A candidata do MDB à Presidência da República, Simone Tebet, disse nesta sexta-feira (26), em entrevista ao Jornal Nacional, que “tentaram puxar” seu tapete no MDB, em referência à oposição que ela teve dentro do partido para confirmar a candidatura. Ela também defendeu políticas para as mulheres e propôs acabar com o que chamou de “presidencialismo de cooptação”.
Tebet ainda falou de:
- erradicar a miséria em quatro anos, caso seja eleita
- dar transparência às emendas de relator, chamadas de orçamento secreto
- aprovar uma reforma tributária que simplifique os impostos sobre o consumo
Tapete
Simone Tebet responde sobre corrupção
Logo no início da entrevista, a candidata foi questionada sobre casos de corrupção recentes no país que tiveram políticos do MDB envolvidos.
Ela respondeu que o MDB não é só “meia dúzia de seus políticos e caciques”. Disse ainda que “meia dúzia”, de fato, esteve envolvida em escândalos de corrupção em governos do PT. Nesse momento, a candidata começou a comentar sobre as resistência contra a candidatura dela em seu próprio partido.
“Aliás, se você me permitir, tentaram puxar meu tapete até pouco tempo atrás. Se tivesse um tapete aqui, eu acho que eu já tinha caído da cadeira também”, declarou Tebet.
Em seguida, ela lembrou que setores do MDB tentaram levar o partido a uma aliança com Lula.
“O que me trouxe até aqui? Tive que vencer uma maratona com muitos obstáculos. Nós tivemos oito candidatos, e eu permaneci. Passou o Natal, virou o Ano Novo, chegou o Carnaval, disseram que o partido seria cooptado. Depois, que iria para uma outra candidatura. Tentaram, numa fotografia recente, levar o partido para o ex-presidente Lula”, disse a candidata.
Políticas para mulheres
Simone Tebet responde sobre candidaturas de mulheres
Tebet, primeira líder da bancada feminina do Senado, defendeu durante a entrevista políticas públicas voltadas para mulheres. Ela disse que, se eleita, vai dar prioridade a um projeto que estabelece salários iguais entre mulheres e homens que exerçam as mesmas funções.
“Se eu virar presidente, o primeiro projeto que eu vou pedir para pautar na Câmara dos Deputados é igualdade salarial entre homens e mulheres. A mulher ganha 20% menos que o homem, exercendo a mesma função, a mesma atividade. Se for negra, se for preta, ela recebe 40% menos. Me explique qual a lógica disso”, disse a candidata.
Questionada sobre o fato de 66% das candidaturas de seu partido serem de homens e 33% de mulheres, Tebet argumentou que o MDB não está abaixo de outros partidos.
A candidata também defendeu um projeto que prevê pelo menos 30% dos postos nas direções-executivas dos partidos ocupados por mulheres.
“A mulher vota em mulher se ela souber que tem uma mulher competitiva, corajosa, que tem currículo, que trabalhe. Quantas mulheres de chão de fábrica? Quantas professoras? Quantas líderes comunitárias? Quantas mulheres das comunidades têm condições e liderança? Então, quando nós tivermos 30% de mulheres nas executivas, nós vamos fazer a diferença”, ressaltou.
Acabar com o ‘presidencialismo de cooptação’
Tebet foi questionada sobre como lidará, em um eventual governo, com os políticos poderosos do MDB que se envolveram em escândalos de corrupção, como o mensalão e o petrolão. A candidata afirmou que, se eleita, governará “com a maioria do centro democrático, da frente democrática”.
“Eu não sou mais candidata do MDB. Eu sou candidata do MDB, do PSDB, do Cidadania, do Podemos e de uma legião de pessoas que não querem mais voltar ao passado e muito menos permanecer no presente. Então, diante disso e com esse corpo de pessoas de bem, éticos, honestos, é que nós vamos, ganhando as eleições – se nós ganharmos as eleições –, governar com a maioria do centro democrático, da frente democrática”, disse.
Questionada sobre a composição de uma eventual base aliada, a candidata disse que exigirá apenas duas características para os indicados para a Esplanada dos Ministérios: honestidade e competência.
Ela disse que, no atual modelo político do país, o presidencialismo deixa de ser de coalizão (aliança entre partidos afins) e passa a ser de “cooptação” (quando as alianças são meramente em troca de cargos e poder).
“Nós temos que deixar de lado esse chamado presidencialismo de coalizão, que na verdade é de cooptação, que aconteceu no mensalão no passado. Compraram a consciência dos parlamentares para tentar uma reeleição. Foram descobertos, voltaram com o petrolão, fatiaram a maior estatal do Brasil e colocaram ali inclusive gente do meu partido, que você tem razão, e do partido do atual presidente da República”, argumentou a candidata.
Críticas ao orçamento secreto
Tebet também fez críticas ao orçamento secreto, nome dado para as emendas de relator. Elas obedecem a filtros menos transparentes que outras emendas e são distribuídas com base em critérios arbitrários.
“Por que o orçamento brasileiro está na mão do Congresso? Porque nós temos um governo que não planeja nada. Ele não sabe onde quer chegar, para onde ele quer ir, não tem projeto de país e, com isso, o dinheiro fica solto. Cada um faz um puxadinho, daqui a pouco essa casa cai. Porque o alicerce, a base, não foi feito o dever de casa, que é o orçamento”, criticou Tebet.
Ela disse que vai ampliar a transparência dessas emendas, o que, segundo a candidata, vai coibir a prática do pagamento pouco criterioso da verba.
“Orçamento secreto não é com diálogo só [que resolve o problema], é com transparência. Com um único ato, uma portaria exigindo que todos os ministros abram as contas de seus ministérios”, afirmou.
“A partir do momento em que a gente abre essas contas, a gente basicamente coloca os órgãos de fiscalização e controle. O orçamento secreto acaba rapidinho”, completou.
Erradicação da miséria
Tebet afirmou que uma das metas dela, caso eleita, é erradicar a miséria no país em quatro anos.
“Quando nós falamos em erradicar a miséria, é, de um lado garantir, a transferência de renda para quem está precisando. Isso vai cair à medida que ele [o cidadão] vai entrando no mercado de trabalho. Do outro lado, é garantir escola de qualidade”, afirmou a candidata do MDB.
Em outro momento da entrevista, Tebet citou que um projeto de lei, relatado por ela no Senado, servirá de base para a iniciativa. A proposta trata da criação de uma Lei de Responsabilidade Social que prevê a criação de benefícios sociais e metas para a redução da pobreza.
Segundo a candidata, a erradicação da miséria por meio desse projeto depende de “duas coisas que estão acontecendo: reforma tributária e o Brasil voltar a crescer”, completou.
“Quando o Brasil voltar a crescer e gerar emprego, você também diminui [a miséria]. Então, não é erradicar a pobreza só com dinheiro público. E, erradicar a pobreza, não é dando só transferência de renda. É dando o peixe ensinando a pescar”, argumentou.
Filas na saúde
A candidata do MDB à Presidência voltou a defender a decretação de estado de calamidade pública ou de emergência para custear um programa de repasses a prefeitos a fim de zerar as filas em procedimentos atrasados no SUS em razão da pandemia da Covid.
“Nós podemos decretar continuidade, estado de calamidade ou estado de emergência para fim de… Porque dinheiro tem, às vezes não tem o teto. Para fim de dizer para o prefeito: ‘Cumpra sua parte, faça os exames, mande a nota e nós vamos pagar’”, afirmou.
Segundo a senadora, a iniciativa abriria espaço no orçamento da União e permitiria, em dois anos, “zerar as filas do passivo” das “sequelas da Covid”. A iniciativa, de acordo com ela, não alcançaria as “filas permanentes” do sistema.
“O governo abriu calamidade pública, estabeleceu que tudo era calamidade pública para gastar dinheiro que não tem, para emitir títulos, para furar teto. Para fazer orçamento secreto, para cobrir gastos que não são da pandemia”, argumentou.
Reforma tributária
Simone Tebet responde sobre reforma tributária
Tebet foi questionada sobre seus planos para a reforma do Imposto de Renda. Em resposta, disse que vai priorizar a reforma dos impostos sobre o consumo – que, segundo ela, penalizam os mais pobres.
Tebet disse que a proposta defendida por ela já tramita no Congresso e, por isso, poderia ir à sanção nos primeiros seis meses de seu eventual governo.
“A mais importante [reforma tributária] hoje é a do consumo. Porque quem mais paga imposto no Brasil é o pobre. É o que mais consome. Proporcionalmente à renda, quanto você deixa no supermercado, quanto eu deixo? E quanto o pobre deixa no supermercado? Ele deixa metade, pouco mais da metade do salário dele”, pontuou.
Segundo Tebet, a proposta simplifica os impostos sobre o consumo, permitindo que empresas economizem R$ 60 bilhões por ano em trâmites burocráticos.
“Indo para o lado do mais pobre, ele vai comprar e ele vai ter devolvido no sistema – isso não é projeto nosso, já está há dois anos e todos os governadores concordaram, pela primeira vez na história – o imposto que a dona de casa mais humilde paga, no próprio CadÚnico, no cartão dele”, declarou.
Tebet foi questionada então, pela segunda vez, sobre a reforma do Imposto de Renda. Disse que pretende elevar a faixa de isenção para favorecer a classe média – mas que a medida depende da taxação sobre lucros e dividendos, o que afeta a parcela mais rica da população
“Eu sou a favor da taxação de lucros e dividendos, e essa é uma discussão madura que nós temos, com todo equilíbrio, mas com toda a verdade, que colocar para a população”, ressaltou.
“Eles já sabem disso, isso está no nosso programa e a gente mexe no Imposto de Renda na medida em que cobra essa taxa de lucros e dividendos dos ricos. É a Lei Robin Hood, mas nós não vamos roubar de ninguém, nós vamos pedir a eles que contribuam minimamente para um país que é o mais rico do mundo com o povo mais pobre”, argumentou Tebet.
FGTS para informais
Simone Tebet responde sobre trabalho informal
Tebet foi questionada, ainda, sobre a proposta incluída em seu plano de governo de criar um “seguro de renda” para trabalhadores informais.
O Brasil tinha cerca de 39,3 milhões de trabalhadores informais em julho, segundo o IBGE – 4 em cada 10 trabalhadores do país.
Ela foi perguntada sobre como financiar essa proposta. Disse apenas que “tem o cálculo” e “vai ser devidamente detalhado” nos próximos dias.
A candidata explicou, em linhas gerais, o desenho da proposta.
“É um FGTS para os informais que estão no Auxílio Brasil, e já tem números e valores. A cada declaração, ele vai dizer o quanto ele realmente ganha na informalidade. É um pedreiro, trabalha uma vez por semana e ganha R$ 150, R$ 190 na semana. Então ele chegou no final do mês, recebeu R$ 800, nós vamos depositar 15% [desse valor]”, disse.
“É uma forma de a gente garantir que em algum momento ele possa excepcionalmente, duas vezes por ano, levantar – e não é para efeito de previdência, é para efeito de sobrevivência mesmo –, ele não passar mais necessidade.
Ele poderia [sacar] excepcionalmente em alguns casos”, concluiu.
Tebet foi a quarta e última entrevistada da série do JN com os candidatos. Antes dela, o candidato à reeleição do PL, Jair Bolsonaro, foi entrevistado na segunda-feira (22); Ciro Gomes (PDT), na terça-feira (23); e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na quinta (25).
Foram convidados os cinco candidatos mais bem colocados na pesquisa divulgada pelo Datafolha em 28 de julho. André Janones (Avante), que estava entre os cinco, retirou a candidatura.
Um sorteio realizado em 1º de agosto com representantes dos partidos definiu as datas e a ordem das entrevistas.
Por Beatriz Borges, Mateus Rodrigues, Kevin Lima, g1/Fotos: Divulgação