O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) foi convocado pela Executiva Nacional do PSDB para conversar sobre a eleição presidencial. Na prática, a reunião é uma maneira do comando do partido de pressionar para que o paulista desista da empreitada de disputar o Palácio do Planalto. A legenda também decidiu dar continuidade às negociações com o MDB para uma chapa presidencial única, mas sem definir uma posição quarta-feira, 18, como estava previsto.
A decisão foi de convocar Doria foi tomada em reunião da executiva do partido nesta terça-feira, 17, em Brasília. Durante o encontro, a maioria dos presentes defendeu a tese de candidatura própria da sigla, mas com outro nome que não o de Doria.
A sugestão de ouvir Doria foi dada pelo deputado Aécio Neves (MG). “Eu sugeri que possa ser feito o mais rapidamente possível uma reunião para que o candidato João Doria ouça dos seus companheiros o que ouvimos aqui, que sua candidatura traz prejuízos ao partido em vários Estados”, disse.
A ideia é que o encontro aconteça quarta-feira, 18, mas Doria demonstra resistência em aceitar a convocação e já disse isso por meio de aliados que participaram da reunião desta terça-feira da Executiva. O objetivo é que os tucanos se reúnam com Doria antes do encontro com o MDB, quando as pesquisas quantitativa e qualitativa para ajudar a definir um candidato conjunto serão divulgadas. Mesmo com o resultado das pesquisas, uma definição sobre a aliança só será fechada posteriormente.
Ao sair da reunião, Aécio cobrou de Doria “um gesto de grandeza” e que desista de ser candidato a presidente. “Tenho a expectativa ainda que em um gesto de desprendimento, gesto de grandeza, o próprio governador possa construir essa saída que é o sentimento amplamente majoritário do PSDB”, afirmou.
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, usou um tom mais contido e disse que o “gesto de grandeza” de Doria seria dialogar com o partido. “O gesto de grandeza é dialogar, estar aqui conosco amanhã, de forma franca e coletiva nós conversarmos e aguardarmos os resultados” disse.
Aécio também manifestou o desejo que os governadores do partido participem do encontro e citou o nome do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia. “Uma comissão representativa dessa Executiva, defendo com a presença com os governadores de Estado, de todos eles, acho importante inclusive a participação do governador de São Paulo”, declarou.
Segundo Aécio, Garcia e Bruno Araújo estimularam a candidatura presidencial de Doria com o objetivo de tirá-lo do governo de São Paulo. De acordo com o ex-governador de Minas, os dois agora querem derrubar a pré-candidatura presidencial porque a rejeição de Doria atrapalha o projeto de reeleição de Garcia. Araújo afirmou que os governadores do partido também serão convidados para a reunião com Doria.
Na reunião, Aécio e aliados de Doria, ali representados pelo ex-ministro Antonio Imbassahy e presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi, trabalharam para evitar que o PSDB anunciasse amanhã um apoio à senadora Simone Tebet, pré-candidata do MDB ao Planalto. O desfecho da aliança deve acontecer em uma data próxima das convenções eleitorais, que definirão oficialmente os candidatos e acontecem do final de julho até o início de agosto.
Em conversas reservadas, o mineiro tem dito que é perigoso apoiar Tebet porque ela não tem endosso nem na própria legenda, com o risco de rifar a candidatura dela para liberar os filiados para votarem no presidente Jair Bolsonaro (PL) ou no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Tesoureiro do PSDB, César Gontijo foi o defensor de Doria na reunião: “Foi uma reunião formatada para constranger o João Doria e que não reflete o que a militância quer”, disse. “Todos reconheceram que João Doria venceu as prévias, que foram democráticas. Ninguém tira isso dele”.
Estadão Conteúdo/Foto: Fátima Meira/Estadão Conteúdo