O desembarque do ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil, nesta quinta-feira (30/3), foi um dos temas do CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília — desta terça-feira (28/3). À jornalista Ana Maria Campos, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar, falou sobre o alinhamento dos detalhes finais para a chegada do ex-chefe do Executivo federal.
Haverá um forte esquema de segurança que terá a participação da Polícia Federal. “Fizemos uma reunião importante e vamos preparar um esquema que garanta a segurança do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos cidadãos de Brasília e que estiverem em conexão no aeroporto. O ideal é que a festa do PL não ocorra no saguão do aeroporto, para não tumultuar o embarque e o desembarque de passageiros e também a segurança do ex-presidente”, disse Avelar. Ele também comentou sobre a proteção que o ex-presidente terá em seu dia a dia e também acerca do reajuste salarial para as forças de segurança do DF.
Esta semana o ex-presidente Jair Bolsonaro vai desembarcar em Brasília, depois de uma temporada nos Estados Unidos. Há certa tensão, por conta de todo o clima de polarização do país. Como a Secretaria de Segurança está se preparando para a chegada dele?
Temos feito reuniões envolvendo os demais órgãos que também têm alguma participação nesse processo de chegada do ex-presidente. Por exemplo, a Polícia Federal, que é responsável pela atuação na área primária do aeroporto (de Brasília), são os primeiros a ter esse contato na chegada do presidente; o Departamento de Trânsito (Detran) e a Polícia Militar (PMDF), cuidando do trânsito; a Polícia Civil participando com informações de inteligência para que possamos nos antecipar na eventualidade de alguma manifestação ou algo que possa criar algum problema para a segurança pública.
Tem algum indício de que vai haver uma manifestação ou algum tipo de ato a favor ou contra a chegada dele?
Há indicativo de que haverá atos de apoio. Estamos preparados para cuidar do itinerário para onde vai passar o ex-presidente e garantir que tudo transcorra na mais perfeita ordem.
Várias forças de segurança estão trabalhando (para a chegada). Mas depois, quando o ex-presidente começar a morar em Brasília, num condomínio do Jardim Botânico. Quem vai ser responsável pela segurança no dia a dia dele?
Todos os ex-presidentes têm direito a uma equipe de oito pessoas que compõem a segurança particular. O ex-presidente Bolsonaro também tem essa equipe, que faz a segurança dele no dia a dia. E compete à Polícia Militar cuidar dessa questão, onde há participação da comunidade ou haja uma maior exposição, como por exemplo no dia da chegada. É natural que pessoas queiram recebê-lo e é natural que as forças de segurança pública do Distrito Federal ajudem a controlar a segurança no itinerário por onde vai passar o ex-presidente. A partir do momento em que ele deixar o aeroporto, a responsabilidade passa a ser nossa.
Mesmo tendo sido alvo de um atentado, em Minas Gerais, na campanha de 2018, o ex-presidente Jair Bolsonaro gosta de circular. Como está sendo afinado com a equipe dele para que, quando ele sair, nada aconteça?
Esse alinhamento entre as instituições é feito assim, como nós vamos fazer hoje (ontem) à tarde (por questão de segurança o resultado da reunião não foi divulgado até o fechamento desta edição). Uma reunião onde todos estejam presentes, Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Enfim, todas essas instituições, com certeza, se preocupam em fazer o melhor para que não haja nenhum tipo de incidente. Então, essa soma de esforços é que vai fazer com que, a partir do momento que o ex-presidente decidir morar em Brasília, que também possamos ajudar essa equipe aproximada que já está com ele, que são oito pessoas, por direito, a partir do momento que ele se torna um ex-presidente.
Ele já escolheu essas pessoas?
Sim. Muitos oriundos do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e uma parte oriunda das Forças Armadas.
“Há indicativo de que haverá atos de apoio. Estamos preparados para cuidar do itinerário para onde vai passar o ex-presidente e garantir que tudo transcorra na mais perfeita ordem”
O senhor acha que ele corre risco?
Temos que trabalhar sempre com o nível elevado de estresse, isso faz parte do nosso dia a dia. Não podemos estar relaxados, achando que algum incidente jamais vai ocorrer, porque eles acontecem. Então, temos que estar sempre um passo à frente. Nossa mentalidade é que se tivermos que errar, que erremos pelo excesso de cautela, com um efetivo que seja condizente em qualquer questão relacionada ao ex-presidente, como também ao atual presidente. Porque sempre que há movimentação desse tipo de liderança, as massas também se movimentam para apoiar ou criticar. As forças de segurança pública estão muito empenhadas em garantir que nada de mau possa acontecer.
Pelo que aconteceu em 8 de Janeiro, não dá mais para pensar que não vai acontecer alguma coisa. Tem sempre que pecar pelo excesso, como o senhor falou, já que, justamente, uma confiança exacerbada pode ter provocado o que aconteceu na Praça dos Três Poderes, não é mesmo?
Sem dúvida, mas eu confio muito na Polícia Militar do DF. A nossa polícia é acostumada com grandes eventos e manifestações. Aquilo que aconteceu no dia 8 foi realmente algo completamente fora da curva. E aquilo não foi algo que tenha acontecido antes e nem vai voltar a acontecer, com certeza absoluta.
“Nossa mentalidade é que se tivermos que errar, que erremos pelo excesso de cautela, com um efetivo que seja condizente em qualquer questão relacionada ao ex-presidente, como também ao atual presidente”
Você tem conversado com os policiais militares? Como é que está o ânimo da corporação depois de tudo que aconteceu, com prisões de comandantes e também por essa suspeita em torno da Polícia Militar de ter falhado naquele dia (dos atos antidemocráticos)?
A Polícia Militar é uma instituição que merece todo o nosso respeito. Para ter uma ideia, em 2012, quando eu era secretário de Segurança, a Polícia Militar tinha aqui no Distrito Federal 15.670 homens. Naquela época a população de Brasília era de 2,6 milhões de habitantes. Hoje, passados 12 anos, a Polícia Militar tem 10,3 mil homens, e a população é de mais de três milhões. Veja que realmente há uma defasagem muito grande no número de policiais. Eles têm se esmerado em compensar isso. O governador Ibaneis Rocha (MDB), desde 2019, conseguiu fazer vários concursos. Na Polícia Militar, foram 2,5 pessoas a mais na corporação e nas demais forças mais mil. Ou seja, de 2019 para cá foram 3,5 pessoas que se incorporaram às nossas instituições ligadas à segurança pública. Mas ainda assim o efetivo hoje é muito menor do que há mais de 10 anos.
Você acha que estão sobrecarregados?
Sim, com certeza, mas estão acostumados com essa carga de trabalho, tanto que, notoriamente, eles vêm fazendo excelentes trabalhos. A partir do dia 8 de janeiro, como eu gosto de repetir, foram várias as vezes em que foram colocados à prova e se saíram muito bem. Mas acho que temos que pensar também em evoluir e encontrar ferramentas que auxiliem as forças de segurança pública. Tecnologia, por exemplo, é fundamental para que nos ajude a fazer uma segurança pública como a população merece.
O que pode ser adquirido em termos de tecnologia?
Distribuição de câmeras pela cidade. Câmeras com reconhecimento facial, que possam identificar que determinada pessoa tem contra si um mandado de prisão expedido e está circulando livremente. Tem várias formas de atuar, por exemplo, no caso dos feminicídios, que nos preocupam muito. Poderíamos oferecer nas delegacias aquele equipamento — que já oferecemos, mas esperando a decisão judicial —, que é uma espécie de celular, em que a vítima potencial possa acionar a polícia com maior rapidez. São várias questões relacionadas à segurança pública que têm uma pertinência muito grande com o uso de tecnologias.
“A partir do dia 8 de janeiro, como eu gosto de repetir, foram várias as vezes em que [os policiais militares] foram colocados à prova e se saíram muito bem”
O senhor tem alguma expectativa de adquirir equipamentos?
Dinheiro nunca tá sobrando, mas temos priorizado os nossos projetos e o uso de tecnologia realmente é muito importante para que a gente possa fazer a segurança pública, especialmente considerando que os nossos quadros estão menores do que foram um dia.
A vice-governadora Celina Leão enviou uma mensagem de reajuste de 18% para as forças de segurança. A expectativa é muito grande para policiais civis, militares e também integrantes do corpo de bombeiros, mas isso depende ainda de um aval do governo federal e do Congresso. O senhor acha que sai?
Acho que sai. Isso é de uma necessidade imensa. Não se trata de luxo e sim de necessidade. Quando fui secretário de Segurança Pública, de 2011 a 2014, à época o governador Agnelo (Queiroz) chegou a mandar um projeto, mas quando (esse projeto) chegou no governo federal, para poder equilibrar com a situação da Polícia Federal, o governo achou melhor, naquele momento, não dar o reajuste para a Polícia Civil e Polícia Militar, porque isso iria causar uma pressão grande das das polícias da União: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, etc. Enfim, hoje a defasagem é bastante grande. Para ter uma ideia, hoje, a Polícia Militar e a Polícia Civil considerando os 27 estados do Brasil, estão em 21º ou 22º comparados com salários dos demais estados. Então, esse reajuste é realmente uma questão de justiça e é uma necessidade.
É senso comum pensar que a polícia do DF é a mais bem paga, certo?
Isso é um passado distante. Realmente, foi o melhor salário. Havia uma equiparação da Polícia Civil com a Polícia Federal. Isso acabava puxando um pouco os demais salários, havia ali um um certo equilíbrio, mas esse é um passado distante. Há muitos anos que a Polícia Civil e a Polícia Militar têm salários muito mais baixos do que diversos outros estados que têm o custo de vida menor.
Não vai onerar o orçamento da União?
Tem recurso. Houve um superavit bastante grande do Fundo Constitucional no último ano. Então, há recursos para isso. Não é nada que vai prejudicar o orçamento da União.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira