Solidariedade poética

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Há algum tempo li uma entrevista com poetas da nova geração e da geração anterior, e uma coisa que uma poetisa disse coincidiu com o que eu havia dito numa crônica recente.

Dizia ela, comentando sobre o fato de poesia vender pouco, de não ser publicada pelos editores das grandes editoras que, apesar disso, é um dos gêneros mais praticados. Escreve-se muita poesia. E dizia ela que, se a imensa quantidade de poetas desse imenso Brasil lessem poesia, além de escrevê-la, se comprassem livros de poesia, edições inteiras de livros desse gênero seriam esgotadas em pouquíssimo tempo. Se os poetas da região onde um lançamento estivesse acontecendo comparecessem e comprassem o novo livro, a edição esgotaria ali mesmo. E a poesia não teria, como tem, esse estigma de maldição.

Pois eu dizia, na minha crônica, que os escritores daqui da terrinha leem pouco os seus pares, não vão a lançamentos de livros de seus pares, não compram os livros de seus pares. Por isso me identifiquei tanto com a poetisa que teve a coragem de dizer, em rede nacional, que os poetas deveriam ler mais poesia, que poetas deveriam ser mais solidários, mais poetas, em seu próprio benefício. Pois quem prestigia é prestigiado.

Poesia é gênero literário mais praticado e não é de hoje. Com o advento da internet, com a democracia que ela representa na publicação da poesia que produzimos, passou-se a escrever ainda mais. É evidente que nem tudo tem qualidade, mas isso já foi assunto de outro artigo.

O fato é que existe uma quantidade muito grande de poetas, em todo lugar há poetas, quase todo mundo escreve “poemas” e alguns nem sequer contém poesia, mas há que haver um início para tudo. Só que nem todos leem poesia. Ou não leem nada. Até por isso, talvez, a pouca qualidade de boa parte do que se produz. Para se escrever melhor, há que ler muito. Sempre.

Se prestigiássemos uns aos outros, indo a lançamentos, comprando livros, as publicações de poesia realmente venderiam muito mais. Mas não é só pelo fato de vender mais livros, pura e simplesmente, se bem que isso já conferiria mais respeito ao gênero. A verdade é que precisamos ler mais, muito e sempre, como já disse. Se somos poetas, se gostamos de poesia a ponto de produzi-la, então temos que ler muita poesia. Precisamos ler, antes de escrever. Ler é necessário. Ponto.

Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor, cadeira 19 na Academia Sul Brasileira de Letras, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 43 anos de trajetória. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br

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