Delegado convoca para interrogatório cúpula da PF no caso Milton Ribeiro

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O delegado da Polícia Federal Bruno Calandrini, responsável pela investigação sobre os desvios no Ministério da Educação (MEC), convocou dois delegados da cúpula da PF para serem interrogados sobre a operação que teve como alvo o ex-ministro Milton Ribeiro.

Calandrini quer interrogar Rodrigo Piovesano Bartolamei, chefe da Superintendência de São Paulo, a maior do país, e Caio Rodrigo Pellim, diretor da área de combate ao crime organizado e número 3 da PF, sobre a suspeita de interferência na investigação que levou à prisão de Ribeiro.

Na prática, a convocação para interrogatório significa indiciamento, segundo o blog apurou com fontes do Judiciário e da PF.

A investigação envolvendo Milton Ribeiro abriu uma guerra interna na PF.

Os ofícios comunicando as convocações foram encaminhados na segunda-feira (19) ao diretor-geral da PF, Marcio Nunes de Oliveira. Os interrogatórios estão marcados para o dia 28 deste mês. Procurada, a Polícia Federal respondeu que não se manifesta a respeito de investigações em andamento.

A defesa dos delegados será feita pela Advocacia Geral da União (AGU). A avaliação deles é que há irregularidade na investigação pois qualquer investigação sobre desvios de conduta de delegados deveria ser feita na primeira instância.

O caso está no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria da ministra Cármen Lúcia, após a primeira instância – que autorizou a prisão – entender que poderia ter ocorrido a participação de Bolsonaro em vazamento de informações.

A PF é subordinada ao Ministério da Justiça, dirigido por Anderson Torres, próximo à família Bolsonaro.

Uma ligação interceptada pela polícia, na qual Ribeiro afirmou à filha que o presidente lhe dissera ter tido o “pressentimento” de que ele poderia ser alvo de alguma ação, é um dos elementos que levantaram a suspeita de interferência, além do fato de Ribeiro ter ficado preso em São Paulo e não ter ido para Brasília, conforme decisão judicial.

Em mensagem num grupo de policiais, logo após a prisão de Ribeiro, Calandrini reclamou que não tinha autonomia nem independência funcional para tocar a investigação. De acordo com o site Metrópoles, ele chegou a pedir ao STF a prisão da cúpula da PF por participação no favorecimento.

A prisão de Ribeiro foi solicitada por Calandrini, mas executada em Santos pela equipe de outro delegado – Raphael Soares Astini, também alvo de suspeita de interferência na operação.

Após a operação, Calandrini virou alvo da corregedoria do órgão. Astini entrou com um habeas corpus no STF alegando ser alvo de abuso de autoridade e de investigação paralela por parte do colega.

No HC, Astini pediu não só a suspensão do inquérito conduzido por Calandrini como o “trancamento/arquivamento das investigações” contra ele e os demais policiais.

Ele cita ainda as oitivas de dois delegados, Vinícius Araújo Lima e Daniel Daher, alegando que elas não se encontram juntadas aos autos.

O presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, em imagem de 4 de fevereiro de 2022. — Foto: Adriano Machado/Reuters

O presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, em imagem de 4 de fevereiro de 2022. — Foto: Adriano Machado/Reuters

Sindicância

Outro ponto que levantou a discussão sobre eventual interferência foi o fato de Ribeiro ter sido levado, após a prisão, para a Superintendência da PF em São Paulo.

Em mensagens enviadas para Astini durante a operação, Calandrini – o responsável pela investigação – disse que Ribeiro “jamais” poderia ir para a superintendência na capital. Calandrini queria que o ex-ministro fosse para Brasília, conforme determinação da Justiça Federal, ou ficasse no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Vicente.

Astini, entretanto, alegou que Ribeiro não poderia ir para o CDP porque era advogado de formação. E a direção da PF alegou questões de custos: como a operação não havia previsto o uso de aeronave da PF, determinou em mensagem para Astini, que estava em Santos, que transferisse, sim, Ribeiro para a superintendência paulista, o que acabou acontecendo.

A Corregedoria da PF instaurou um procedimento interno, que concluiu não ter ocorrido irregularidade.

“A ausência de um planejamento operacional mínimo para a deflagração e logística para traslado do preso, além de uma provável falta de organização e diálogo, contribuíram para as questões que acabaram impactando na preparação da logística. Neste contexto, não se verificou elementos trazidos para a sindicância que permitam afirmar algum prejuízo para a investigação, sem prejuízo de o presidente do IPL avaliar e informar com outros elementos”, diz um documento anexado ao HC apresentado por Astini ao STF.

No HC, Astini afirma ainda que Calandrini “pode estar usando os autos como forma de vingança pessoal” por ter ficado exposto na discussão que concluiu pela falta de planejamento da operação.

Procurado, Calandrini não se manifestou.

Por Andréia Sadi e Julia Duailibi/G1

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