Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação/PR
A ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, trocou um churrasco oferecido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a auxiliares do primeiro escalão na noite desta sexta-feira, 26, por uma confraternização na casa do novo presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires. A semana termina com Marina tendo de explicar sua permanência no cargo após ver sua pasta esvaziada pelo Congresso com o apoio do governo.
Em entrevistas, Marina disse que cabe ao presidente Lula demitir ministros. “A primeira pessoa que diz quem fica e quem sai é o presidente Lula, que convida”, afirmou Marina à CNN Brasil. “A melhor forma de ajudar o governo é estando dentro do governo, para viabilizar as políticas de combate ao desmatamento, desenvolvimento sustentável. Temos 19 ministérios com agenda do clima, bioeconomia”, disse.
Os rumores de que Marina poderia sair do governo se deram por causa da aprovação do relatório da comissão mista que avaliou a MP dos Ministérios. Quatro parlamentares petistas votaram a favor do texto, que retira da competência da pasta de Marina a gestão da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Cadastro Ambiental Rural (CAR). O Ministério dos Povos Indígenas, de Sônia Guajajara, perde a demarcação de terras para a pasta da Justiça, de Flávio Dino, caso o relatório seja aprovado em plenário.
A respeito do Congresso, a ministra disse que há “uma situação delicada, em que há uma maioria de parlamentares que gostaria de reeditar a estrutura e as políticas do governo anterior”, e reiterou que o governo Lula é “de frente ampla, e a frente ampla tem suas contradições”.
Na quinta-feira, 25, Lula discursou na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista, e minimizou o episódio. “Tem dias que a gente acorda com notícias parecendo que o mundo acabou. Eu fui ver o que estava acontecendo, era a coisa mais normal”, disse o presidente a empresários, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do vice-presidente Geraldo Alckmin. No dia seguinte, encontrou as ministras no Palácio do Planalto e marcou a confraternização no Alvorada.
Ainda durante viagem ao G-7, no Japão, Lula já havia sinalizado que poderia contrariar Marina a respeito da negativa do Ibama em conceder uma licença para a Petrobras perfurar jazidas de petróleo na foz do Rio Amazonas. O projeto colocou a titular do Meio Ambiente em rota de colisão com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Sobre a MP dos Ministérios, Marina diz há esforço para manter a estrutura do governo, conforme definido por Lula. “Uma vez eleito, (o governo) tem o direito de estabelecer as estruturas para fazer sua gestão. Há um esforço muito grande para manter a medida provisória”, disse a ministra. “A frente ampla tem suas contradições”, afirmou.
A ministra não deu detalhes sobre a conversa que teve com o presidente, mas sinalizou apoio ao petista. Questionada sobre a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP-30, Marina respondeu que o fato de o evento de 2025 ser realizado em Belém do Pará “é uma vitória do presidente Lula”.
Confraternização
Lula convocou os ministros para um churrasco na residência oficial da Presidência, retomando uma prática de suas gestões anteriores. O gesto é uma tentativa de abrandar o clima. Em entrevista à GloboNews, Marina justificou a ausência por estar na casa do novo presidente do ICMBio, onde também ocorria uma comemoração. De acordo com Marina, o convite para a festa na casa de Pires fora feito antes.
“Neste momento estou falando aqui na casa do Mauro Pires, que é novo presidentedo ICMBio, que também tinha feito aqui uma confraternização. E essa confraternização já estava combinada com todos os nossos servidores, celebrando que voltou o comitê de busca para escolha do presidente do ICMBio, que foi uma ação feita pelo presidente Lula, garantindo que a gestão das unidades de conservação não ficaria à mercê de indicações políticas”, afirmou a ministra.
Causou estranhamento no Congresso o fato de Lula não ter convidado os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). É justamente com o Legislativo com quem Marina trava a atual batalha. Desde o primeiro mandato, os churrascos são disputados entre autoridades e eram vistos como momento em que o presidente costumava distensionar relações.
Isabella Alonso Panho/Estadão
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