas. Nunca tive cronograma fixo de estudos, com tabelas, horários a cumprir. Além disso, me acostumei a observar as provas de concursos já aplicadas, sempre atento às ‘pegadinhas’. Nas redações, usava como base a filosofia, abrindo os textos com citações de grandes pensadores”, diz, admitindo que encarava as salas de aula como meros locais para entender os conteúdos e esclarecer dúvidas. Além disso, tudo que aprendia em sala de aula era prontamente “filtrado” e os assuntos que despertavam maior interesse, devidamente aprofundados nas horas vagas. “Isso me dava mais tranquilidade, ampliava meus conhecimentos e horizontes.”
Hugo confessa que a paixão pela medicina não foi por acaso. Sua família, por parte de pai e mãe, tem nada menos que 20 médicos, incluindo a mãe que optou por abraçar a diplomacia. “Sempre tive vontade de fazer algo prático. Desde criança fui vidrado em programas do gênero médico. Fora as histórias de minha mãe quando atuava na área, que sempre me fascinaram”, recorda. Embora seja ainda cedo para definir qual área seguir na medicina, ele admite ter mais inclinação para se especializar em cirurgia.
Do pai, José Verson de Santana Filho, 63, herdou a paixão pela politica e a boa música. “Ele sempre ouve músicas boas e abusa dos termos muito difíceis. Atento, eu corria direto para o dicionário para aprender os significados e as devidas aplicações”, lembra o jovem, cujo QI acima da média facilitou a imersão no universo musical. Ele toca piano, violão, guitarra e baixo e já foi premiado em concursos, como os da Escola de Música Toque de Classe, onde se aprimorou nas aulas teóricas. Também é fã de literatura clássica e moderna, e “devora” pelo menos cinco livros a cada mês.
Toda essa carga cultural, admite, foi crucial para sua formação, disciplina e destaque na vida escolar. “O vestibular da UnB, por exemplo, exige bastante conhecimento em artes, música, cinema e obras literárias”, diz. A mãe relata que a paixão pela leitura é tanta que Hugo prefere dar mais atenção aos livros do que às partidas de futebol com os amigos. “É, de fato, um garoto prodígio. Desde pequeno sempre foi genial, brilhante na vida escolar em todos os países por onde passou. Nunca me deu trabalho em nada, sempre nos ensinou muito. É uma benção que Deus me deu, um filho exemplar que todos queriam ter”, confessa a mãe coruja, revelando que a irmã Priscila, de 16 anos, maior fã de Hugo, pretende também cursar medicina.
Hugo lembra também com orgulho das escolas que frequentou, destacando o Maristão, em Brasília, e o Lato Sensu, de Manaus, onde concluiu o ensino médio, mas dispensa os rótulos de “prodígio”, apesar da extensa coleção de medalhas de olimpíadas de ciências, física e matemática. “Sou muito humilde. Faço as coisas por puro prazer”, resume.
Segundo ele, que a notícia da aprovação em primeiro lugar geral para medicina foi recebida com um misto de “felicidade, alívio e esquisitice”. “Estudei muito nos últimos três anos. Para mim bastava ter simplesmente passado. Achei bastante esquisito, mas fiquei muito aliviado e, claro, bastante feliz.”