O resultado das eleições estaduais colocou mais rapidamente no centro das atenções políticas a disputa pela Prefeitura de Salvador, que ocorrerá daqui a dois anos, do que a discussão sobre a montagem do secretariado do governador eleito, Jerônimo Rodrigues (PT). Parte da relativização do interesse sobre os passos do próximo governo pode ser atribuído ao fato de se tratar de uma gestão de continuidade, apesar da promessa de Jerônimo de promover um choque administrativo, atacando setores que a campanha revelou estarem em xeque aos olhos da sociedade, a exemplo da Saúde, da Educação e, principalmente, da Segurança Pública.
Natural que as opções a serem feitas pelo futuro governador e a dança de cadeiras que emergirem delas estejam, neste momento, provocando mais interesse no grupo que o apoiou, ao qual se agregou o MDB dos irmãos Vieira Lima, considerado uma peça chave no sucesso eleitoral do petista, do que propriamente na oposição, cuja dimensão e fisionomia só ficarão mais claros depois da posse e das primeiras medidas da nova gestão. Ambas as forças políticas, no entanto, estão desde o momento em que a eleição foi definida, ainda na noite do dia 30 de outubro, igualmente atentas aos desdobramentos do pleito sobre a sucessão do prefeito Bruno Reis (União Brasil), em 2024.
O pano de fundo para a movimentação precoce, principalmente no lado governista, é a derrota imposta ao ex-prefeito da capital ACM Neto (União Brasil), que, há dois anos, fez do amigo e principal aliado Bruno seu sucessor, apesar de a votação com que largou em Salvador no segundo turno em relação ao vencedor, de quase 500 mil votos, ser uma garantia de que continua firme e forte aos olhos do eleitorado da cidade que comandou por dois mandatos seguidos. Como prefeito, Bruno é também candidato natural do grupo e do seu partido à própria sucessão, o que, de cara, pacifica o time netista em relação à disputa.
Além disso, se tudo correr como esperado, o mais provável é que sua gestão esteja chegando ao apogeu no momento em que a sucessão entrar, oficialmente, em pauta. Do lado do governo, portanto, é que a cobiça pela tomada do Palácio Thomé de Souza se acentua, a ponto de possibilitar o surgimento de especulações, muito cedo, sobre um eventual desejo do governador Rui Costa (PT) de se envolver nominalmente na disputa. Além dele, o outro nome que circula com alguma desenvoltura no grupo para disputar em 2024 a Prefeitura é o do vice-governador eleito, Geraldo Jr. (MDB).
Fortalecem a hipótese as especulações de que seu lançamento teria feito parte do acordo que resultou no apoio do MDB a Jerônimo. Fazendo a linha independente, embora com conexões com o PT local, ao qual prestou serviço inestimável contra Neto principalmente no primeiro turno, quem também pode colocar seu nome à apreciação do eleitorado soteropolitano é o deputado federal João Roma (PL), que perdeu a disputa ao governo e, consequentemente, o mandato na Câmara. Ao nomes de Rui, Geraldo Jr. e Roma, pode ser ainda agregado, no mesmo campo da oposição ao prefeito, o do presidente do Esporte Clube Bahia, Guilherme Bellintani, que já iniciou seu ensaio.
Artigo do editor Raul Monteiro.
Raul Monteiro