Deltan e Beto Richa levam rivalidade da Lava Jato para corredores da Câmara

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Foto: Divulgação

“Eles eram a lei. O tempo todo escolhendo alvos a serem abatidos.” Hoje ele não me encara, não olha nos meus olhos. É um santo de pé de barro”, ataca Richa.

De lados opostos na Lava Jato e agora eleitos deputados federais pelo Paraná, o ex-governador Beto Richa (PSDB) e o ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos) travam um embate aberto.

Desde o início da legislatura, resolveram trocar acusações nas redes sociais e em entrevistas. Também já houve alfinetada lançada durante reunião da bancada paranaense em Brasília e uma proposta de um debate “olho no olho” em uma rádio na sexta-feira (17), depois cancelado.

Veterano da política paranaense, com dois mandatos de prefeito em Curitiba e outros dois no governo, o tucano tenta reconstruir sua trajetória após ser duramente atingido em plena campanha de 2018 pela Lava Jato, que tinha justamente em Deltan um de seus símbolos. O hoje deputado do Podemos deixou o Ministério Público Federal em 2021 para entrar na política e foi o mais votado do Paraná no ano passado.

Richa disse à reportagem que, se antes o colega era “todo-poderoso”, hoje os dois estão “no mesmo nível”.

“Simplesmente estou me defendendo agora. Antes eu não tinha como. Ele [Deltan] era o herói do Brasil. Tinha a força da Lava Jato por trás. Só quero que a sociedade conheça este cidadão. Quando ele era herói da Lava Jato, era fácil. Ele mandava prender, mandava soltar, promovia um linchamento público”, afirma o tucano.

Richa responde a processos judiciais até hoje, mas ele se refere ao auge da Operação Lava Jato, um período turbulento para ele e seus aliados na política. Somente entre outubro de 2018 e novembro de 2019, Richa se tornou réu em oito ações penais, e chegou a ser levado três vezes para a prisão. De principal liderança política do estado, fez apenas 3,7% dos votos válidos para senador no pleito de cinco anos atrás.

Parte das denúncias foi oferecida pelo Ministério Público Federal, com a assinatura de Deltan, no bojo de investigações ligadas à Operação Integração e à Operação Piloto. As outras denúncias —relacionadas à Operação Rádio Patrulha e à Operação Quadro Negro– foram apresentadas pelo Ministério Público estadual. Depois, a defesa de Richa e de aliados conseguiu levar todas as ações penais para a Justiça Eleitoral, e os casos ainda estão tramitando.

Procurado pela reportagem para comentar o assunto, Deltan encaminhou nota, na qual afirma que Richa é “alguém que não consegue explicar para a sociedade os crimes dos quais ele é acusado”. “Por isso, tenta fazer disso uma briga pessoal, para se vingar de quem fez seu trabalho contra a corrupção.”

Deltan disse que o trabalho feito em relação ao tucano foi “técnico” e elaborado em “grupo de 15 a 20 procuradores, com base em fatos e provas robustas de crimes”.

Na esfera política, Richa entende que o impacto das operações de investigação em plena campanha eleitoral de 2018 foi evidente – “Dallagnol me tirou a eleição”, afirma o tucano.

Depois da derrota nas urnas daquele ano, ele sumiu dos holofotes e evitou a imprensa. Chegou a ser tratado como “carta fora do baralho” por integrantes da cúpula do PSDB. Voltou a circular no meio político somente no final de 2021, já de olho nas eleições do ano seguinte.

Em outubro passado, Richa obteve 65 mil votos e não conseguiu uma cadeira na Câmara de imediato –ao final, foi diplomado no lugar do tucano Jocelito Canto, cuja candidatura acabou indeferida pela Justiça Eleitoral. Na mesma eleição, o ex-procurador recebeu 345 mil votos. Hoje, os dois são apontados como “inimigos de bancada”.

Nas redes sociais, Deltan criticou seu ex-alvo no Judiciário. “Por que Richa é deputado federal? O povo do Paraná sabe o que Beto Richa fez no verão passado, e por isso ele perdeu a eleição para o Senado em 2018 e também não obteve os votos necessários para ser eleito deputado federal em 2022. Só é deputado federal porque Jocelito Canto teve sua candidatura indeferida.”

Na mesma postagem, o ex-procurador afirma que Richa “continua a atacar a Lava Jato porque, assim como vários políticos acusados de corrupção, não consegue explicar os desvios de dinheiro”.

Richa rebate afirmando que o colega de Câmara “age de má-fé”. “Ele fez tudo que fez na Lava Jato com um único objetivo: autopromoção. A máscara caiu quando vieram à tona os diálogos promíscuos. Assassinavam reputações e ainda davam risadas. Hoje ele não me encara, não olha nos meus olhos. É um santo de pé de barro”, ataca Richa.

Para o ex-governador, o único objetivo dos procuradores da Lava Jato era “tomar o poder, criminalizando a atividade política”.

Questionado sobre se ele via o mesmo suposto objetivo em relação ao presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, que teve condenações expedidas na Lava Jato anuladas pelo Supremo Tribunal Federal, Richa disse que “só falo por mim”, mas que “ficou claro que a prática deles, no período áureo da Lava Jato, foi ilegal”. “Eles eram a lei. O tempo todo escolhendo alvos a serem abatidos.”

Além de agentes públicos e políticos, a Operação Integração, derivada da Lava Jato, mirou empresários e concessionárias de pedágio.

Os processos judiciais, contudo, foram para outra Vara Federal, já que o então juiz federal Sergio Moro (hoje senador pelo Paraná e filiado ao União Brasil) não viu conexão direta do caso com os desvios relacionados com a Petrobras e com a empreiteira Odebrecht.

Já a Operação Piloto permaneceu no escopo da Lava Jato e tem entre seus elementos uma delação da Odebrecht que aponta pagamento de propina ao grupo político de Richa. A quantia em dinheiro teria sido paga para que a empreiteira assumisse a obra de duplicação da PR-323. O tucano sempre negou todas as acusações.

Catarina Scortecci/Folhapress

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