Quem é Gustavo Petro, o 1º presidente de esquerda da Colômbia

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Foto: Divulgação

O candidato eleito neste domingo (19) na Colômbia chega à Presidência após três tentativas. Gustavo Petro, 62, concorreu em 2010, quando ficou de fora do segundo turno, em pleito vencido por Juan Manuel Santos. Em 2018, chegou à rodada final e perdeu por pequena margem para Iván Duque.

Nascido em Ciénaga de Oro, no norte do país, Petro está na política desde que estudava economia em Zipaquirá. Aos 17, ingressou na guerrilha M-19. Devido à atuação no grupo, foi preso por conspiração e porte ilegal de armas em 1985 e ficou atrás das grades por 18 meses —diz ter sido torturado no período.

Petro estava preso quando o M-19 perpetrou um dos atentados mais violentos da história do país, a invasão do Palácio da Justiça, em 1985. A ação deixou 101 mortos, entre os quais vários ministros da Suprema Corte da Colômbia. Após assinar um acordo com o Estado, em 1990, o M-19 se desmobilizou e passou a participar da política colombiana, formando parte da Assembleia Constituinte de 1991, que redigiu a Constituição atual. A partir daí, vários membros abraçaram o caminho da política democrática.

O presidente eleito foi um deles. Rejeitou a luta armada e se elegeu para o Congresso. Foi senador em duas ocasiões e, em 2012, tornou-se prefeito de Bogotá. No ano seguinte, foi afastado pela Justiça por uma suposta irregularidade na coleta de lixo da cidade. O caso foi parar na Corte Interamericana de Direitos Humanos, que recomendou a recondução ao posto, o que ocorreu quatro meses mais tarde.

O episódio do afastamento foi o que o projetou nacionalmente. Em um protesto que lotou a praça Bolívar para pedir o retorno dele ao cargo, Petro afirmou: “Quero que sejam conscientes de que começamos a viver dias de história. Esta não é só mais uma manifestação”. A partir de então, foi se consolidando como grande orador. Nesta campanha, seus comícios atraíram multidões em povoados longínquos do país.

Em 2016, apoiou as negociações levadas adiante por Juan Manuel Santos e o acordo firmado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Na trajetória como congressista e prefeito, foi um duro opositor do uribismo e do enfrentamento armado às guerrilhas. Prometeu, na campanha, que reabriria o diálogo com o ELN (Exército de Libertação Nacional), suspenso por Duque.

Por outro lado, os discursos contra a “oligarquia” colombiana e a proximidade com o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, assim como seu passado na luta armada, transformaram-no em alvo de críticas da direita. Petro, porém, afirma que seu governo em nada se parecerá ao regime chavista. “Chávez fez com que a Venezuela passasse a ser ainda mais dependente do petróleo, proponho o contrário.”

Petro também condena as violações aos direitos humanos do regime chavista e afirma que não realizará expropriações nem atuará para que a Colômbia deixe de ser um país aberto a investimentos. Promete, ainda, uma reforma para que os superricos —cerca de 4.000 pessoas no país— paguem mais impostos, que seriam destinados a aplacar a pobreza. De acordo com o censo de 2018, os pobres representam 33% da população, mas estima-se que esse número já tenha chegado a 40% com o impacto da pandemia.

Entre suas promessas está a de que a Colômbia deixe de depender de uma economia extrativista e aposte numa reforma agrária. “Que o campo forneça nossas principais riquezas”, afirma. Segundo ele, o fortalecimento da economia no interior do país também seria um instrumento para chegar à tão sonhada paz com a dissolução das facções criminosas que hoje atuam no narcotráfico.

O novo presidente colombiano é filho de uma dona de casa, Clara Nubia Urrego, e de um professor de escola primária, Gustavo Petro Sierra. Mudou-se do norte do país a Zipaquirá para estudar. Em uma entrevista, sua filha, Sofia, afirmou que seu pai ainda tem muito o que aprender sobre feminismo.

“Ele faz parte dessa esquerda em que o problema de gênero não era central.” O próprio Petro reconhece que se esforça para melhorar nesse quesito. Nas últimas semanas, Sofia entrou na campanha, falando e usando camisetas reivindicando o feminismo. Conta que se lembra de ver o pai chorar quando Che Guevara foi assassinado, em 1967, e diz que se formou num ambiente de esquerda. Em 1973, seria a vez de ele mesmo se comover, como conta em suas memórias, ao assistir ao bombardeio do Palácio de La Moneda, no Chile, durante o golpe militar que deu início a uma longa ditadura naquele país (1973-1990).

Influenciado pelo pai e pelos eventos políticos que presenciou, leu as obras de Lênin e Marx ainda na adolescência. Fã da literatura do Nobel Gabriel García Márquez (1927-2014), adotou o pseudônimo de Aureliano ao entrar na guerrilha, uma homenagem a Aureliano Buendía, de “Cem Anos de Solidão”.

Sylvia Colombo / Folha de São Paulo

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