Definir a equipe ministerial é sempre uma tarefa complexa, mas o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai exigir um nível adicional de articulações políticas. A escolha do time vai precisar equilibrar visões de uma frente ampla que reuniu dez partidos, além de economistas de diferentes correntes e empresários.
Entre as pastas que devem ficar para o próprio PT estão as da área econômica. É dado como certo que o superministério comandado hoje por Paulo Guedes será desmembrado, mas o formato final e a definição de funções vão ficar a cargo do próprio futuro ministro.
Dentro do PT, os mais cotados para a área econômica são o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que também é citado para outras funções (como negociador político ou ministro da Saúde); o senador eleito Wellington Dias (PT-PI); e Fernando Haddad, que disputou e perdeu o governo de São Paulo.
Pessoas próximas a Lula dizem que o destino de Haddad é uma incógnita. Seu nome é mencionado para a área econômica, mas o presidente eleito também já teria indicado querer o aliado novamente no Ministério da Educação (pasta que o paulista já ocupou).
Correndo por fora está Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco Central de Lula e ministro da Fazenda de Michel Temer (MDB). Ao anunciar nesta segunda que coordenará a expansão da ACCrédito, braço financeiro da Associação Comercial de São Paulo que se prepara para virar um banco digital, Meirelles afirmou que “não teria maiores problemas” em deixar essas atividades para integrar o governo de Lula.
Pérsio Arida, por sua vez, é nome próximo do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB). O economista é um dos pais do Plano Real e abriu o voto em Lula no segundo turno. Outro nome popular entre o mercado é o do economista Armínio Fraga, que também apoiou o petista no segundo turno.
Uma indicação dos economistas liberais, porém, sofre resistência política por serem nomes historicamente associados ao PSDB.
Lula gostaria, e não conseguiu em outras tentativas, que Luiz Carlos Trabucco aceitasse assumir a Fazenda. Hoje ele é presidente do conselho de administração do Bradesco.
O economista André Lara Resende, outro pai do Real que apoiou Lula, não deve ter cargo de gestão. Pode ser indicado para representar o Brasil em algum organismo internacional, como o Banco Mundial ou o FMI (Fundo Monetário Internacional), ou atuar como um formulador de políticas públicas.
MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO DEVE SER RECRIADO; VEJA COTADOS
O novo ministro da Fazenda, caso a nomenclatura anterior seja reconstituída, definirá o modelo para a reimplantação das pastas aglutinadas à Economia. Um exemplo é o futuro Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
Já se sabe que o Planejamento terá a responsabilidade de participar da reforma administrativa e, tudo indica, também deve acompanhar um amplo plano de obras, uma espécie de reedição do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
A ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior é uma das apostas de petistas para ter um cargo de comando do programa de obras de infraestrutura.
Se um não petista ocupar o posto de ministro da Fazenda, é dado como certo que haverá representante do partido no Ministério do Planejamento. Os mais cotados são Haddad, Aloizio Mercadante e Gleisi Hoffmann. Nesse caso, também são considerados Wellington Dias e o governador Rui Costa, em final de mandato, também cotado para a Casa Civil. aqui).
Lula falou muito durante a campanha que um orçamento participativo irá substituir o chamado orçamento secreto, sistemática que reserva quase R$ 19 bilhões da despesa discricionária federal para emendas parlamentares em 2023. Se algo nessa linha for implementado, o nome de Hoffmann ganha espaço.
Ainda não está certo quem fica com a Secretaria de Orçamento Federal, crucial para o começo do governo —já que é preciso ampliar despesas de forma significativa no ano que vem, de acordo com o plano do PT. Assim, essa atribuição tanto pode ir para o Planejamento como ficar sob a tutela do Ministério da Fazenda (modelo mais próximo ao atual).
FELIPE SALTO E BERNARD APPY SÃO COTADOS PARA SECRETARIAS
Entre os primeiros nomes que podem ocupar secretarias na área estão os economistas Felipe Salto, que poderia ir para a Secretaria do Tesouro Nacional, e Bernard Appy —ainda sem cargo definido, mas com missão certa de destravar a reforma tributária.
Appy foi secretário de Política Econômica e também titular da Secretaria Extraordinária de Reformas Econômico-Fiscais, ambas ligadas ao Ministério da Fazenda, durante os governos Lula. Especialista em tributação, hoje é diretor do CCiF (Centro de Cidadania Fiscal) e coautor de uma das principais propostas de reforma tributária discutidas nos últimos anos, a PEC (proposta de emenda à Constituição) 45.
Também deve ser criado um Ministério do Empreendedorismo e da Economia Criativa, que viria para repor as funções da secretaria de Micro e Pequena Empresa, que tinha status de ministério.
TEBET PODE FICAR COM AGRICULTURA; MÁRCIO FRANÇA. COM MINISTÉRIO DE INDÚSTRIA, COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS (MDIC)
O futuro titular de um eventual Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços ainda está indefinido. O PSB de Alckmin pediu para comandar a pasta e, se for atendido, um dos principais cotados é Márcio França, derrotado na disputa por uma vaga no Senado por São Paulo.
Ministérios relacionados à economia de forma indireta também podem ter nomes de peso.
Para o Ministério da Agricultura, um nome agora recorrente é o da senadora Simone Tebet (MDB). Terceira colocada na disputa à Presidência no primeiro turno, ela apoiou a campanha e sua presença no ministério de Lula é encarada como uma certeza.
O ministro da Agricultura no próximo governo Lula terá a função adicional de reforçar ao mundo a imagem de que o agronegócio brasileiro é alinhado com a defesa do ambiente.
Aliados de Tebet dizem que ela preferia ocupar a Educação, mas a tendência é que a pasta fique com o PT.
São ainda citados como opções para comandar a Agricultura o deputado Neri Geller (PP-MT) e o senador Carlos Fávaro (PSD-MT).
O PT também quer reforçar a pasta que cuidará da área social, inclusive com reedição do Bolsa Família. Para isso, o nome mais lembrado entre aliados de Lula é o da ex-ministra de Desenvolvimento Social Tereza Campello.
PRATES PODE ASSUMIR PETROBRAS; GALÍPOLO, BNDES
Um dos nomes citados para o Ministério de Minas e Energia é o do senador Jean Paul Prates (PT-RN), atuante na área de energia. Historicamente, a área era de influência do MDB. A tradição foi quebrada na gestão de Jair Bolsonaro (PL), mas pode ser reconstituída por Lula —nesse caso, Prates, que teve forte atuação no setor de óleo e gás, também é visto como forte opção para assumir a Petrobras.
Mas a indicação deve enfrentar algumas barreiras no estatuto da Petrobras, que veda, entre outros, a indicação de pessoa que atuou, nos últimos 36 meses, como participante de estrutura decisória de partido político.
A bolsa de apostas para ocupar a presidência de bancos públicos mal foi aberta.
O economista Gabriel Galípolo pode ser indicado para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social). Ex-presidente do banco Fator, ele atuou na campanha como um conselheiro econômico de Lula e é bem-visto no partido.
Para o Banco do Brasil e para a Caixa Econômica Federal, são esperados nomes mais técnicos.
Alexa Salomão/Thiago Resende/Julia ChaibFolhapress