Com Raquel Lyra em luto, campanha se reinventa sob comando da vice em PE

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A campanha da candidata a governadora de Pernambuco pelo PSDB, Raquel Lyra, traçou novas tarefas entre os aliados para seguir as articulações após a morte do marido da postulante.

O empresário Fernando Lucena, 44, marido de Raquel e com quem a ex-prefeita de Caruaru tem dois filhos, morreu após um mal súbito no domingo (2), dia do primeiro turno das eleições. O velório e o sepultamento aconteceram no mesmo dia do falecimento, em Caruaru, no agreste pernambucano.

A morte tomou conta do noticiário local na manhã do domingo das eleições, gerando mensagens solidárias por parte de adversários e aliados de Raquel Lyra.

Em paralelo, a tristeza e o choque pelo acontecimento se abateram na campanha de Raquel, após dias de euforia diante da iminente possibilidade de chegar ao segundo turno da eleição estadual.

No dia anterior, Raquel havia feito uma carreata para encerrar a campanha do primeiro turno em Caruaru, seu berço político.

Diante da morte repentina do marido, Raquel se afastou das atividades políticas temporariamente para vivenciar o luto junto à família. No domingo, ela foi votar discretamente durante a tarde e, em seguida, foi para o sepultamento de Fernando Lucena.

A coordenação da campanha foi assumida pela candidata a vice-governadora na chapa, a deputada estadual Priscila Krause (Cidadania).

Desde a segunda (3), Priscila tem recebido e articulado novos apoios oriundos de prefeitos, vereadores e deputados de Pernambuco que não apoiavam Raquel no primeiro turno.

Raquel Lyra deverá voltar às atividades de campanha na próxima semana, dias após a missa de sétimo dia do marido.

Jornalista, Priscila Krause é filha do ex-governador e ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente Gustavo Krause. É um dos principais nomes na oposição ao governo Paulo Câmara (PSB) no estado. A candidata a vice-governadora tem, entre suas principais bandeiras, a fiscalização dos gastos públicos.

Raquel e Priscila têm investido, durante a campanha, em acenos ao eleitorado feminino com a possibilidade de serem duas mulheres a governar conjuntamente o estado pela primeira vez.

Uma das estratégias também será a comparação de Priscila Krause com o candidato a vice da chapa de Marília Arraes (Solidariedade), o deputado federal Sebastião Oliveira (Avante-PE), ex-secretário de Transportes do governo Paulo Câmara. A atual gestão é criticada pela oposição por problemas nas estradas estaduais.

“O fato de Priscila ter assumido o comando da campanha até Raquel retornar é uma chance da gente fazer o comparativo, não só de Marília e Raquel, porque o vice pode assumir em alguns momentos. Então é importante comparar Priscila com Sebastião Oliveira”, afirma o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania-PE), um dos articuladores da campanha.

Outra dificuldade encontrada pela campanha de Raquel Lyra na largada do segundo turno foi a preparação para o programa eleitoral no rádio e na televisão.

A coligação encabeçada pelo PSDB pediu à Justiça Eleitoral o adiamento do início da propaganda em razão do luto de Raquel Lyra, que ficou sem condições para gravar os vídeos. Em parecer, o Ministério Público Eleitoral concordou com a possibilidade de adiamento para começar na segunda-feira (10), desde que a chapa adversária aceitasse a postergação.

No entanto, a coligação de Marília definiu que queria começar a propaganda conforme o calendário eleitoral, na sexta (7). Em nota, a chapa de Marília prestou solidariedade a Raquel Lyra, mas reafirmou a intenção de cumprir à risca as datas.

Diante do posicionamento, a Justiça Eleitoral indeferiu o pedido da coalizão de Raquel Lyra.

A campanha de Raquel nega que haja mágoa internamente por causa do episódio. “Política não pode ser tratada como mágoa, campanha não é de ter revanchismo nem ter raiva e ódio de ninguém”, diz Daniel Coelho.

O primeiro programa eleitoral, na sexta, teve vídeos já gravados durante o primeiro turno pela candidata e lembranças da trajetória de Raquel.

A propaganda da candidata do PSDB também mostrou uma homenagem ao marido de Raquel Lyra. No final da sua peça no rádio e na TV, Marília Arraes manifestou pesar a Raquel Lyra. As duas candidatas disputam o posto de primeira governadora de Pernambuco e têm um histórico de afagos.

Até o retorno da candidata à atividade de campanha, estão suspensos atos como caminhadas, passeatas e distribuição de adesivos nas ruas.

No retorno, aliados esperam uma manifestação de Raquel Lyra em relação ao segundo turno da eleição presidencial. Até o momento, ela não se pronunciou sobre o assunto.

Raquel Lyra foi deputada estadual pelo PSB por dois mandatos. Deixou o partido em 2016, após a legenda barrar sua intenção de ser candidata a prefeita de Caruaru. Diante disso, ela foi para o PSDB e venceu o pleito, tendo sido reeleita em 2020.

A família de Raquel Lyra teve um histórico de luta contra a ditadura militar (1964-1985). Nos bastidores, aliados dizem que ela é refratária ao presidente Jair Bolsonaro (PL). A tese da neutralidade tem ganhado força nos bastidores, mas não está descartado voto crítico em Lula (PT).

O tio de Raquel, Fernando Lyra (1938-2013), foi candidato a vice na chapa de Leonel Brizola (1922-2004), do PDT, em 1989. O pai de Raquel, o ex-governador João Lyra Neto (PSDB), foi filiado ao MDB no ápice do regime. A sigla emedebista fazia oposição à ditadura.

Apesar do histórico familiar de Raquel, a campanha de Marília Arraes investirá na nacionalização da eleição pernambucana. Com o apoio de Lula no segundo turno, a candidata do Solidariedade pretende reforçar os vínculos com o petista e cobrar posicionamento de Raquel a partir do retorno da tucana à campanha política.

No primeiro pronunciamento após o primeiro turno, Marília já iniciou a nova linha de campanha. Associou-se a Lula e classificou a candidatura de oposição como “bolsonarismo pintado de outras cores”. A fala gerou reações de apoiadores de Raquel, alegando que Marília partiu para a ofensiva sem supostamente respeitar o luto da adversária.

O PT cogitou um apoio a Raquel Lyra no segundo turno dentro de uma construção com o PSDB envolvendo o ex-governador Eduardo Leite no Rio Grande do Sul, mas não obteve garantias via emissários de que a candidata declararia voto em Lula, tampouco o gaúcho, que declarou neutralidade na sexta.

Nos últimos dias, Raquel tem recebido apoio de diversas correntes políticas, inclusive quadros bolsonaristas. Mesmo assim, dois prefeitos do PT de cidades do interior do estado devem apoiá-la.

José Matheus Santos/Folhapress

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