Lula se mobiliza para tentar reeleger Pacheco e barrar enclave bolsonarista no Senado

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Foto: Roque de Sá/Arquivo/Agência Senado

O Congresso Nacional elege nesta quarta-feira (1º) o seu novo comando, com cenários distintos na Câmara e no Senado.

Arthur Lira (PP-AL) tem amplo apoio para conquistar mais dois anos de mandato à frente da Câmara. No Senado, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mobiliza ministros e outros meios para tentar reeleger Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e evitar o surgimento de um enclave bolsonarista no centro do poder da casa legislativa.

A eleição nas duas Casas terá início à tarde, logo após a posse dos 513 deputados federais e 27 senadores —as outras 54 cadeiras do Senado não entraram em disputa em outubro.

O Senado é o lugar onde haverá disputa mais acirrada. Com o apoio de Lula, Pacheco tenta a reeleição contra Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e candidato da sua base radical de apoio.

A mobilização do governo em prol de Pacheco contraria as afirmações de Lula de que não iria interferir na disputa do comando do Congresso e mostra uma reedição do embate de outubro, em que o petista venceu Bolsonaro por uma margem estreita de votos.

Pacheco conta com um arco de aliança mais robusto. Como a eleição é secreta, Marinho aposta em traições para surpreender.

Uma vitória do senador do PL levaria o Senado a ser o foco mais claro da oposição a Lula, já que Arthur Lira se moveu do bolsonarismo para o lado petista desde o resultado das eleições presidenciais.

Nesta terça-feira (31), Marinho conseguiu o apoio público do ex-ministro Sergio Moro (União Brasil-PR), de integrantes do PSDB e de uma dissidência dentro do próprio PSD, sigla de Pacheco.

Moro justificou sua decisão afirmando que decidiu por “uma oposição firme” ao governo do PT e que a opinião majoritária de seus eleitores é por esse posicionamento.

Além do ex-juiz, o bolsonarista Alan Rick (União Brasil-AC), senador eleito, anunciou que votará em Marinho.

O atual presidente do Senado, por outro lado, deve contar com a campanha de ao menos seis ministros de Lula nesta quarta.

“Acho que o governo está se movimentando republicanamente, no que pode ajudar. O Brasil não precisa, na presidência do Senado, de um líder da oposição, para manter a tensão, a briga com outros Poderes”, afirmou Renan Filho (MDB-AL), que se elegeu senador e é o atual ministro dos Transportes.

No PSD, o voto de senadores em Marinho já estava no radar de Pacheco. O anúncio foi feito nesta terça por três integrantes da bancada de 15 parlamentares, entre eles Samuel Araújo (PSD-RO), que momentos antes havia participado de um almoço na casa do senador Weverton Rocha (PDT-MA) em apoio a Pacheco.

Segundo pessoas que estiveram no encontro, Araújo afirmou que votaria no colega de partido.

Outro integrante do PSD que anunciou voto em Marinho foi Lucas Barreto (PSD-AP) —rival político de Davi Alcolumbre (União-AP) e de Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A terceira adesão a Marinho dentro do PSD veio de Nelsinho Trad (MS).

Alcolumbre é o principal cabo eleitoral de Pacheco. Presidente do Senado até o início de 2021, ele foi o responsável por fazer o senador de Minas seu sucessor e tem pretensão de voltar ao cargo em 2025.

Eduardo Girão (Podemos-CE) também é candidato à presidência do Senado, mas não tem apoio nem em seu partido. Se nenhum deles obtiver maioria dos votos, a disputa vai para o segundo turno entre os dois mais bem colocados.

Aliados de Pacheco dizem esperar um mínimo de 46 dos 81 votos em disputa (ele recebeu 57 na eleição de 2021). Já apoiadores de Marinho afirmam que as traições serão suficientes para a eleição do oposicionista.

O PL de Bolsonaro elegeu a maior bancada de deputados (99 dos 513). No Senado, também reuniria o maior número (13 das 81 cadeiras), mas migrações ocorridas nos últimos dias levaram o PSD de Pacheco a superar esse número (15).

O PT também cresceu na Câmara e no Senado, mas as legendas de esquerda somam apenas um quarto das cadeiras nas duas Casas.

Partidos de centro e de direita são maioria no Congresso que toma posse nesta quarta, o que levou Lula a tentar atrair PSD, MDB e União Brasil com a distribuição de nove ministérios a essas siglas.

Mesmo assim, o petista precisará de apoio de parte do centrão (PP, PL e Republicanos) para ter uma base de apoio suficiente para aprovar emendas à Constituição, que necessitam do voto de ao menos 60% dos parlamentares.

Na Câmara, Arthur Lira e Lula se aproximaram após a vitória do petista nas eleições de outubro.

Enquanto o petista abriu mão de lançar um concorrente contra o líder do centrão, devido à fragilidade da esquerda, Lira pavimentou a aproximação com o PT com o imediato reconhecimento público da vitória de Lula. Ele também conduziu a aprovação da PEC que deu fôlego orçamentário ao novo governo e a reação contra os vândalos golpistas do dia 8 de janeiro.

Até a tarde desta terça, apenas Chico Alencar (PSOL-RJ) e Marcel Van Hattem (Novo-RS) haviam se colocado como concorrentes à presidência da Câmara, mas as chances de ambos são irrisórias.

Com isso, aliados de Lira trabalham para que ele tenha o recorde de votos em uma eleição desde a redemocratização, posto ocupado até agora por Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), em 1991; e João Paulo Cunha (PT-SP), em 2003 —ambos foram eleitos com 434 votos em primeiro turno.

Tanto na Câmara como no Senado, os últimos dias foram marcados pela divisão dos demais postos de comando no Legislativo, em negociações feitas pelos candidatos com os partidos.

O PL, por exemplo, foi convencido por Lira a ceder o comando da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara para o PT, com o compromisso de comandar o colegiado em algum dos próximos anos.

O PL, com 99 deputados, e o PT (68) serão as duas maiores forças na legislatura que se inicia. As regras da Câmara sobre prioridade para escolha de cargos na Mesa Diretora e de comissões temáticas levam em consideração o tamanho das bancadas na eleição, mas essas escolhas passam sempre por acertos políticos e estão sujeitas também à eleição desta quarta.

Além da presidência, Câmara e Senado escolherão, cada um, dois vice-presidentes, quatro secretários e quatro suplentes.

Thaísa Oliveira , Danielle Brant , João Gabriel , Cézar Feitoza , Victoria Azevedo , Julia Chaib e Ranier Bragon/Folhapress

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