Encerrando a série de reportagens do Mês da Indústria, um tema que está cada vez mais presente na agenda industrial.
Quanto custa a economia circular? O empresário Hari Hartmann, da indústria têxtil baiana e presidente do Sindvest-BA, sindicato das indústrias do setor, defende que não há custos. A prática beneficia o meio ambiente, diante da redução de resíduos destinados aos lixões, beneficia comunidades e as empresas têm a oportunidade de exercitar cidadania, ao apoiar entidades que atuam na área social.
É o caso da Camisas Polo, empresa da indústria têxtil, da qual Hari Hartmann é CEO. A indústria destina as sobras de tecido para entidades assistenciais. “A gente não está fazendo nada de mais, o que custa doar retalhos de tecidos? Isso já está pago” explica. Para ele, “fazer economia circular é uma ação de cidadania”, diz.
Promover desenvolvimento econômico, associado a um melhor uso dos recursos naturais, menos dependência de matérias-primas virgens e a adoção de novos modelos de negócios, com a otimização dos processos de fabricação. É assim que se define economia circular, conceito que está na ordem do dia em todo o mundo e que busca o uso de insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis.
Numa revisão do conceito pela Organização Internacional de Normalização (ISO), economia circular “é um sistema econômico que utiliza uma abordagem sistêmica para manter o fluxo circular dos recursos, por meio da adição, retenção e regeneração de seu valor, contribuindo para o desenvolvimento sustentável”.
Na prática, além do exemplo citado por Hari Hartmann, em que os tecidos se transformam em estopas, produzidas por voluntários de uma creche de São Cristóvão, ganhando nova vida útil, há outras iniciativas de grandes indústrias.
ZERO ATERRO
É o caso do Complexo Acrílico de Camaçari, unidade de produção Basf. Por meio da implementação do programa Zero Aterro, o Complexo tem destinado 100% dos efluentes à compostagem, reciclagem e coprocessamento. A iniciativa já evitou que mais de 156 toneladas de resíduos fossem descartados nos aterros sanitários da região.
A Basf também mantém parceria com cooperativas e fornecedores de Camaçari e região e direciona o lixo industrial para coprocessamento, que é transformado em combustível para cimenteiras; o sanitário para a reciclagem e o lixo orgânico dos refeitórios para a compostagem.
Para Hari Hartmann, a mudança é reflexo da evolução dos negócios. “Há muito tempo a produção deixou de estar pautada no resultado econômico-financeiro. Pequenas ações, grandes resultados. É a nova economia que manda nisso”, afirma.
Gerente de produção da unidade de Camaçari, Murilo Cantu de Faria Gozzi explica que o site do Complexo Acrílico, implantado em 2015, já nasceu com os pilares de sustentabilidade e economia circular.
Para ele, há possibilidades antes inimagináveis quando o foco é uma melhor gestão de resíduos e uma gestão sustentável. “Produzimos resinas para tintas a partir de garrafas pet; dá para fazer energia a partir do vento e do sol, consumir e trazer energia de volta e encontrar alternativas para destinação dos resíduos gerados”, lista Murilo Gozzi.
Na opinião dele, trata-se de um caminho sem volta. “Percebemos que dá para cocriar com a cadeia, parceiros e clientes”, explica o gestor da Basf, lembrando uma meta ambiciosa: chegar em 2050 com geração zero de carbono. Até 2030, a meta é atingir uma redução de 25% na geração de carbono.
O compromisso de neutralidade de carbono da Basf representa um investimento global de $4 bilhões de euros, sendo que $1 bilhão até 2025 e $2 a $3 bilhões até 2030 (25%), o equivalente a 20% do faturamento global da gigante da indústria química mundial.
Na avaliação de Murilo Gozzi, esta preocupação com o meio ambiente chegou um pouco tarde no contexto da industrialização global. “Entendemos o impacto que geramos no meio ambiente e precisamos ter esta mentalidade. É um trabalho de gerações”, destaca. Para ele, “a Basf só está começando e é um caminho positivo para se chegar à neutralidade de carbono. O próximo passo é tornar este índice negativo”, acrescenta.
Nas atividades desenvolvidas com empresas parceiras e no coprocessamento, o engajamento social revela-se de fundamental importância. A Basf realiza iniciativas voltadas para as comunidades vizinhas à planta de Camaçari, que incluem ações de educação e consciência ambiental.
Reportagem na íntegra anexa.
https://www.fieb.org.br/noticias/economia-circular-ordem-dia-industria-baiana/ Foto: Divulgação