A Petrobras registrou lucro de R$ 54,3 bilhões no segundo trimestre de 2022, em resultado com forte impacto dos mega-aumentos nos preços dos combustíveis em março. A empresa também anunciou a distribuição recorde de R$ 87,8 bilhões em dividendos.
O lucro da estatal foi o segundo maior já registrado por uma companhia brasileira, abaixo apenas do resultado anunciado pela própria Petrobras no quarto trimestre de 2020 (R$ 70,6 bilhões, em valores corrigidos pela inflação).
No primeiro trimestre de 2022, a empresa já havia anunciado lucro de R$ 44,5 bilhões, que motivou a distribuição de R$ 48,5 bilhões em dividendos. Assim, a empresa distribuirá R$ 136,3 bilhões pelo lucro acumulado de R$ 98,9 bilhões no primeiro semestre.
A remuneração aos acionistas beneficia o governo federal, que pediu antecipação de dividendos a estatais com o objetivo de bancar auxílios emergenciais e desonerações tributárias que ajudaram a baixar os preços dos combustíveis nas bombas às vésperas das eleições.
Com 28,67% das ações da empresa, a União terá direito a cerca de R$ 25 bilhões dos dividendos anunciados nesta quinta-feira (28). No ano, os repasses da estatal ao governo a título de remuneração aos acionistas somam R$ 39 bilhões.
Em nota, a Petrobras disse que o valor anunciado “é compatível com a sustentabilidade financeira da companhia no curto, médio e longo prazo e está alinhada ao compromisso de geração de valor para a sociedade e para os acionistas”.
Segundo a companhia, o lucro do segundo trimestre reflete a alta das cotações internacionais do petróleo e melhores margens na venda de combustíveis e de gás natural. Foi impactado também por acordo com sócios em campos do pré-sal, que rendeu R$ 14,2 bilhões.
No trimestre, a empresa vendeu combustíveis por um preço médio de R$ 665,50 por barril, alta de 22,3% em relação ao trimestre anterior e de 65,9% em relação ao segundo trimestre de 2021.
A área de refino da companhia, responsável pela venda de combustíveis, teve lucro de R$ 13,6 bilhões, alta de 53,2% em relação ao mesmo período de 2021. Já o lucro da área de exploração e produção cresceu 103,8%, para R$ 53,3 bilhões.
“Os resultados do segundo trimestre de 2022 mostram a resiliência e a solidez da companhia, que é capaz de gerar resultados sustentáveis, seguindo com sua trajetória de criação de valor”, escreveu, no balanço entregue à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o diretor de Finanças da estatal, Rodrigo Araújo.
Além dos mega-aumentos dos preços dos combustíveis em março, que influenciaram as contas do segundo trimestre, a Petrobras subiu o preço do óleo diesel novamente no início de maio, movimento que levou à demissão do ex-presidente da estatal José Mauro Coelho.
Coelho foi substituído por Caio Paes de Andrade, que tomou posse no fim de junho com a missão de segurar os preços dos combustíveis e já anunciou dois cortes no preço da gasolina este mês, alegando acompanhar a queda das cotações do petróleo.
A Petrobras fechou o segundo trimestre com receita de R$ 170,9 bilhões, alta de 54,4% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. O Ebitda, indicador que mede a geração de caixa de uma companhia, subiu 58,6%, para R$ 90,2 bilhões.
A dívida bruta da companhia ficou em US$ 53,6 bilhões (R$ 277,6 bilhões, ao câmbio atual), abaixo dos US$ 65 bilhões estipulados como meta pela gestão da empresa.
“A redução do endividamento bruto, o elevado nível de geração de caixa e a sólida liquidez permitiram à companhia aprovar um pagamento de remuneração ao acionista no montante de R$ 6,73 por ação ordinária e preferencial”, justificou a estatal.
Os elevados dividendos foram aprovados pelo conselho em reunião nesta quinta e são alvos de críticas de opositores à gestão atual. Para o Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a decisão atende ao calendário eleitoral.
“As altas nos preços dos derivados turbinam os dividendos que serão repassados ao governo federal, mas reduzem os investimentos de longo prazo da companhia e impulsionam a inflação”, comentou o pesquisador do instituto Mahatma dos Santos.
Nicola Pamplona/Folhapress