Os novos deputados estaduais tomaram posse na quarta-feira (1º) indicando um caminho de maioria folgada nas Assembleias Legislativas para a maioria dos novos governadores.
Deputados que foram eleitos em partidos de oposição aderiram já na semana da posse e vão engrossar a base aliada dos novos gestores, reduzindo a margem para um enfrentamento mais duro aos governos estaduais.
Os eleitos tomaram posse nesta semana nas Assembleias de 25 estados. Em São Paulo, os novos deputados serão empossados apenas em 15 de março, enquanto na Câmara Legislativa do Distrito Federal a posse foi em 1° de janeiro.
Os quatro governadores do PT terão maiorias tranquilas nas Assembleias. Na Bahia, Jerônimo Rodrigues terá uma base de apoio segura a despeito do resultado apertado nas urnas, onde os partidos de oposição elegeram 31 dos 63 deputados estaduais.
Ao menos 11 já aderiram ao governador, elevando a base aliada para 42 membros do Legislativo. Dentre eles estão os seis eleitos pelo PP, partido que rompeu com Rui Costa (PT) de forma ruidosa em 2022 para apoiar a candidatura ao governo de ACM Neto (União Brasil).
Os deputados se reuniram nesta semana e definiram que vão apoiar o novo governo, a despeito da postura de oposição do presidente estadual do partido, o deputado federal João Leão.
“Tivemos um diálogo com os deputados do PP e ficou definido que, naqueles pontos que dizem respeito ao interesse do estado, os deputados vão apoiar nossos projetos. Fico feliz”, afirmou o governador Jerônimo Rodrigues.
Ao menos 2 dos 4 deputados estaduais do PL estão em diálogo com o governo e não devem fazer oposição ao governador. Dentre eles está Vitor Azevedo (PL), que foi chefe de gabinete do então ministro da Cidadania João Roma no governo Jair Bolsonaro.
No Ceará, parte das bancadas da União Brasil e do PSDB indicou apoio ao governador Elmano de Freitas (PT), assim como a maioria do PDT.
Petistas e pedetistas romperam em julho de 2022, quando o PDT preteriu a governadora Izolda Cela e escolheram o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio como candidato a governador.
Alianças pouco ortodoxas também devem acontecer em outros estados. No Amazonas, por exemplo, o PT fará parte da base aliada do governador Wilson Lima (União Brasil), que foi o principal cabo eleitoral de Bolsonaro no estado e deve ter uma base com 22 dos 24 deputados.
O cenário é parecido em Mato Grosso do Sul, onde os três deputados estaduais do PT vão fazer parte da base do governador Eduardo Riedel (PSDB), que apoiou Bolsonaro na eleição presidencial.
A aproximação entre os partidos aconteceu no segundo turno da eleição de 2022, mas a aliança foi selada em janeiro. Os petistas vão comandar cargos no segundo escalão do governo tucano em áreas como agricultura familiar, direitos humanos e povos indígenas.
“Depois de muita discussão interna, resolvemos participar do governo por esse compromisso com áreas que são prioridades nossas. Porém, vamos ter liberdade de votar contra ou fazer críticas se for necessário”, afirma o petista Pedro Kemp.
No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) conseguiu trazer o PSB para sua base e agora trabalha para trazer o PL, partido com o qual teve embates duros no segundo turno da eleição estadual contra Onyx Lorenzoni.
Em estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco, fraturas na base deixam os governadores em situação menos confortável.
Em Minas, o governador Romeu Zema (Novo) sofreu um revés ao não conseguir emplacar a candidatura de seu aliado, Roberto Andrade (Patriota), à presidência da Assembleia.
Ele foi surpreendido por uma articulação que envolveu partidos adversários entre si como PT e o PL em torno do nome de Tadeu Leite (MDB), que acabou se elegendo para o comando do Legislativo em candidatura única.
Ao longo de seu primeiro mandato, Zema não conseguiu formar uma base sólida na Assembleia, tendo apenas 21 dos 77 deputados em sua base considerada fiel. A tendência é que o cenário de dificuldades no relacionamento com a Casa permaneça nos próximos quatro anos.
No Rio, o governador Cláudio Castro (PL) travou uma disputa com o próprio partido pela presidência da Assembleia Legislativa. De um lado, o governador apoiava Rodrigo Bacellar (PL), mas o núcleo duro da sigla preferia Jair Bittencourt (PL).
Após articulações de aliados de Castro, Bacellar foi eleito para o cargo como candidato único. Mas o atrito criou um racha na base do governador e o grupo ligado a Bittencourt entregou os cargos no governo. Com a tensão entre os dois grupos, a base governista permanece incerta.
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), enfrenta cenário de incógnita na montagem da sua base aliada na Assembleia, já que a coligação que a elegeu tem apenas 3 dos 49 deputados estaduais.
Com bom trânsito entre os colegas, o tucano Álvaro Porto foi eleito para a presidência da Assembleia. Mesmo tendo um aliado no comando, Lyra enfrenta insatisfações na Casa entre os que foram preteridos na montagem do secretariado.
Presente na posse, a governadora prometeu manter um “diálogo permanente” com a Assembleia. A expectativa é que ela tente construir maioria com base nos projetos.
Em geral, a eleição das Mesas Diretoras na última semana levou aliados dos governadores ao posto máximo na maioria dos legislativos estaduais.
O MDB mostrou que ainda tem protagonismo regional e será o partido com mais presidentes de Legislativos estaduais. A sigla vai comandar as Assembleias Legislativas de Minas, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Alagoas, Pará, além da Câmara do Distrito Federal.
O PL vai comandar a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e é favorita para emplacar o mesmo cargo em São Paulo com o estadual André do Prado. O PT, por sua vez, vai liderar apenas a Assembleia Legislativa do Piauí.
Em dois estados, as Assembleias serão lideradas por mulheres: Iracema Vale (PSB) vai presidir a Casa no Maranhão e Alliny Serrão (União Brasil) se elegeu no Amapá.
João Pedro Pitombo/Folhapress
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