A campanha tem avançado de forma surpreendente na Bahia, como a percepção do eleitorado sobre os candidatos a governador indica a partir do que dizem as pesquisas, sem, no entanto, as chapas estarem ainda completamente fechadas. No campo do governo, o postulante do PT, Jerônimo Rodrigues, precisa ainda bater o martelo sobre o suplente do senador Otto Alencar (PSD), vaga para a qual o PV, ainda às turras com a articulação política governista por não ter conseguido emplacar ninguém no primeiro escalão da administração estadual, passou a se escalar.
Mas o que poderia ter se transformado na sua maior dor de cabeça já foi resolvido, provavelmente por um desígnio do destino: a repentina adesão do MDB ao projeto petista, depois de quase uma década na base do candidato do União Brasil ao governo, ACM Neto. Convencidos do importante papel político que o novo aliado desempenharia na aliança, os emedebistas souberam cobrar caro – uma prosaica especialidade da turma – pelo apoio, garantindo estabilidade e ânimo a Jerônimo, especialmente a partir da indicação do presidente da Câmara Municipal, vereador Geraldo Jr., para seu vice.
O quadro é diferente do que ocorre com Neto. Na sua chapa não faltam apenas o nome do suplente do candidato ao Senado Cacá Leão (PP), mas o daquele que será seu companheiro mais próximo e, por isso, de maior confiança, com a importante missão de substituí-lo numa eventual necessidade no caso de ganhar o governo. Como existem nomes de sobra na disputa pelo espaço, e quanto mais o tempo passa, novas opções emergem, resta claro que quem tem segurado sua definição é o próprio candidato ao governo, não se sabe se à espera de tempo melhor para anunciá-la ou mesmo de que ainda possa surgir alguém mais adequado para ocupá-lo.
O processo obedece inteiramente ao padrão de decisões políticas do representante do União Brasil, que costuma estabelecer uma espécie de filtro para promover suas escolhas pelo qual só passam aqueles que são capazes de demonstrar, também, muita fibra. Bruno Reis (UB), prefeito de Salvador e aliado a quem deu a maior projeção em seu grupo até agora, é um exemplo vivo de que a capacidade de administrar o estilo decisório de Neto pode ser um diferencial para o sucesso daqueles que dependem de suas escolhas. Quando foi escolhido seu vice, em 2016, Bruno teve que enfrentar pelo menos quatro concorrentes.
O curioso é que todos foram estimulados pelo próprio Neto a disputarem a posição, o que, devido à vantagem competitiva de Bruno, levou a que fosse escolhido como alvo dos demais. O atual prefeito sobreviveu a toda sorte de golpe sujo e de puxada de tapete e ganhou a vice, o que foi fundamental para que fosse escolhido depois por Neto para sucedê-lo na Prefeitura, num cenário de mais risco, em que o prefeito, em atitude oposta, buscou eliminar qualquer obstáculo para seu candidato. Em 2016, estourado de popularidade, com a aprovação da gestão nas alturas e a perspectiva de reeleiçao garantida no horizonte, Neto pode jogar com a escolha do vice. Hoje, favoritão à sucessão estadual, segundo as pesquisas, pode ser que esteja repetindo exatamente o mesmo script.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna. Raul Monteiro*